
Mestre Siqueira: A Revolução do Cavaquinho Revisitada em ‘Inéditas do Mestre Siqueira’ de Léo Matheus

Mestre Siqueira: A Revolução do Cavaquinho Revisitada em ‘Inéditas do Mestre Siqueira’ de Léo Matheus
No vasto universo da música brasileira, alguns talentos brilham com uma luz tão singular que sua genialidade parece transcender o tempo. É o caso de Mestre Siqueira, um lendário cavaquinista cuja obra, por muito tempo um tesouro guardado, agora ganha novos contornos e audiências graças ao projeto “Inéditas do Mestre Siqueira”, idealizado pelo jovem e talentoso músico Léo Matheus.
Este artigo convida você a mergulhar na história de um mestre da música e no esforço apaixonado de um discípulo para eternizar um legado. Prepare-se para conhecer o impacto das composições de Siqueira e a importância de um projeto que celebra a inovação e a continuidade da cultura musical.
A Genialidade Inovadora de Mestre Siqueira
Para quem já teve o privilégio de ouvir Mestre Siqueira, a impressão é unânime: sua forma de tocar e compor o cavaquinho é simplesmente única. Iniciando sua jornada musical aos 13 anos, ele desenvolveu um estilo que Pedro Cantalice, do site Memória do Cavaquinho Brasileiro, descreve como “moderno”. O próprio Léo Matheus, que o descobriu através do site, confessa que foi a ousadia e a inventividade de Siqueira que o cativaram.
O mais impressionante é que grande parte desse vasto repertório de Mestre Siqueira vive apenas na sua memória. Ele não registra partituras, um fato que deixou Léo Matheus maravilhado durante sua pesquisa de TCC na Unesp. “Ele me apresentou um repertório maravilhoso de músicas dele, tudo na memória. Ele não escreve partitura, foi uma coisa que me impressionou muito, porque ele guarda todo o acervo dele na cabeça e tem isso na mão muito fácil”, relata Léo.
Léo Matheus: O Guardião de um Legado Musical
Com apenas 26 anos e uma década de carreira, Léo Matheus, nascido e criado em Itaquera, São Paulo, já é um nome respeitado na cena musical independente. Membro de grupos como Samba Sem Patente e Quarteto Fora de Contexto, além de diretor musical da cantora Ayô Tupinambá, Léo sentiu que era o momento de um projeto solo que, mais do que destacar sua própria arte, servisse como ponte para a obra de um ícone.
Foi essa admiração profunda pelo cavaquinista Siqueira que o motivou a lançar “Inéditas do Mestre Siqueira”. O objetivo é claro: registrar e apresentar a um novo público as pérolas musicais que Siqueira compôs ao longo de sua vida, mas que permaneceram inéditas ou sem registro formal. É um ato de reverência e um compromisso com a preservação da rica história do choro e do samba brasileiros.
“Inéditas do Mestre Siqueira”: Um Projeto em Ascensão
O projeto “Inéditas do Mestre Siqueira” tem se desenrolado em etapas, construindo uma expectativa crescente no cenário musical:
- O primeiro single foi lançado no início de 2024, seguido de um EP com quatro músicas em fevereiro.
- Em julho, outro single antecipou o segundo EP, que chegou às plataformas digitais em agosto.
- O álbum completo, com dez faixas (oito já conhecidas e duas totalmente inéditas), está previsto para setembro.
Este trabalho grandioso conta com a colaboração de diversos talentos da música paulistana, como Bill Davisonsz, Henrique Araújo, Javiera Hunfan, João Pellegrini, Kevin Augusto, Laura Santos, Paulo Novais e Toninho Ferragutti, enriquecendo ainda mais as interpretações das composições de Siqueira.
A Fascinante Trajetória de Mestre Siqueira
Nascido em Pernambuco, Mestre Siqueira, hoje aos 87 anos, teve sua paixão pela música despertada ainda na infância, observando os pais músicos. Sua persistência o levou a adquirir seu primeiro “violão pequeno” (o cavaquinho) anos depois, já no Rio de Janeiro, com o dinheiro de seu próprio trabalho. Uma jornada de dedicação que o levou a tocar ao lado de gigantes como Alcione, Elza Soares, Pixinguinha e a Velha Guarda da Mangueira.
Sua discografia inclui o álbum “Entre Nós” (2013), produzido por Pedro Cantalice, e outros dois discos solos, onde ele explora a versatilidade de choros, valsas, polcas, sambas e jongos. Essa versatilidade, contudo, nem sempre foi bem recebida. “A concepção harmônica dele sempre foi mais moderna. Ele se queixava que o pessoal não sabia os acordes das músicas dele. Até hoje, quando se toca músicas do Siqueira em roda de choro, as pessoas falam que são muito complexas”, explica Cantalice.
O Legado de Mestre Siqueira Continua: Uma Missão Cumprida
A percepção de que a música de Siqueira era “à frente do seu tempo” fez com que suas primeiras gravações só acontecessem quando ele já tinha 75 anos. “Precisaram passar gerações para que ele pudesse gravar as primeiras músicas. Conseguimos gravar três álbuns e depois disso conhecemos o mundo. Antes ele era Siqueira do Cavaco, depois disso virou Mestre Siqueira“, compartilha Pedro Cantalice.
Hoje, ao ver seu trabalho sendo interpretado e divulgado por uma nova geração através de Léo Matheus, Mestre Siqueira expressa um sentimento de missão cumprida. “A missão é essa, passar para as outras pessoas para que não deixem acabar”, reflete ele, confiante de que a música não morre, mas se transforma e se perpetua nas mãos dos que vêm depois. “Eu estava entregando [as músicas] a eles porque eu sabia que minha geração estava terminando. Mas eles vão dar continuidade, a música não acaba”, diz o mestre, com a sabedoria de quem já construiu um alicerce sólido.
O projeto de Léo Matheus não se encerra nos lançamentos digitais. Há planos ambiciosos para levar as “Inéditas do Mestre Siqueira” aos palcos de São Paulo e Rio de Janeiro, com a presença do próprio Mestre Siqueira. “Estou empolgado com a aceitação do público, muita gente vem acompanhando e perguntando quando lançam as próximas músicas, isso é gratificante”, afirma Léo.
A Música Como Construção e Perpetuação Cultural
Em uma bela analogia, Mestre Siqueira compara a música à construção: “Quando o povo começou a construir, era com pau a pique, depois vieram os tijolos. As coisas vão crescendo, vão aparecendo novos caminhos e novas estradas. Atualmente eu sou alicerce. Vocês vão fazer muitas coisas, mas não vão fugir do alicerce, ele é intocável. Sem o pau a pique, não existiriam os tijolos”, filosofa. Uma metáfora poderosa que ressalta a importância das raízes e da base sólida que sua obra representa para a música brasileira.
O projeto “Inéditas do Mestre Siqueira” é mais do que um tributo; é uma ponte entre gerações, uma celebração da inovação musical e um testemunho da capacidade da arte de se renovar, mantendo suas raízes firmes. É a certeza de que a genialidade de Mestre Siqueira continuará ecoando por muitos e muitos anos, inspirando novos músicos e encantando amantes do choro e da música brasileira.
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