
Incel: A Complexidade da Masculinidade Tóxica na Minissérie ‘Adolescence’ da Netflix

‘Adolescence’ da Netflix: Uma Imersão Perturbadora no Mundo Incel
Em meio a um mar de conteúdos questionáveis, a Netflix surpreende com ‘Adolescence’, uma minissérie britânica de quatro episódios que ascendeu rapidamente ao topo do ranking e se destaca como uma das melhores produções televisivas do ano. Escrita por Jack Thorne e Stephen Graham, a trama central gira em torno de um crime chocante: Jamie Miller, um garoto de 13 anos, é acusado de assassinar um colega de classe.
Cada episódio é filmado em plano-sequência, criando uma experiência imersiva que oscila entre o frenético e o intimamente insuportável. A série busca responder a uma questão crucial: como Jamie chegou a esse ponto? No entanto, ‘Adolescence’ transcende a mera investigação criminal, adentrando em temas muito mais profundos.
O Labirinto da Identidade Moderna na Era Digital
A televisão que aborda os efeitos da internet sobre os jovens pode ser desafiadora, correndo o risco de se tornar um mero ‘programa de conscientização’. No entanto, ‘Adolescence’ oferece uma reflexão valiosa sobre a construção da identidade moderna, a intrincada relação entre nossas personalidades offline e a vida online, e como essa dinâmica dificulta a compreensão das motivações e ações humanas.
A série não hesita em encarar essa complexidade, provocando uma sensação de sutil devastação que persiste mesmo após o término dos episódios. O primeiro episódio apresenta uma narrativa familiar aos fãs de ficção policial: a prisão de Jamie na manhã seguinte ao crime. A câmera acompanha os policiais, a família Miller (pai, mãe e irmã) e o próprio Jamie, interpretado de forma impressionante pelo jovem ator Owen Cooper. A dúvida paira no ar: seria um engano? No entanto, o Detetive Inspetor Bascombe (Ashley Walters) parece convicto de sua investigação.
Escolas como Palco de Frustrações e Desconexão
O segundo episódio se passa na escola de Jamie, onde os detetives Bascombe e Frank (Faye Marsay) interrogam os alunos sobre o relacionamento entre a vítima e o acusado. A escola é retratada como um ambiente caótico, repleto de alunos revoltados e professores desmotivados. A desconexão entre adultos e jovens é evidente, especialmente no que diz respeito à compreensão do universo online. A menção à ‘manosfera’ e a Andrew Tate ilustra a dificuldade dos adultos em acompanhar a linguagem e os códigos dos jovens na internet.
A Entrevista com a Psicóloga: Desvendando a Mente de um Jovem Radicalizado?
O terceiro episódio, considerado o ponto alto da série, acompanha a entrevista de Jamie com uma jovem psicóloga (Erin Doherty) em um centro de detenção. Cooper demonstra uma atuação notável, oscilando entre inocência, raiva e confusão. Jamie descreve os eventos online que o levaram ao crime, utilizando uma linguagem que remete a discussões tóxicas nas redes sociais. A psicóloga questiona suas motivações e a influência da ‘manosfera’ em seu comportamento. A série levanta a questão: o mundo é realmente cruel, como Jamie parece acreditar?
Os Fragmentos de uma Família Destroçada
No último episódio, a série retorna à família Miller, mostrando os preparativos para o aniversário de 50 anos do pai. No entanto, a atmosfera é de tristeza e desolação. A família enfrenta o preconceito e a hostilidade da comunidade. A série questiona: onde a família falhou? Onde Jamie se perdeu? A fragilidade da sanidade de Eddie se deteriora em fúria mal disfarçada e pânico, um estado de espírito que Stephen Graham é especialista em transmitir.
A força de ‘Adolescence’ reside na ausência de respostas fáceis. A série não se limita a ser um alerta sobre os perigos da internet. Ela transcende o medo e a ansiedade, abordando a fragmentação da sociedade e a forma como os jovens interpretam e reagem a essa realidade.
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