
A Verdadeira Imagem: Desvendando a Tensa Visita de Trump ao Reino Unido e Seus Efeitos Duradouros

A Verdadeira Imagem: Desvendando a Tensa Visita de Trump ao Reino Unido e Seus Efeitos Duradouros
A recente visita de estado de Donald Trump ao Reino Unido foi descrita por ele como um testemunho de uma relação “inquebrável” entre as duas nações. No entanto, por trás das pompas e dos discursos diplomáticos, o governo britânico, liderado pelo primeiro-ministro Keir Starmer, passou a semana em um delicado balé político. O receio era um só: qualquer deslize poderia minar a tão falada “relação especial” e, consequentemente, abalar o futuro de Starmer no poder. Este artigo desvenda o panorama político e as verdadeiras imagens que emergiram desse encontro de alto risco.
O Cenário de Tensão Pré-Visita: Desafios Internos e Externos
A chegada de Trump não poderia ter ocorrido em um momento mais delicado para o primeiro-ministro britânico. Dias antes, Starmer se viu forçado a demitir Peter Mandelson, embaixador britânico em Washington, devido à revelação de seus laços com o criminoso sexual Jeffrey Epstein. A prioridade de Starmer era garantir que a ausência de Mandelson não chamasse atenção para as próprias ligações passadas de Trump com Epstein (o ex-presidente afirmou ter cortado laços com o financista em meados dos anos 2000, não tendo mais contato antes de sua morte em 2019).
Para o governo, a meta era clara: nada deveria estragar a visita. Projeções de imagens de Trump e Epstein no Castelo de Windsor, na véspera de sua chegada, resultaram em prisões. O presidente foi mantido longe do público britânico para evitar confrontos com manifestantes. Até a imprensa parecia colaborar; em uma coletiva, Starmer foi questionado apenas uma vez sobre Epstein, desviando-se rapidamente do assunto. Tudo para manter a imagem de estabilidade.
O Acordo de Prosperidade Tecnológica: Uma Análise Crítica do Retorno
Com o fim da visita, o Reino Unido agora avalia o que realmente ganhou. Dois dias de ostentação e diplomacia de alto nível, mas qual o verdadeiro benefício? O que se destaca é o chamado “Tech Prosperity Deal”, prometendo £150 bilhões (aproximadamente US$203 bilhões) em investimentos de empresas americanas. Desse total, £31 bilhões viriam de gigantes da tecnologia para fortalecer a infraestrutura de IA e tecnologia do Reino Unido, e £90 bilhões da Blackstone, uma empresa de capital privado, ao longo da próxima década.
Desesperado por boas notícias econômicas antes do orçamento de novembro, o governo britânico celebrou o acordo, prevendo a criação de 7.600 empregos. Contudo, o ceticismo prevalece. Muitos desses investimentos já haviam sido anunciados e foram apenas “empacotados” para coincidir com a visita de Trump, como observou Olivia O’Sullivan, diretora do programa UK in the World no think tank Chatham House. Ela levantou sérias dúvidas sobre os detalhes e as concessões feitas pelo Reino Unido para manter esses laços tecnológicos.
Nick Clegg, ex-vice-primeiro-ministro britânico e ex-executivo de políticas da Meta, foi ainda mais contundente, descrevendo o acordo como “segundos restos do Vale do Silício”. Para Clegg, essa relação tecnológica coloca o Reino Unido em uma posição de “estado vassalo”, uma vez que continua a se agarrar às “barras da saia do Tio Sam”.
A visão de construir uma infraestrutura de IA robusta, como a idealizada pelo CEO da Nvidia, Jensen Huang (presente no banquete de estado), exige um aumento significativo na oferta de energia. Embora Trump tenha criticado os planos britânicos de interromper a perfuração de petróleo e gás doméstico, os países encontraram um terreno comum na energia nuclear, assinando um acordo para facilitar a construção de novas usinas.
Desafios Econômicos e A Geopolítica da Desunião
Apesar do otimismo, os benefícios econômicos desses acordos são de longo prazo. O’Sullivan enfatiza que a “prova estará no pudim” e que os benefícios tangíveis levarão tempo para aparecer. No curto prazo, a economia britânica permanece praticamente inalterada. Embora a tarifa de 10% de Trump sobre a maioria dos produtos britânicos seja menor do que a imposta à União Europeia, ainda é consideravelmente mais alta do que quando Trump assumiu o cargo. A esperada eliminação da tarifa de 25% sobre as exportações de aço britânico para os EUA foi adiada, empurrando a indústria siderúrgica do Reino Unido para a beira do colapso.
Na frente da política externa, Starmer conseguiu evitar grandes atritos. Trump expressou desacordo com o plano britânico de reconhecer um estado palestino, mas evitou críticas diretas. Da mesma forma, embora tenha lamentado a falha de Vladimir Putin em resolver a guerra na Ucrânia, Trump não se comprometeu a aumentar a pressão sobre o líder russo, condicionando qualquer ação à suspensão da compra de petróleo e gás russos pelos países da OTAN. A imagem de uma união forte em política externa não se concretizou.
O Legado de Uma Visita: Uma Política Mais Trumpiana no Reino Unido?
Um efeito inesperado da visita de Trump, e que pode mudar a imagem política britânica, é a ascensão de uma política mais “Trumpiana” no Reino Unido. Nigel Farage, líder do partido Reform UK, está superando o Partido Trabalhista de Starmer nas pesquisas, prometendo “Make Britain Great Again” e cortes radicais no estado. Farage tem pressionado o governo Labour sobre a imigração ilegal, um tema que causou desconforto a Starmer na coletiva de imprensa.
Quando questionado sobre seus esforços para conter a imigração ilegal na fronteira sul dos EUA, Trump aconselhou Starmer a “chamar os militares” para lidar com a questão na Grã-Bretanha. Esse conselho pode encorajar ainda mais a oposição de direita britânica. Essa visita, portanto, pode ter reforçado um panorama político já polarizado.
Conclusão: Missão Cumprida, Mas a Que Custo?
Se o objetivo de Keir Starmer era evitar qualquer gafe ou embaraço, a visita de estado de Donald Trump pode ser considerada um sucesso. No entanto, se a intenção era traduzir a anglofilia do ex-presidente em compromissos significativos de comércio e política externa, o Reino Unido pode, silenciosamente, sentir-se lesado. A verdadeira imagem dessa visita talvez seja a de um país que fez de tudo para agradar, mas recebeu muito pouco em troca de um futuro incerto.
Para mais informações sobre as relações internacionais do Reino Unido, consulte o Foreign, Commonwealth & Development Office (FCDO) do Reino Unido. Para uma perspectiva sobre a política externa dos EUA, visite o Departamento de Estado dos EUA.
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