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Lô Borges: A Eterna Melodia do Gênio do Clube da Esquina que nos Deixou

Lô Borges: A Eterna Melodia do Gênio do Clube da Esquina que nos Deixou

temp_image_1762176539.444835 Lô Borges: A Eterna Melodia do Gênio do Clube da Esquina que nos Deixou

Lô Borges: A Eterna Melodia do Gênio do Clube da Esquina que nos Deixou

É com profunda tristeza que a cena musical brasileira se despede de um de seus mais brilhantes arquitetos. Lô Borges, o talentoso cantor e compositor que cofundou o lendário Clube da Esquina, nos deixou aos 73 anos em Belo Horizonte. A notícia, confirmada pela família, marca o fim de uma era, mas o início de uma celebração ainda mais intensa de seu legado imortal na Música Brasileira.

A Despedida de um Gigante da MPB

Lô Borges estava internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) desde 17 de outubro, enfrentando um delicado quadro de intoxicação medicamentosa que exigiu ventilação mecânica. Após uma traqueostomia realizada em 25 de outubro, a esperança se mantinha, mas, infelizmente, o artista não resistiu. Sua partida, nesta segunda-feira (3), deixa um vazio inestimável, mas sua obra ecoará por gerações.

Ao lado de nomes como Milton Nascimento e Beto Guedes, Lô Borges moldou a identidade sonora de Minas Gerais e do Brasil, criando um universo particular de melodias e letras que transcendem o tempo.

O Legado Musical de Lô Borges: Canções que Habitam a Alma

A discografia de Lô Borges é um tesouro nacional, repleta de canções que se tornaram trilhas sonoras da vida de muitos brasileiros. Quem nunca se emocionou ao som de “Um Girassol da Cor do Seu Cabelo”, se perdeu na poética de “O Trem Azul” ou contemplou o mundo pela “Paisagem da Janela”? Estas são apenas algumas das joias lapidadas pelo mineiro, que demonstram sua maestria na arte de compor e interpretar.

Sua voz suave e suas harmonias inovadoras foram pilares fundamentais para o que viria a ser reconhecido como um dos movimentos mais significativos da MPB.

A Gênese de um Sonho: Santa Tereza e o Encontro com Bituca

Nascido Salomão Borges Filho, no bairro Santa Tereza, em Belo Horizonte, Lô era o sexto de onze irmãos. Uma mudança temporária para o Centro da cidade, aos 10 anos, foi o acaso que mudou sua vida para sempre. Foi nas escadarias do Edifício Levy, na Avenida Amazonas, que ele conheceu um vizinho mais velho, um jovem Milton Nascimento, carinhosamente conhecido como Bituca.

“Sentei na escadaria, dei de cara com um carinha tocando violão, era o Bituca. Eu tinha 10 (anos), e ele tinha 20. […] Fiquei vendo o Bituca tocando violão, e ele assim comigo: ‘Você gosta de música, né, menino?’”

Lô Borges, em entrevista ao programa Conversa com Bial (2023)

Pouco tempo depois, outra conexão crucial foi feita: o encontro com Beto Guedes, também com 10 anos, andando de patinete. Esses encontros seriam as sementes do que se tornaria o Clube da Esquina.

Clube da Esquina: Mais Que Um Grupo, Um Movimento Artístico

De volta a Santa Tereza, o lar da família Borges se tornou um ponto de efervescência criativa. Mesmo não sendo mais vizinho, Milton Nascimento frequentava a casa, e foi lá que a parceria mais célebre de Lô Borges tomou forma. “Tocou a campainha lá na casa da minha mãe, era o Milton Nascimento falando: ‘Cadê o Lô?’. ‘Ah, o Lô tá na esquina, num lugar que eles chamam de ‘clube da esquina’, ele está lá’”, relembrou Lô.

Nas esquinas das ruas Divinópolis com Paraisópolis, em BH, nascia o som que ecoaria pelo mundo. Em 1972, o movimento se materializou no álbum duplo “Clube da Esquina”, considerado, mais de 50 anos depois, o maior álbum brasileiro de todos os tempos. Sua grandiosidade foi reconhecida internacionalmente, sendo eleito o nono melhor disco de todos os tempos pela revista norte-americana “Paste Magazine”, em um ranking de 300 álbuns icônicos da história da música mundial.

No mesmo ano, Lô Borges lançou seu primeiro trabalho solo, o icônico “Disco do Tênis”, marcando o início de uma trajetória individual tão rica quanto a coletiva.

Pausa, Retomada e Novas Parcerias

O sucesso repentino fez com que Lô Borges se afastasse dos palcos por um tempo, buscando refúgio e inspiração em Arembepe, na Bahia. Mas a música nunca o abandonou. “Eu estava vivendo a minha vida, tocando violão, eu não parei de compor, as canções foram se avolumando na minha vida”, contou ele.

Em 1978, com maturidade renovada, retornou com “Via Láctea”, álbum que ele próprio considerava um de seus melhores. A década de 80 trouxe sua primeira turnê nacional com o disco “Sonho Real” (1984). Mais tarde, nos anos 90, a parceria com Samuel Rosa na inesquecível “Dois Rios” o trouxe novamente aos holofotes, mostrando sua versatilidade e capacidade de se reinventar.

Desde 2019, Lô Borges mantinha uma tradição admirável de lançar um álbum de inéditas por ano. Sua última obra, “Céu de Giz”, lançada em agosto de 2025 em parceria com Zeca Baleiro, é um testamento de sua paixão inextinguível pela música, um presente final para seus fãs.

Lô Borges: Uma Melodia que Jamais se Apagará

A perda de Lô Borges é, sem dúvida, um momento de luto para a cultura brasileira. Mas sua arte, suas composições e o espírito do Clube da Esquina continuarão a inspirar novas gerações de artistas e a embalar os sonhos de milhões de pessoas. Ele parte, mas a melodia de sua genialidade viverá para sempre em nossos corações e na rica tapeçaria da Música Popular Brasileira.

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