Série ‘Tremembé’: Ullisses Campbell Desvenda o True Crime Brasileiro e Choca com Críticas ao Sistema Penal

A mais recente onda de discussões no universo do true crime brasileiro tem um nome: Série ‘Tremembé’. Disponível no Prime Video, esta produção documental, idealizada pelo renomado jornalista e escritor Ullisses Campbell, tem provocado intensos debates ao expor as entranhas do sistema penal do Brasil com uma dose cavalar de ironia e sarcasmo.

Campbell, uma figura já consagrada por suas obras que dissecam crimes reais de repercussão, defende a série como um “produto pop” que, longe de glamourizar criminosos, atua como um espelho incômodo da nossa sociedade. Mas por que essa série está gerando tanto burburinho e desconcerto?

Ullisses Campbell: O Mestre do True Crime Que Incomoda

Para quem acompanha o gênero true crime, o nome Ullisses Campbell é sinônimo de pesquisa aprofundada e narrativa envolvente. Autor de best-sellers como “Elize Matsunaga: a mulher que esquartejou o marido”, “Suzane: assassina e manipuladora” e “Francisco de Assis: o maníaco do parque”, Campbell é conhecido por sua proximidade com os temas e personagens que aborda. Não é raro que criminosos comecem a procurá-lo, interessados em ter suas vidas esquadrinhadas pelo jornalista.

Na série “Tremembé”, Campbell aplica a mesma metodologia rigorosa, mas com um toque autoral que busca desmistificar a visão romantizada ou simplista sobre o encarceramento. Ele ressalta que trata cada personagem com o mesmo respeito jornalístico, mas jamais abandona o olhar crítico. Essa abordagem, muitas vezes, confronta a expectativa do público sobre o que deveria ser uma narrativa de crime.

“Tremembé”: A Prisão dos Famosos e as Falhas do Sistema Penal

A penitenciária de Tremembé, em São Paulo, é um palco peculiar para a crônica policial brasileira, abrigando figuras notórias como Suzane von Richthofen, Elize Matsunaga e Alexandre Nardoni. A série “Tremembé”, assim como o livro homônimo lançado em setembro, mergulha na rotina desse complexo penitenciário, utilizando histórias emblemáticas para, nas palavras de Campbell, expor “com ironia e sarcasmo” as distorções e falhas do sistema penal brasileiro.

O autor enfatiza que a produção não se limita a contar a história de crimes brutais, mas sim a questionar as consequências do cumprimento da pena. Cenas que mostram a progressão de regime de alguns detentos, por exemplo, são usadas para ilustrar a complexidade e, por vezes, a ineficácia do sistema judicial. “A série expõe presos como o Alexandre Nardoni, que recebeu uma sentença de 30 anos e saiu da penitenciária depois de cumprir um pouco mais da metade da pena”, comenta Campbell, apontando para o que ele considera um escárnio da justiça.

O Espelho Inconveniente: Por Que o True Crime Brasileiro Incomoda Tanto?

Uma das defesas mais contundentes de Ullisses Campbell é a hipocrisia percebida na reação do público. Segundo ele, o brasileiro consome avidamente produções de true crime americanas sobre assassinos famosos como Jeffrey Dahmer, Ed Gein e Ted Bundy, sem questionamentos. No entanto, quando a lente se volta para a realidade local, o desconforto é palpável.

“O brasileiro fica muito à vontade para consumir true crime americano: são assassinos que estão muito longe, do outro lado do mundo. Mas quando a gente vira a lente para nós mesmos, as pessoas reagem de forma negativa.”

Campbell argumenta que o incômodo surge da percepção de que esses crimes acontecem “em nosso bairro, na nossa cidade, no mesmo país em que moramos”. Essa proximidade com a brutalidade e as falhas do sistema penal torna o espelho da série “Tremembé” mais difícil de encarar. A produção força uma reflexão sobre a própria sociedade, suas mazelas e a forma como a justiça é (ou não é) aplicada.

Bastidores e Polêmicas: A Verdade Por Trás das Histórias

A série também é rica em detalhes dos bastidores, resultado do extenso trabalho de pesquisa de Campbell. Um dos episódios que mais repercutiu foi o romance homoafetivo de Cristian Cravinhos e o famoso detalhe da calcinha. Ullisses Campbell, que já havia abordado o tema em seu livro, teve que provar publicamente os fatos após Cristian negar a história.

Essa dedicação à veracidade, mesmo diante de negações e controvérsias, é a marca do trabalho de Campbell, que estabeleceu uma relação de confiança com a população carcerária e funcionários do sistema. Sua coluna “True Crime” no GLOBO, por exemplo, é uma plataforma que consolida sua reputação e facilita o acesso a informações cruciais para suas investigações.

A série “Tremembé” é mais do que um mero documentário de crime. É uma provocação intelectual, um convite à reflexão sobre a justiça, a punição e a nossa própria sociedade. Ao assistir, prepare-se para ser confrontado por realidades que, embora próximas, muitos preferem ignorar.

Para quem busca um true crime brasileiro que vai além do espetáculo e mergulha nas questões estruturais, “Tremembé” é uma produção imperdível. Compartilhe sua opinião nos comentários: qual sua impressão sobre a série e a abordagem de Ullisses Campbell?