
Escândalo Tim Westwood na BBC: Um Olhar Crítico sobre Bullying, Misoginia e Cynismo Corporativo

Na esteira do relatório explosivo desta semana sobre as alegações de *bullying* e misoginia envolvendo o apresentador Tim Westwood, emerge uma lição crucial: o cinismo corporativo que o sustentou. Mais de 30 anos se passaram desde que Tim Westwood ingressou na BBC, 12 desde sua saída, e três desde que jornalistas do The Guardian e da própria BBC noticiaram alegações de abuso contra o homem considerado a voz do *hip hop* pela emissora. Agora, em uma nova edição de “Relatórios Oficiais sobre Homens que Empregamos se Comportando Muito Mal”, uma série extensa e de peso da BBC, detalhes sobre as preocupações levantadas durante seus 19 anos de trabalho vieram à tona. A carreira de Westwood na Beeb terminou em 2013, em meio a uma enxurrada de acusações e um *déjà vu* incômodo que podemos resumir como “Oh, Deus, mais um não”. O relatório de 174 páginas é uma leitura essencial, não apenas pelo que revela sobre a BBC, mas, como frequentemente acontece com a mídia, pelo que diz sobre as atitudes na Grã-Bretanha. ## Testemunhos Dolorosos e o Silêncio Cúmplice Primeiramente, há os testemunhos dilacerantes de tantas jovens, principalmente mulheres negras, relatando abusos que as deixaram devastadas, culpando-se ou contemplando o suicídio. Muitas não perceberam a gravidade do comportamento até muito mais tarde e admitiram que não denunciaram na época por medo de não serem acreditadas ou serem responsabilizadas. As alegações mais graves foram ocultadas devido a investigações policiais em andamento. Westwood nega todas as acusações de comportamento inadequado e afirma não ter tido a oportunidade de respondê-las, em parte devido à investigação policial em curso. Em seguida, surge a aparente negligência em relação ao comportamento questionável de um homem considerado uma estrela e, em 1997, um dos dois únicos apresentadores da BBC que, segundo pesquisas internas, “causava impacto entre jovens ouvintes negros e asiáticos”. Além das inúmeras reclamações de *bullying* e assédio de funcionários juniores, que acabavam sendo transferidos em vez do “astro”, este escândalo revela uma faceta ainda mais perturbadora: os esforços condescendentes da BBC para se aproximar dos jovens, especialmente dos jovens negros e de minorias. Podemos chamar isso de “fator Ali G”. ## A Busca Desesperada por Relevância e o “Fator Ali G” Westwood, filho de um bispo anglicano e DJ de rádio pirata, com educação em escola particular, ingressou na BBC Radio 1 em 1994 para lançar o primeiro programa nacional de *hip hop* do Reino Unido. Ele era descrito como uma “força dominante” na música *rap*, um gênero popular entre os jovens, particularmente negros, que não ouviam a BBC. Os dois diretores da BBC Radio 1 durante o período de Westwood mencionaram a necessidade de a emissora atrair esse público. O diretor entre 1998 e 2001 descreveu Westwood como “bilíngue”, capaz de se comunicar com a gestão da BBC em uma linguagem que eles entendiam e também de se conectar “autenticamente” com um público jovem de minorias. A linguagem chula e os comentários sexualizados de Westwood eram, segundo um executivo da BBC citado no relatório, “uma espécie de caricatura *hip hop* fanfarrona”. Quando perguntado em 2017 sobre os destaques de seu tempo à frente da estação, Matthew Bannister começou com “O palco lotado de Westwood no Carnaval de Notting Hill”. Em resumo, a BBC contratou o filho branco e de classe média de um vigário, que imitava a linguagem vulgar dos *rappers* (e uma vez conheceu Notorious BIG e era, de certa forma, amigo de Pharrell Williams), em um esforço para aumentar a representação cultural e atrair ouvintes negros e asiáticos na emissora nacional. Pense nisso! Existe exemplo maior dos perigos de a emissora jogar a cautela ao vento para se aproximar dos jovens, jovens que ela sente que não são seus, que ela não entende, jovens que aparentemente fez pouco esforço genuíno para entender? ## A Urgência da Diversidade e a Cultura de Silêncio O relatório leva a muitas conclusões, mas uma que parece inescapável é o quanto a BBC ainda precisa de diversidade em seu quadro de funcionários. Deve ser óbvio que isso não significa garotos brancos e ricos de meia-idade fingindo ser negros. Significa mais pessoas de cor, algumas delas mulheres de minorias. O problema da sub-representação na mídia não é exclusivo da BBC e, pelo menos, a emissora tem feito progressos para melhorar. Em 2019, Lorna Clarke, uma mulher negra, tornou-se primeiro diretora de *pop* e depois diretora de música na BBC. Mas, apesar de uma meta de 20% de funcionários de minorias étnicas, apenas 17% de seus funcionários não são brancos. A resposta da BBC a este último relatório mostra que algumas coisas foram aprendidas desde a série de escândalos que remontam a Savile em 2011. Em uma declaração que delineou os processos alterados desde então e prometeu fazer melhor, a BBC admitiu que por muito tempo “esteve muito isolada [e] deferente a indivíduos de alto perfil”. Novos processos para reclamações para permitir que as alegações sejam analisadas em conjunto, em vez de fragmentadas, também estão em vigor. Uma revisão de sua cultura mais ampla lançada por Samir Shah, seu primeiro presidente de minoria étnica, bem como um ex-jornalista distinto, será produzida até o final deste ano. Esta revisão deve considerar a cultura de silêncio em torno do comportamento inadequado de muitos homens poderosos, alguns dos quais foram moldados e festejados pela BBC. Mas também deve abordar o pensamento preguiçoso que levou a este escândalo, este trauma – que continua para tantas vítimas – enquanto todos olhavam para o outro lado. O problema de dizer “não de novo” é que continuamos tendo que dizer isso. Jane Martinson é colunista do The Guardian.
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