mama awards 2025

Hong Kong, uma metrópole reluzente e um centro financeiro global, foi recentemente palco de uma tragédia que acendeu um alerta urgente sobre a segurança na construção civil. Incêndios devastadores em torres residenciais, especialmente no distrito de Tai Po, colocaram em xeque uma tradição milenar: o uso de andaimes de bambu. Este material, célebre por sua flexibilidade, baixo custo e sustentabilidade, agora se encontra no centro de um intenso debate sobre modernidade e segurança.
A Tradição Milenar e Seus Perigos Ocultos
É quase impossível caminhar pelas ruas de Hong Kong sem se deparar com edifícios envoltos em andaimes de bambu. Essa prática construtiva, que remonta à dinastia Han, há cerca de 2.000 anos, foi fundamental para a edificação de alguns dos arranha-céus mais icônicos da cidade, como a sede do HSBC, projetada por Norman Foster. Considerado um valioso patrimônio cultural de Hong Kong, o bambu tem sido, paradoxalmente, a estrela e o vilão desta recente crise.
“O bambu é definitivamente um material inflamável. Estamos em uma estação muito seca em Hong Kong, então a probabilidade de ignição do bambu é muito alta. Uma vez que ele pega fogo, a propagação será super-rápida.”
Xinyan Huang, professor associado da Hong Kong Polytechnic University
A inflamabilidade do bambu e sua tendência à deterioração ao longo do tempo têm sido objeto de crescente escrutínio, apesar do histórico robusto de segurança na construção de Hong Kong, garantido por materiais de alta qualidade e fiscalização rigorosa. No entanto, o incêndio em Tai Po, que ocorreu durante a reforma do complexo, cercado por andaimes e redes de segurança, revelou uma vulnerabilidade alarmante.
Investigação e Reação Governamental
As autoridades de Hong Kong agiram rapidamente, prendendo três indivíduos ligados à construtora, acusados de “negligência grave”. A causa exata do incêndio ainda está sob investigação, mas a presença de placas de poliestireno e outros materiais combustíveis que, supostamente, não atendiam aos padrões de segurança, é um foco central. O professor Xinyan Huang, da Hong Kong Polytechnic University, destacou que a orientação vertical dos postes de bambu permite uma propagação do fogo sem resistência, agravando a situação.
Em resposta à tragédia, o líder de Hong Kong, John Lee, anunciou inspeções em todos os andaimes de bambu da cidade e discussões sobre a transição para andaimes metálicos. Esta medida segue uma tendência de modernização; em março, o Development Bureau de Hong Kong já havia determinado que 50% dos novos projetos de construção pública utilizassem metal para “melhor proteger os trabalhadores” e alinhar-se aos padrões de cidades avançadas.
Tradição Versus Modernidade: Um Dilema Cultural e de Segurança
A discussão sobre o futuro dos andaimes de bambu não é nova. Dados do Departamento de Trabalho de Hong Kong revelam 24 mortes relacionadas a eles entre janeiro de 2018 e agosto de 2025, embora a maioria dessas mortes esteja ligada à segurança do trabalhador, e não a incêndios. O incidente de outubro, com outro edifício em chamas coberto por andaimes no centro financeiro, reacendeu o debate sobre os riscos de incêndio.
Nas redes sociais chinesas, a hashtag “Por que Hong Kong ainda usa andaimes de bambu” viralizou, com muitos sugerindo que a cidade siga o exemplo da China continental, que proibiu o uso de bambu em 2022. No entanto, a proposta de abandono do bambu enfrenta resistência local. Muitos moradores o veem como um patrimônio cultural essencial para a identidade da cidade, presente não só em arranha-céus, mas também em teatros temporários de ópera cantonesa.
O Caminho a Seguir: Lições Aprendidas
Embora a causa inicial de um incêndio seja importante, especialistas como Anwar Orabi, da Universidade de Queensland, argumentam que o mais crítico é entender como o fogo se espalha. “O que mais importa aqui é que o fogo conseguiu se espalhar para além do local e do edifício onde começou”, disse Orabi, traçando paralelos com a devastadora tragédia da Grenfell Tower em Londres.
A investigação em andamento em Hong Kong não só busca culpados, mas também visa garantir que as paredes externas dos edifícios e todos os materiais de construção atendam aos padrões de segurança contra incêndios. A tragédia de Tai Po serve como um doloroso lembrete da delicada balança entre preservar a tradição e garantir a segurança de seus cidadãos, impulsionando a metrópole a reavaliar suas práticas de construção e a buscar soluções inovadoras que honrem seu passado enquanto constroem um futuro mais seguro.
Compartilhar:


