Liudmila Samsonova em Wimbledon: A Estratégia Mental Única e os Dramas da Quadra

Wimbledon: Entre o Foco Mental e os Dramas Inesperados
Wimbledon, um dos torneios de Grand Slam mais emblemáticos do tênis, é sempre um turbilhão de emoções e eventos simultâneos. Para quem cobre o esporte, a atenção é disputada entre acompanhar partidas cruciais, coletivas de imprensa, buscar ângulos de história e, claro, escrever sobre tudo isso.
Em meio a essa intensidade, um anúncio chamou a atenção após a vitória de Liudmila Samsonova na quarta rodada. A tenista russa se dirigia para sua coletiva de imprensa e, sem nenhum outro foco imediato, decidi ir até lá. A expectativa era que ela enfrentasse Iga Swiatek na fase seguinte, e a adaptação de Swiatek à grama era um dos grandes temas do torneio feminino. Seria interessante ouvir a avaliação de Samsonova sobre o jogo da número 1 do mundo nessa superfície.
A Condição Inusitada de Samsonova: “Não Me Digam Quem Eu Enfrento”
Chegando à sala de entrevistas, uma coordenadora me parou. A condição para entrar era clara e um tanto surpreendente: Liudmila Samsonova, sentada a poucos metros, não queria que ninguém lhe dissesse quem seria sua próxima oponente em suas tão aguardadas primeiras quartas de final de um Major. Embora uma condição prévia para uma coletiva seja incomum e questionável do ponto de vista jornalístico, já estava ali e decidi participar.
Após perguntas mais amenas sobre sua recente vitória sobre Jessica Pegula em Berlim ou sua admiração por Maria Sharapova, decidi abordar a política inusitada de Samsonova. Ela explicou que adota essa postura “sempre, sempre” antes dos jogos, há alguns anos. “Isso me ajuda mentalmente”, revelou. “Não penso [na adversária] muito cedo, porque se eu pensar, começo a queimar minha mente. Eu penso demais, sabe?”
Os poucos jornalistas presentes conseguiram manter o segredo. Samsonova garantiu que evitar a informação em seu celular também era fácil: “As redes sociais não se importam comigo. Então, honestamente, não tenho esse problema agora, é fácil para mim”. Se você está lendo isso e a tentação surgir: por favor, não diga a Liudmila Samsonova quem ela joga na próxima rodada. Ela planejava descobrir na noite anterior à partida.
Contrastes na Preparação: Swiatek Precisa Saber, Samsonova Quer Ignorar
Depois que Iga Swiatek confirmou seu lugar nas quartas de final contra Samsonova, a curiosidade sobre sua reação à política da russa era grande. “Eu preciso saber, preciso me preparar”, disse Swiatek sobre suas oponentes iminentes. Ela já sabia que enfrentaria Samsonova.
“Mas ela não sabe que vai jogar contra mim?”, perguntou Swiatek, surpresa. Ao explicar que Samsonova não queria “pensar demais”, Swiatek demonstrou compreender a lógica. “Entendo”, respondeu ela. “[Mas] não temos tantos jogos assim para não saber, eu diria. Você não tem muitas opções nas quartas de final… Bem, em algum momento ela deve saber, certo? Porque ela precisa se preparar, certo?” “Eventualmente ela saberá”, respondi. Com um sorriso, Swiatek brincou: “Eu vou contar a ela!”.
Essa política, embora não seja algo inédito (Adrian Mannarino e até Serena Williams já a adotaram por um tempo), destaca a diversidade de abordagens mentais no esporte de alto nível. Ben Shelton, outra jovem promessa, compartilhou uma visão intermediária: ele não se incomoda em saber quem enfrenta, mas não quer pensar nisso por muitos dias seguidos, preferindo saber com um ou dois dias de antecedência para ter tempo de se preparar sem “ficar consumido” pela ideia. Como ele ressaltou, cada atleta tem sua própria maneira de lidar com a pressão.
Da Estratégia Mental ao Drama Físico: A Lesão de Grigor Dimitrov
Enquanto as conversas sobre preparação mental aconteciam, o drama se desenrolava em outra quadra. A partida entre Grigor Dimitrov e Jannik Sinner prendia a atenção. Dimitrov, o veterano búlgaro, estava dominando o favorito Sinner, vencendo por dois sets a zero e servindo em 2-2 no terceiro set, buscando uma vitória significativa em sua carreira.
De repente, após sacar um ace a 96 mph, Dimitrov levou a mão ao peitoral direito, agachou e sentou na grama. Ele já havia sentido a região antes, mas aquele saque pareceu causar uma lesão aguda e terrível. “Meu peitoral”, explicou Dimitrov a Sinner e à equipe médica, visivelmente com dor. A avaliação no banco confirmou o pior: ele não conseguia levantar o braço direito e até respirar era doloroso. “Meu peitoral se foi”, disse ele.
A cena era difícil de assistir. Roger Federer, na Tribuna Real, observava a dor de Dimitrov com expressão séria. Após tentativas frustradas de avaliação, a sugestão foi sair da quadra, algo incomum para lesões na parte superior do corpo. Dimitrov relutantemente concordou. Sinner, visivelmente impactado, esperou na quadra.
Ao retornar, ficou claro que a 59ª participação de Dimitrov em um Grand Slam acabava ali. Ao se dirigir à rede para cumprimentar Sinner e o árbitro, ele mal conseguia levantar o braço direito, usando a mão esquerda para auxiliar o movimento enquanto balançava a cabeça e lágrimas surgiam em seus olhos. Foi, de forma improvável e dolorosa, o quinto Grand Slam consecutivo de Dimitrov a terminar com uma aposentadoria no meio da partida.
Lesões no peitoral são difíceis de recuperar, e a idade de Dimitrov adiciona preocupação. O colega Thanasi Kokkinakis, que sofreu com uma lesão semelhante, tuitou: “Acabou com minha vida essa coisa nos últimos cinco anos. Ele tem que tirar um tempo para se recuperar direito”. Ver Dimitrov, um dos jogadores mais queridos do circuito por seu jogo e simpatia, quebrado pela lesão, lançou uma sombra sobre Wimbledon naquele dia.
Sinner, que avançou com um placar atípico (3-6, 5-7, 2-2 ret.), parou para ajudar Dimitrov a arrumar suas raquetes. “Não considero isso uma vitória de forma alguma”, disse Sinner na entrevista em quadra. “Este é apenas um momento muito infeliz de testemunhar para todos nós.”
A Própria Luta de Sinner
Embora não tão imediatamente debilitante quanto a de Dimitrov, Sinner também sofreu uma lesão aguda na partida. Ele escorregou e caiu no primeiro game, parecendo machucar o cotovelo direito. Seus golpes foram menos eficazes, e ele precisou de atendimento médico durante o segundo set.
“Senti bastante, especialmente no saque e no forehand”, disse Sinner sobre o cotovelo. “Podia sentir. Vamos ver. Amanhã vamos verificar para ver como está, e então veremos”. Questionado sobre como a ausência de seu fisioterapeuta pessoal (demitido na véspera do torneio) poderia afetá-lo, Sinner afirmou estar em boas mãos com a equipe do circuito e do torneio, mas deixou claro que a lesão era uma preocupação séria. “Aqui eles têm bons fisioterapeutas da ATP”, disse Sinner. “O médico é bom. Como disse, amanhã vamos verificar com ressonância magnética para ver se há algo sério, e então tentaremos ajustar”.
Assim, um dia em Wimbledon se desdobrou, mostrando a tênue linha entre o foco mental meticuloso de atletas como Liudmila Samsonova e a brutal realidade física das lesões que podem encerrar sonhos e partidas em um instante. A estratégia mental de Samsonova é fascinante, mas o drama no corpo de Dimitrov e Sinner relembrou a todos a fragilidade que acompanha a busca pela excelência no esporte.
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