Ney Matogrosso Chega à Netflix com ‘Homem com H’: Crítica do Filme Que Encantou o Brasil

O aguardado filme “Homem com H”, que mergulha na vida e na arte do singular Ney Matogrosso, já está disponível para os assinantes da Netflix. Após uma passagem marcante pelas salas de cinema, onde foi aplaudido de pé por mais de 620 mil espectadores – um fenômeno raro que remete à energia do teatro – a cinebiografia dirigida por Esmir Filho desembarca no streaming, pronta para conquistar um público ainda maior.

O filme, estrelado por um impressionante Jesuíta Barbosa, captura com maestria a essência despojada, sensível e arrebatadora de Ney, hoje aos 83 anos. O título, emprestado do famoso forró composto por Antônio Barros, ganha no longa a ressignificação que o próprio Ney, incentivado por Gonzaguinha, deu à música na década de 1980. O que poderia soar machista transforma-se, em sua voz e na tela, em ironia e deboche sobre as convenções de masculinidade.

Um Olhar Ousado Sob a Direção de Esmir Filho

Esmir Filho, conhecido por trabalhos mais experimentais como o curta “Tapa na Pantera” e o longa “Os Famosos e os Duendes da Morte”, injeta em “Homem com H” uma abordagem que o distancia das cinebiografias mais convencionais. Ele foge dos enquadramentos típicos da TV, explora a intensidade, especialmente nas cenas de sexo (incluindo uma sequência de suruba filmada com notável criatividade e sensualidade), e se permite usar metáforas e elipses narrativas.

Contudo, essa ousadia não compromete a conexão com o grande público. O filme é generoso ao apresentar os maiores sucessos da carreira de Ney Matogrosso, desde os tempos áureos dos Secos & Molhados com “Rosa de Hiroshima” e “O Vira”, passando por “Bandido Corazón” e “Não Existe Pecado ao Sul do Equador”. Os diálogos são claros e a estrutura, majoritariamente cronológica, com letreiros indicando época e lugar, facilita a compreensão da trajetória.

Das Origens aos Grandes Amores

A narrativa começa na infância de Ney em Bela Vista, Mato Grosso do Sul, abordando os dolorosos conflitos com o pai militar (vivido por Rômulo Braga) devido à sua sexualidade. A cena inicial, de um menino explorando a natureza, serve como uma bela metáfora para a trajetória de um artista sempre marcado pela coragem e desnudamento, tanto físico quanto emocional.

A performance de Jesuíta Barbosa é um dos pilares do filme. Ele encarna os trejeitos de Ney sem cair na caricatura, prestando uma homenagem respeitosa sem tentar imitar o inimitável timbre vocal do cantor. O filme percorre diversas fases da vida de Ney, incluindo o período na Aeronáutica e, claro, seus relacionamentos mais marcantes.

Um destaque é a forma como o filme retrata a relação de Ney com Cazuza (interpretado por Jullio Reis), diferente da ausência notável do cantor na cinebiografia de Cazuza de 2004. Aqui, Cazuza é um coadjuvante importante, ilustrando desde a paixão juvenil até a reflexão diante da finitude. Outras figuras essenciais, como os parceiros de Secos & Molhados (João Ricardo e Gerson Conrad) e o amor Marco de Maria, também são abordados.

Liberdade, Protesto e Legado

“Homem com H” ressalta o palco como o grande refúgio e válvula de escape de Ney, o lugar onde a máscara permitia a extravasão e a “desrepressão” do público. A trajetória de Ney Matogrosso é inseparável da luta pela liberdade e contra a caretice, um espelho dos embates sociais e políticos do Brasil, especialmente durante a ditadura militar.

Não à toa, o filme culmina com a potente “Eu Quero É Botar meu Bloco na Rua”, hino de protesto de Sérgio Sampaio, regravado por Ney em 2019. A cena final, com o próprio Ney no palco em um registro de 2024, cantando versos que reafirmam sua resiliência e desejo de expressão, sela a mensagem de longevidade e relevância do artista. O filme de Ney Matogrosso não é apenas uma biografia, mas um convite à reflexão sobre arte, identidade e liberdade.

Para saber mais sobre a vida e obra de Ney Matogrosso, visite a página na Wikipedia. Descubra mais sobre o elenco e produção de “Homem com H” em portais de cinema como o AdoroCinema.