Katy Perry: De Ícone Pop a Alvo de Piadas – O Que Aconteceu Com A Estrela?

Katy Perry: A Queda Silenciosa de Um Ícone Pop?

No vasto universo da internet, poucas coisas unem as pessoas como um ‘vilão’ compartilhado. E quem diria que Katy Perry, a rainha dos hinos chiclete e visuais coloridos, se tornaria um alvo tão fácil de piadas e críticas? De repente, a estrela pop com milhões de discos vendidos e uma fortuna invejável parece não conseguir acertar uma, virando assunto até para marcas como o perfil do Wendy’s no X.

A participação de Katy Perry em uma breve viagem espacial financiada por Jeff Bezos em abril se tornou um dos pivôs dessa nova narrativa online, com comentários sarcásticos questionando seu retorno. Mas a internet é apenas o termômetro de uma situação mais complexa que envolve turnês mornas, álbuns que não engatam e decisões controversas.

A Turnê ‘Lifetimes’: Brilho em Apuros

Após sete anos longe das grandes turnês, Katy Perry embarcou na ‘Lifetimes’, percorrendo México, EUA, Canadá, Europa e Ásia. Mas, mesmo com casas cheias em algumas datas, a experiência parece marcada por momentos constrangedores. Em um show em Oklahoma City, por exemplo, a interação com uma fã mirim no palco, incluindo a oferta inusitada de comer parte de seu sapato temático, deixou a plateia confusa.

Outro percalço técnico, como o QR code para votação de músicas que simplesmente não funcionou, gerou um momento de visível decepção para a cantora. Esses pequenos incidentes, somados à percepção online de uma artista ‘desengajada’ ou ‘cansada’, pintam um quadro desafiador para a performer que sempre se destacou pela energia.

Os Desafios de Envelhecer no Pop

O envelhecimento na indústria da música pop é brutal e implacável. Vimos isso com Britney Spears, Jennifer Lopez e Madonna, que enfrentaram escrutínio público implacável sobre sua aparência, escolhas e performance. Estrelas pop acima dos 40 anos são um fenômeno relativamente novo em nossa cultura. Enquanto nomes como Beyoncé e (quase 40) Lady Gaga parecem navegar essa fase com mais fluidez, Katy Perry tem enfrentado um mar turbulento.

O Flop do Álbum ‘143’ e Decisões Polêmicas

O novo álbum de Katy Perry, ‘143’, é, indiscutivelmente, seu pior desempenho comercial desde o debut gospel sob o nome Katy Hudson em 2001. Estreando apenas na sexta posição da Billboard e sumindo das paradas em poucas semanas, ‘143’ contrasta drasticamente com o sucesso estrondoso de ‘Teenage Dream’ (2010), que passou 400 semanas nas paradas. Críticas especializadas, como a da Pitchfork que classificou o álbum como ‘espetacularmente flop’, reforçam a percepção de um trabalho sem brilho ou propósito claro.

Mas a maior polêmica e, talvez, o tropeço mais significativo na carreira recente de Katy Perry foi a decisão de retomar a colaboração com o produtor Dr. Luke. Luke foi acusado de agressão sexual e assédio por Kesha há mais de uma década, um caso que só foi resolvido fora dos tribunais em 2023 (leia mais sobre o acordo aqui). Trabalhar novamente com ele, especialmente em um álbum que inclui uma faixa sobre ‘empoderamento feminino’ (‘Woman’s World’), gerou forte indignação e questionamentos sobre a autenticidade de seu posicionamento público.

Contradições Políticas e a Perda do Humor Irônico

A imagem pública de Katy Perry tem sido marcada por contradições. Enquanto se apresenta como progressista e apoiou campanhas como a de Kamala Harris, ela transita nos círculos de bilionários como Jeff Bezos, que chegou a vetar um endosso de Harris em seu jornal. Sua decisão de votar em Rick Caruso, um bilionário com histórico de doações a grupos anti-aborto, nas eleições para prefeito de Los Angeles, também gerou estranhamento, dada sua postura pública pró-escolha.

Antigamente, o que diferenciava Katy Perry era seu senso de humor autodepreciativo e a ironia em suas músicas e performances. Ela não se levava muito a sério, e seu público ria *com* ela. Essa leveza, expressa em clipes caricatos e letras divertidas, parecia ter sido perdida em trabalhos mais recentes, que tentam abordar temas ‘importantes’ ou ‘conscientes’ de forma desajeitada ou, pior, condescendente.

A Visão dos Fãs Dedicados

Apesar das críticas e do ceticismo da internet, a base de fãs dedicada de Katy Perry, os ‘Katy Kats’, continua fiel. Em shows, como o de Oklahoma City, a energia da plateia que conhece todas as letras dos clássicos é inegável, mesmo que parte do público esteja ali por ingressos baratos ou curiosidade. Para esses fãs, a autenticidade e a disposição de Katy Perry em ser ela mesma no palco, mesmo que ‘desajeitada’ ou ‘não-perfeita’, ainda são qualidades admiráveis.

Eles veem o momento de dificuldade como uma fase, um reflexo dos desafios de uma carreira longa e complexa. Citam a força da artista em momentos pessoais difíceis, como a performance devastada após o término por mensagem de texto com Russell Brand, registrada em seu documentário ‘Part of Me’ (2012).

O Futuro de Katy Perry

O paradoxo de Katy Perry reside em sua capacidade de ainda lotar arenas e gerar paixão em seus fãs, mesmo enquanto sua relevância cultural parece diminuir para o público em geral e a crítica. Sua jornada recente, marcada por escolhas questionáveis e uma aparente perda do toque mágico que a conectava com as massas, levanta questões sobre como ela se reinventará (ou se o fará).

Talvez a própria artista já tenha a resposta. Um clipe recente antes de um show a mostra dando um pep talk à sua equipe: “Vocês sabem que isso é só um jogo divertido, certo? Não sejam tão sérios. Isso é entretenimento; isso é show business; estamos contando histórias. Vocês estão se divertindo. Vocês não precisam ser perfeitos… Quando vocês são perfeitos, considerem-se mortos. Não estamos mortos esta noite: estamos vivos.”

Essa fala pode ser uma aceitação pragmática da realidade: a de que, no fim das contas, o importante é o show, a conexão com quem está ali, e talvez não tanto a aprovação universal ou a busca por uma ‘perfeição’ inatingível na era da internet implacável. Katy Perry pode estar em uma encruzilhada, mas para seus fãs, ela ainda é a performer que entrega tudo no palco, mesmo com suas imperfeições.