José de Abreu: O Retorno aos Palcos com ‘A Baleia’ e uma Entrevista Sem Papas na Língua

Após consolidar sua presença na televisão com papéis marcantes, como um bicheiro em “Volta por Cima” e a iminente estreia como coronel em “Guerreiros do Sol” (Globoplay), o renomado ator José de Abreu celebra um aguardado retorno ao teatro. Quebrando um hiato de mais de uma década, ele protagoniza a peça “A Baleia”, em cartaz no Rio de Janeiro.

No palco do Teatro Adolpho Bloch, José de Abreu encarna Charlie, um solitário professor de inglês que vive recluso. O desafio do papel vai além da interpretação dramática: para dar vida a um personagem com quase 300 quilos, o ator, que pesa 92 kg, passa por uma minuciosa e complexa caracterização. Isso inclui o uso de prótese facial e um figurino especial com enchimento, climatizado com bolsas de gelo para garantir conforto.

“A Baleia”: Do Teatro para o Cinema (e a Visão de José de Abreu)

A obra, escrita pelo dramaturgo norte-americano Samuel D. Hunter, mergulha em temas profundos como solidão, luto e intolerância religiosa. Ganhou destaque global com sua adaptação para o cinema em 2022, o filme “A Baleia” (The Whale), dirigido por Darren Aronofsky e estrelado por Brendan Fraser. A performance de Fraser rendeu-lhe o Oscar de Melhor Ator em 2023.

Convidado do programa semanal da coluna GENTE da VEJA, José de Abreu comentou a diferença entre as duas formas de arte, destacando a profundidade do texto teatral em comparação com a adaptação cinematográfica:

“Hollywood faz você entregar o jogo, entende? O filme entrega tudo, a peça é muito mais cheia de camadas, de intenções. Hollywood, quando lança um filme, é para todo mundo. Quando se escreve uma peça de teatro, você pensa nos espectadores de teatro. Uma peça não é para todo mundo… Uma peça é muito mais profunda do que o filme”.

Bastidores e Opiniões Fortes: Os Destaques da Entrevista de José de Abreu

Além de sua volta aos palcos, José de Abreu abordou em entrevista temas que transitam entre a política, relações pessoais e o cenário atual da teledramaturgia brasileira. Com a franqueza que lhe é peculiar, o ator não fugiu de temas polêmicos.

Sobre Política e Fake News

Ao comentar sobre a persistência de temas como a “cura gay”, ele criticou a apropriação dessas pautas por grupos políticos:

“Vira um assunto político, porque a direita se apossa dessas temáticas para atingir pessoas que são homofóbicas, né? Só pode ser isso. Como a história da mamadeira de piroca, nunca aconteceu isso. Foi uma invenção, uma fakenews que as pessoas gostam de acreditar”.

Relações com Colegas e Intolerância

A relação com colegas de profissão, especialmente aqueles com visões políticas divergentes, também foi pauta. José de Abreu expressou sua decepção com declarações homofóbicas, mencionando Cássia Kis:

“Uma coisa que me espanta muito é uma pessoa como a Cássia Kis, por exemplo, que fez declaração homofóbica, sendo que ela vive como eu, há 45 anos na Globo, sendo atendida por lésbicas, gays e outros LGBTQIA+ todo tempo. O nosso meio é muito liberal em relação a isso… A gente já bateu boca várias vezes (em cena), mas sempre com respeito mútuo”.

Ele foi enfático ao afirmar que não se relaciona com pessoas que manifestam preconceito, incluindo homofobia. Lembrou até de uma experiência pessoal nos anos 70, morando em comunidade com um casal gay, mostrando como a diversidade sempre esteve presente em seu convívio.

A Crise nas Novelas, Segundo José de Abreu

O ator também deu sua visão sobre a baixa audiência das novelas atualmente, comparando a postura dos autores de gerações anteriores com a atual:

“Os autores dessa geração dos 80, Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e tal, apesar das pesquisas da Globo indicarem um caminho, nem sempre eles seguiam. Eram autores de muita personalidade… Esse pessoal (de agora) muitas vezes batiam na mesa. ‘Não vou respeitar. Não vou fazer o que o público quer’. Vou fazer o que o público não quer, porque é uma outra maneira de você ganhar o público, né?”

Serviço: ‘A Baleia’ no Teatro Adolpho Bloch

Para quem deseja conferir o retorno de José de Abreu aos palcos e sua performance em “A Baleia”:

• Local: Teatro Adolpho Bloch
• Endereço: Rua do Russel, 804 – Glória, Rio de Janeiro
• Período: De 6 de junho a 20 de julho
• Horários: Quinta a sábado, às 20h; Domingo, às 18h
• Ingressos: De R$ 25,00 a R$ 160,00
• Indicação Etária: 14 anos
• Duração: 1h40

A entrevista completa com José de Abreu está disponível nos canais da VEJA no YouTube, no streaming VEJA+ e também em formato podcast no Spotify.