×

Maria Augusta: O Legado da Carnavalesca Que Deixou Sua Marca Na História do Carnaval

Maria Augusta: O Legado da Carnavalesca Que Deixou Sua Marca Na História do Carnaval

temp_image_1752256146.202458 Maria Augusta: O Legado da Carnavalesca Que Deixou Sua Marca Na História do Carnaval

Adeus a Maria Augusta: Um Ícone do Carnaval Que Pintou a Folia com Cores Inesquecíveis

O mundo do carnaval carioca se despede de uma de suas figuras mais emblemáticas. A carnavalesca Maria Augusta, celebrated for her unique vision and dubbed the artist of the “luxo na cor” (luxury in color), passed away this Friday, July 11, 2025, at the age of 83.

Com uma carreira marcada pela criatividade e por enredos que se tornaram antológicos, como “O Amanhã” e “Domingo”, Maria Augusta firmou seu nome no seleto panteão dos grandes criadores do carnaval, destacando-se em escolas lendárias como o Salgueiro e a União da Ilha. Sua abordagem, muitas vezes descrita como “bom, bonito e barato”, provou que a genialidade reside na paixão e na inovação, não apenas no opulência.

Dos Bastidores do Copacabana Palace para o Barracão do Salgueiro

A jornada de Maria Augusta no carnaval começou de forma quase inesperada. Em 1969, ainda aluna da Escola de Belas Artes (EBA) da UFRJ, ela auxiliava seu professor, o renomado carnavalesco Fernando Pamplona, na decoração do tradicional baile de carnaval do Copacabana Palace. Foi ali que Arlindo Rodrigues, outro gigante da folia, a convidou para ir ao barracão do Salgueiro.

“O Arlindo Rodrigues disse que eles estavam indo para o barracão do Salgueiro, pois o carnaval estava atrasado, e perguntou se eu queria ir junto. ‘Quero’, respondi. E fomos”, recordou Maria Augusta em entrevista. Aos 27 anos, ela recebeu a missão de decorar uma alegoria inteiramente branca, um desafio que a catapultou para o universo da criação carnavalesca.

A Artista da Cor: Criatividade e Estilo Único

Ao lado de mestres como Pamplona e Arlindo Rodrigues, Maria Augusta desenvolveu seu olhar apurado para as cores. Arlindo, em particular, a encarregou da preparação das tintas, lapidando a mestra em teoria da cor que nela habitava desde os tempos da EBA.

Nascia assim a carnavalesca conhecida pelos matizes fortes, sofisticados e harmoniosos – o “luxo na cor”, um estilo que se tornou sua assinatura e contrapôs-se ao “luxo do brilho” popularizado por Joãosinho Trinta. Sua obra refletia uma profunda compreensão do impacto visual e emocional das cores, transformando o desfile em uma tela viva.

Sua criatividade, simpatia e leveza foram pilares de seu trabalho, especialmente na União da Ilha, onde implementou o estilo “bom, bonito e barato”, conquistando o público com a singeleza e a poesia de seus enredos.

Grandes Enredos e Títulos Históricos

No Salgueiro, Maria Augusta contribuiu para uma era de ouro, assinando ou co-assinando enredos campeões que marcaram a história do carnaval carioca:

  • Bahia de Todos os Deuses (1969)
  • Festa para um Rei Negro (1971)
  • O Rei de França na Ilha de Assombração (1974) (ao lado de Joãosinho Trinta)

Nos anos 70, na União da Ilha, mesmo sem conquistar títulos, ela criou carnavais considerados inesquecíveis pela crítica e pelo público. “Domingo” (1977), nascido de uma memória afetiva de sua infância, e “O Amanhã” (1978) renderam sambas-enredo antológicos que ecoam até hoje na memória da folia.

Sua intuição e a crença de que “a obra é a intuição” guiaram suas criações, resultando em desfiles que, embora por vezes menos grandiosos materialmente, transbordavam originalidade e emoção.

Uma Mulher Pioneira no Panteão do Carnaval

Em um ambiente historicamente dominado por homens, Maria Augusta foi uma das poucas mulheres a ter seu nome “gravado no panteão dos grandes criadores do carnaval”. Sua trajetória quebrou barreiras e inspirou gerações, comprovando o talento e a força feminina na arte de criar desfiles.

Da Infância em São João da Barra à Espiritualidade

A paixão de Maria Augusta pelo carnaval teve raízes profundas em sua infância em São João da Barra, no Norte Fluminense. As festas populares da região, os bois Pintadinho e Jaraguá, os desfiles de rancho e caboclo, tudo isso moldou seu olhar para as cores e a celebração coletiva.

A espiritualidade também foi parte essencial de sua vida e obra, especialmente após trabalhar no enredo “Bahia de Todos os Deuses”. Filha de Xangô, ela encontrou na Umbanda e no Candomblé uma conexão profunda, refletida em seu uso de contas de proteção e roupas brancas, e em sua constante reflexão sobre a existência e o “amanhã”.

Legado e Reconhecimento

Além de Salgueiro e União da Ilha, Maria Augusta também deixou sua marca em escolas como Paraíso do Tuiuti (1980-1983), Tradição (1985) e Beija-Flor (1993), onde teve o desafio de substituir Joãosinho Trinta. Mesmo com o enredo “Uni-duni-tê”, inspirado no universo infantil e com uma estética mais leve, conquistou um respeitável terceiro lugar, provando sua versatilidade.

Seu legado foi celebrado em vida. Em 2022, o Prêmio Estandarte de Ouro a homenageou pelos seus 50 anos. Este ano, a escola mirim Aprendizes do Salgueiro a escolheu como enredo com “Uni-duni-tê, o Aprendizes escolheu você!”, um belo tributo à artista que dedicou sua vida a pintar de cores e sonhos a maior festa popular do Brasil.

A partida de Maria Augusta deixa uma lacuna imensa no carnaval, mas seu legado vibrante, colorido e cheio de intuição permanecerá vivo nas cores e na paixão que ela soube tão bem traduzir em desfiles memoráveis. Saiba mais sobre a rica história do carnaval carioca e seus grandes nomes.

Compartilhar: