Angelina Melnikova: A Bicampeã da Ginástica que Desafia o Tablado e a Polêmica Global

A ginástica artística mundial testemunhou um retorno espetacular – e controverso – nos tablados de Jacarta. Angelina Melnikova, a estrela russa de 25 anos, sorriu com alívio e satisfação ao garantir a nota do solo que lhe conferiu o bicampeonato do individual geral no Mundial. Por um décimo, ela superou a talentosa americana Leanne Wong, reafirmando seu lugar no panteão dos grandes nomes da modalidade.

Este triunfo marca a retomada de seu posto de número 1 do mundo, após um hiato de três temporadas afastada das competições internacionais. Sua ausência foi uma consequência direta da suspensão da Rússia devido ao conflito na Ucrânia. Contudo, o retorno de Angelina Melnikova ao cenário global não ocorreu sem polêmica, competindo sob o status de “atleta neutra” – uma condição que levantou questionamentos dada sua afiliação a um clube militar e seu histórico de apoio ao presidente russo, Vladimir Putin.

O Brilho da Ginasta e o Status de “Atleta Neutra”

Desde os seis anos de idade no esporte, Angelina Melnikova defende o CSKA, um clube das forças armadas russas. Este vínculo é central para a controvérsia em torno de sua participação no Mundial. A Federação Internacional de Ginástica (FIG) reautorizou, neste ano, a volta de ginastas da Rússia e Belarus às competições internacionais, mas sob rígidas condições de “neutralidade”: sem bandeiras nacionais, sem vínculos empregatícios militares ou com agências de segurança, e sem apoio ativo ao conflito militar na Ucrânia.

O histórico de Melnikova, no entanto, desafia essa neutralidade. Em maio de 2022, ela posou com o símbolo “Z” – um lema pró-guerra russo – em uma parada militar em sua cidade natal, Voronezh. Além disso, a ginasta chegou a se engajar em campanha eleitoral pelo partido de Putin antes de retirar sua candidatura para focar no esporte.

Essa situação culminou em um protesto da delegação ucraniana na Copa do Mundo de Paris, onde se retiraram da competição devido à presença de Angelina Melnikova. A FIG, por sua vez, mantém-se neutra em relação a casos individuais, deixando o debate em aberto.

Mais que Atleta: Modelo e Empresária

Fora dos tablados, Angelina Melnikova é um fenômeno multifacetado. Após liderar a equipe russa ao ouro nas Olimpíadas de Tóquio 2021 – superando até mesmo a equipe de Simone Biles – ela se tornou uma estrela nacional. Essa fama abriu portas para uma carreira de modelo, onde ela estampa diversas campanhas publicitárias em suas “horas vagas”.

Mas seu talento vai além. Em 2018, com apenas 18 anos, Melnikova lançou sua própria marca de collants. Seu espírito criativo é evidente: “Sempre gostei de design. Pensei: ‘Por que não fazer collants? Sou uma ginasta ativa e sei tudo sobre eles.'” No próprio Mundial, ela brilhou usando um collant de sua criação.

Um Legado de Campeãs e um Futuro Incerto

Angelina “Gelya” Melnikova é herdeira de uma rica tradição russa na ginástica artística, que remonta à força e técnica da extinta União Soviética. Ela seguiu os passos de lendas como Aliya Mustafina e Svetlana Khorkina, entre outras que moldaram a história do esporte.

Com quatro medalhas olímpicas (mesmo fora de Paris), incluindo um ouro, e agora oito pódios em Mundiais (dois ouros, três pratas e três bronzes), seu currículo é inquestionável. Ela ainda tem disputas importantes em Jacarta, como as finais de barras e salto, onde é considerada favorita.

O retorno triunfal de Angelina Melnikova no Mundial de Jacarta reafirma seu status como uma das maiores ginastas de sua geração. No entanto, sua jornada continua intrinsecamente ligada aos desafios geopolíticos, tornando-a uma figura complexa – um prodígio da ginástica que navega entre o apogeu esportivo e as águas turbulentas da política internacional.

Para mais informações sobre o esporte e os Jogos Olímpicos, visite o site oficial do Comitê Olímpico Internacional (COI) e acompanhe as notícias sobre o conflito na região que afeta atletas em todo o mundo através de fontes como a BBC News Brasil.