Manoel Carlos: A Novela Esquecida Que Veio Antes de ‘História de Amor’

Manoel Carlos: A Joia Esquecida Antes de ‘História de Amor’

Quando pensamos em Manoel Carlos, a imagem que frequentemente surge é a de um autor consagrado, mestre dos dramas urbanos e criador de Helenas inesquecíveis. O sucesso estrondoso de ‘História de Amor’, exibida originalmente em 1995, e suas subsequentes e populares reprises no Vale a Pena Ver de Novo, solidificaram seu status como um dos maiores nomes da teledramaturgia da Globo nos anos 90. Este período dourado viu Maneco emplacar, em um curto espaço de tempo, sucessos estrondosos no cobiçado horário nobre das oito:

• ‘Por Amor’
• ‘Laços de Família’
• ‘Mulheres Apaixonadas’

No entanto, antes de “História de Amor” catapultá-lo a esse patamar de “medalhão” da emissora, existe um capítulo em sua vasta carreira que, surpreendentemente, é pouco lembrado pelo público em geral, e por vezes, até pela própria Globo: a novela ‘Felicidade’.

‘Felicidade’: A Trama Anterior e Seus Segredos

Exibida entre outubro de 1991 e maio de 1992 no horário das seis, ‘Felicidade’ apresentava, sim, uma Helena, a personagem emblemática de Maneco, vivida pela talentosa Maitê Proença. Ao lado de Tony Ramos, que interpretava Álvaro, a novela narrava os clássicos encontros e desencontros de um casal predestinado.

A história começava na pacata Vila Feliz, uma locação fictícia no interior de Minas Gerais, e dava um significativo salto de tempo de oito anos, levando os personagens para a efervescente Rio de Janeiro. Na Cidade Maravilhosa, Helena enfrentava o desafio solitário de criar sua filha, Bia (interpretada na fase infantil por Tatyane Goulart), mantendo em segredo a verdadeira identidade do pai da menina. A aguardada revelação desse mistério, que só acontecia nos capítulos finais, garantiu momentos de grande emoção e viradas inesperadas que prenderam o público da época.

Elenco Marcante e Temas Fortes

‘Felicidade’ não foi apenas uma história de amor, encontros e segredos familiares. A novela marcou a estreia na televisão de uma atriz que se tornaria um rosto conhecido e querido pelo público: Vivianne Pasmanter, em um papel que a consagraria como uma grande intérprete de vilãs. Ela vivia Débora, a inesquecível noiva de Álvaro. No início da trama, a personagem, mimada e possessiva, se casava com ele e não media esforços para manter Helena afastada, protagonizando cenas intensas e dramáticas.

Outro ponto crucial e, infelizmente, atemporal da trama foi a abordagem de um tema difícil e necessário: a violência contra a mulher e relações abusivas. A personagem Tuquinha Batista (interpretada por Maria Ceiça), uma porta-bandeira, vivia um relacionamento violento com seu ex-namorado, Tide (Maurício Gonçalves), trazendo para a tela discussões importantes sobre um problema social que, décadas depois, ainda é extremamente relevante.

O Legado Esquecido?

Apesar de sua relevância temática, atuações marcantes e de ter sido o trabalho que antecedeu diretamente a fase mais gloriosa de Manoel Carlos na Globo, ‘Felicidade’ parece ter ficado, ao longo dos anos, à sombra do brilho de ‘História de Amor’ e das superproduções do horário nobre que vieram em seguida. Relembrar essa novela é mergulhar em um período de transição na carreira do autor e reconhecer a força e profundidade de suas narrativas mesmo em horários de menor apelo comercial na época.

Para os fãs de Manoel Carlos e da rica teledramaturgia brasileira, ‘Felicidade’ permanece como uma joia a ser redescoberta, um testemunho da versatilidade e profundidade dos temas que o autor sempre soube explorar com maestria, pavimentando o caminho para os grandes sucessos que viriam depois de ‘História de Amor’.