
maria fernanda candido

Kleber Mendonça Filho: O Gênio Pernambucano que Conquista o Mundo com “O Agente Secreto”
No efervescente cenário do cinema contemporâneo, poucos nomes brilham com a intensidade e a autenticidade de Kleber Mendonça Filho. O cineasta pernambucano, que um dia “apenas queria fazer um puta filme”, transformou-se em um ícone global. Sua mais recente obra, “O Agente Secreto”, estrelado por Wagner Moura, chega às telas com um burburinho que raramente se vê em produções nacionais, solidificando ainda mais a posição de Kleber como um dos mais prestigiados diretores brasileiros.
A Ascensão de um Mestre Fora da Curva
A trajetória de Kleber Mendonça Filho é a prova de que a paixão e a consistência podem superar qualquer cálculo de mercado. Desde seu reconhecimento nas ruas do Recife — onde se diverte ao ser “reconhecido na padaria” — até os tapetes vermelhos dos maiores festivais de cinema, como Cannes, sua jornada é marcada por uma autenticidade inegável. Para Kleber, o sucesso global não foi uma estratégia pré-concebida, mas a consequência natural de um trabalho artístico visceralmente conectado à sua visão.
“O Agente Secreto”: Um Fenômeno que Encanta e Choca
A expectativa em torno de “O Agente Secreto”, que teve suas primeiras e eletrizantes exibições no tradicional Cinema São Luiz, no Recife, é palpável. O thriller político, que mergulha nas complexidades do Brasil com a performance magnética de Wagner Moura, gerou aplausos efusivos e gritos que ecoaram para além das salas. O filme, que Kleber descreve como “de mercado, mas não necessariamente projetado para ser assim”, exemplifica a rara habilidade do diretor em transitar entre o cinema autoral e o apelo popular, explorando o “abismo” muitas vezes ignorado entre eles.

A Assinatura Inconfundível: Brasilidade Sem Filtros
O estilo de Kleber Mendonça Filho é inconfundível. “O Agente Secreto” mantém sua marca registrada:
- Temas Caros ao Brasil: Aborda com coragem a violência e a corrupção do Estado e das elites, espelhando dilemas sociais profundos.
- Referências Pessoais e Locais: Mergulha na paixão pelos cinemas de rua – tema explorado em seu aclamado documentário Retratos Fantasmas (2023) – e lendas urbanas pernambucanas, como a misteriosa “perna cabeluda”.
- Humor Peculiar: Piadas e nuances de humor que, embora desafiadoras para tradução, reforçam a identidade cultural de sua obra.
Kleber não se curva às pressões externas, defendendo que a “assinatura própria” do artista é “comprada” pelo público através da consistência. Ele cita a banda Nirvana como exemplo: um grupo que conquistou o mundo sem jamais comprometer seu estilo.
A Escalada de um Sucesso Consistente
A ascensão dos filmes de ficção de Kleber Mendonça Filho é um testemunho de sua visão:
- “O Som ao Redor” (2013): Cerca de 100 mil espectadores, superando expectativas e provando o potencial de filmes “preteridos” por distribuidoras.
- “Aquarius” (2016): Ultrapassou 330 mil espectadores, gerando grande debate e reconhecimento internacional.
- “Bacurau” (2019): Atingiu cerca de 700 mil espectadores, um marco para o cinema autoral brasileiro, e se tornou um fenômeno cultural.
Agora, “O Agente Secreto” promete ir além. Com três troféus do Festival de Cannes (melhor direção, melhor ator para Wagner Moura e o prêmio da crítica) e 100% de aprovação no Rotten Tomatoes, o filme é o grande favorito para representar o Brasil no Oscar, impulsionado pela prestigiada distribuidora Neon.
O “Soft Power” Brasileiro em Evidência
O engajamento massivo dos brasileiros na internet amplifica o impacto de filmes como “O Agente Secreto”. A era das redes sociais transformou a forma como o mundo enxerga a produção cultural do país. O “Brazil mentioned!” – meme que celebra referências estrangeiras ao Brasil – encapsula o sentimento de orgulho nacional quando um artista, um atleta ou um filme ganha destaque global. Kleber Mendonça Filho reconhece que o cinema é uma poderosa ferramenta de “soft power”, revertendo a “síndrome de achar que está sempre ‘meio de fora'”. Ele lembra do impacto da foto de Fernanda Torres no Governors Awards do Oscar, ou do game designer Hideo Kojima vestindo uma camisa de “Bacurau”. O Brasil, consciente de sua imagem, vê no sucesso cinematográfico uma forma de afirmar sua identidade cultural no cenário mundial.
A Raiz Pernambucana e o Chamado de Hollywood
Apesar dos convites de Hollywood, Kleber Mendonça Filho permanece fiel às suas raízes, optando por fazer filmes sobre o Recife. “Faço isso porque sou do Recife. Queria que eu fizesse um filme na Barra da Tijuca, é?”, brinca, mantendo seu compromisso com a narrativa local que tanto ressoa globalmente. Sua arte é um lembrete de que a universalidade muitas vezes reside na profundidade do particular.
Kleber Mendonça Filho não apenas faz filmes; ele os vive, os respira e os projeta a partir de uma perspectiva genuinamente brasileira. Com “O Agente Secreto”, ele não só consolida sua reputação como um dos grandes nomes do cinema mundial, mas também reafirma a força e a singularidade da cultura brasileira, provando que um “puta filme” feito com paixão e autenticidade pode, de fato, conquistar o mundo.
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