
Fernando Diniz Abre o Jogo: Filosofia, Seleção Brasileira e os Bastidores da Carreira

html
Fernando Diniz é um nome que polariza o futebol brasileiro. Amado por uns, criticado por outros, o técnico se tornou sinônimo de um estilo de jogo ousado, marcado pela posse de bola e a polêmica “saidinha” desde os tempos do Audax. Em uma entrevista franca e reveladora, Diniz abriu o jogo sobre sua trajetória, os desafios em grandes clubes como São Paulo, Fluminense e Cruzeiro, e a complexa experiência na Seleção Brasileira.
A Essência da Filosofia de Jogo de Diniz
A identidade de Diniz como treinador foi moldada pela coragem de propor um futebol diferente. A famosa “saidinha”, que consiste em construir jogadas desde a defesa com passes curtos, ganhou destaque, mas também virou alvo de críticas ferrenhas. Diniz reflete sobre os rótulos e desmistifica a ideia de que seus times são proibidos de dar chutões ou usar bolas longas.
“Eu acredito que a única coisa que não tem no meu trabalho é inconsequência, eu sou um cara extremamente responsável.”
Para ele, sair jogando é o caminho mais curto e próspero para a vitória, não um mero capricho. Ele insiste que a bola longa também é treinada como alternativa, e que a coragem e disciplina são mais importantes do que ter apenas grandes jogadores para executar sua proposta.
Diniz se define como alguém que ama vencer, talvez mais do que aqueles que “só querem ganhar”. Sua visão vai além do placar final, focando no processo diário de trabalho e evolução. “Para você poder ganhar mesmo na vida, ser um p… vencedor, você não pode ter medo de perder”, afirma.
O Trabalho de Fernando Diniz no Fluminense e a Glória na Libertadores
A consagração veio com a conquista inédita da Conmebol Libertadores pelo Fluminense em 2023. Diniz relembra a campanha vitoriosa, destacando as circunstâncias únicas de um clube com a 11ª folha salarial do Brasil alcançando o topo da América.
Contudo, ele também analisa a dificuldade em manter o nível em 2024. A saída de jogadores importantes como Nino, a falta de reposição adequada (citando a tentativa frustrada por Luiz Henrique) e a “colheita dos frutos da vitória” em vez de focar no trabalho contínuo foram fatores que, em sua visão, impediram o time de engrenar e talvez iniciar uma era ainda mais vitoriosa.
A Complexa Passagem pela Seleção Brasileira
O convite para conciliar o trabalho no Fluminense com a Seleção Brasileira foi um momento ímpar na carreira de Diniz. Apesar de reconhecer que “não era o ideal” acumular as funções, ele viu a oportunidade de servir a nação. Sua passagem, porém, foi curta e marcada por resultados abaixo do esperado e uma demissão por telefone, classificada por ele como um “erro” na forma.
Diniz atribui as dificuldades na Seleção ao pouco tempo disponível, à transição de geração e gestão na CBF, e à falta de um ambiente ideal de trabalho (sem diretor de seleções na maior parte do tempo). Ele acredita que, com mais tempo de qualidade e dedicação exclusiva, o desempenho (que ele julga ter sido melhor do que os resultados mostram) teria se traduzido em vitórias.
Ele revela que a questão de Carlo Ancelotti era tratada abertamente, e que só soube da desistência da CBF quando foi demitido, decisão que, em sua visão, foi apressada e desrespeitosa na forma.
Relação Humana e o Desenvolvimento de Jogadores
Um dos aspectos mais marcantes do trabalho de Diniz é a ênfase na relação humana com os atletas. Ele acredita que o futebol é um meio para melhorar a vida das pessoas, tanto jogadores quanto torcedores.
Ele cita exemplos como John Kennedy, herói da Libertadores, e Gabriel Sara, destacando a importância de acolher talentos, mesmo aqueles considerados “fios desencapados” ou muito introspectivos. Diniz se orgulha de ter ajudado esses jogadores a amadurecer e acreditar em seu potencial.
Trabalhar com veteranos como Marcelo, Felipe Melo e Daniel Alves também exige uma abordagem especial. Diniz conta como se aproximou de Marcelo, que vinha de um período de baixa, motivando-o a resgatar sua carreira, o que resultou em atuações decisivas no Fluminense. “Todo mundo precisa de algum tipo de ajuda”, pontua, desmistificando a ideia de que jogadores experientes e bem-sucedidos não enfrentam desafios emocionais e mentais.
Ele lamenta a perda de muitos talentos no futebol brasileiro pela falta de acolhimento e base emocional, ressaltando a dificuldade em ser jogador em um ambiente de alta pressão e crítica constante.
Críticas ao Futebol Brasileiro e a “Saidinha”
Diniz não poupa críticas ao cenário atual do futebol brasileiro, que ele vê como focado excessivamente no resultado final e carente de racionalidade nas análises e decisões.
“As pessoas não te enxergam no futebol, as pessoas só enxergam o resultado do final do jogo.”
Ele argumenta que essa cultura leva à falta de paciência com projetos de longo prazo (citando o Fortaleza como exemplo positivo de persistência) e à demissão precoce de treinadores, desvalorizando o trabalho ético, talentoso e profundo.
O técnico também aborda temas como:
- A influência europeia: Embora reconheça a evolução tática na Europa, Diniz defende a valorização das características do futebol brasileiro (criatividade, drible), que ele acredita estarem se perdendo desde a base.
- Treinadores estrangeiros: É a favor da troca de experiências, mas critica a ideia de que estrangeiros são inerentemente melhores que brasileiros, ressaltando que poucos de fato deram certo no Brasil em comparação com o grande número que chegou.
- Apostas no futebol: Vê com tristeza os casos de manipulação, relacionando-os à falta de formação ética e moral dos jovens nas categorias de base, onde, segundo ele, o foco principal não é a educação integral.
- Redes sociais: Embora não as utilize ativamente, percebe o ambiente tóxico e de crítica constante que afeta jogadores e profissionais.
O Modelo Diniz e o Futuro
Seu modelo de jogo se baseia em três pilares: futebol de rua (liberdade e improviso), futsal (amarração tática e controle) e futebol de campo formal. Diniz menciona a “paralela cheia”, um conceito tático que ele desenvolveu para sobrecarregar um lado do campo, como uma de suas criações.
Sobre o futuro, Diniz busca um projeto onde haja um alinhamento mínimo com a direção, permitindo que seu trabalho se desenvolva mesmo nos momentos de pressão. Ele valoriza a coletividade e a capacidade de criar conexões para desenvolver o potencial dos jogadores e da equipe.
Atualmente desempregado após a passagem pelo Cruzeiro, Diniz afirma estar aproveitando o tempo para refletir e consolidar aprendizados. Fora dos gramados, ele se dedica à família, atuando como “auxiliar técnico” da esposa e motorista dos filhos.
A entrevista de Fernando Diniz revela não apenas a mente por trás de um estilo de jogo único, mas também um olhar crítico e humano sobre os desafios e as contradições do futebol e da sociedade.
Veja também:
- ▶️Cruzeiro vence o Vasco com gol de Christian e show de Cássio; veja lances
- ▶️Cássio chora após bom jogo pelo Cruzeiro e desabafa sobre críticas: “O ser humano está ficando doente”
- Dudu fora do Cruzeiro? Dono da SAF responde torcedor e indica saída do atacante; assista
Compartilhar: