
Myles Turner: 10 Anos de Jornada, Superação e Amor Pelo Indiana Pacers

Myles Turner: 10 Anos de Jornada, Superação e Amor Pelo Indiana Pacers
Em uma noite surpreendente, cercado por familiares e amigos em Dallas, fui pego de jeito por uma festa. O motivo? Celebrar meus 10 anos de carreira na NBA. E, sinceramente, eles conseguiram me surpreender de verdade.
Minha namorada sugeriu um encontro temático “Western” – algo que, para um texano como eu, é totalmente normal. Botei minhas botas, jeans e topei. No caminho, uma parada “rápida” na casa da minha irmã. O cenário? Um espaço de eventos no prédio. Entramos e… BAM! Festa completa, tema faroeste, minhas comidas favoritas, coquetéis, balões. E mais de 40 das pessoas mais importantes na minha vida, com chapéus de cowboy feitos pela minha mãe, gritando “SURPRESA!!!”. Fiquei sem palavras.
O Início da Reflexão: O Que Estamos Celebrando?
Celebrar algo assim, com quem me apoiou na jornada, é indescritível. Nunca vou esquecer. Mas confesso, também foi agridoce.
A festa era incrível, mas uma sensação incômoda crescia. Virei para minha namorada e soltei: “Isso é incrível. Mas… o que raios estamos celebrando?”.
A verdade? Nunca fui All-Star. Nunca fiz um All-NBA. Não ganhei anéis. Nem a divisão! E tínhamos quarenta e poucas pessoas, de chapéu, celebrando minhas conquistas com balões? Me senti um pouco envergonhado.
Mas então veio esta temporada. E agora, especialmente com a nossa corrida nos playoffs da NBA, tenho pensado muito naquela festa. E acho que finalmente entendi. O que estávamos celebrando? E do que eu tenho orgulho?
Não são apenas 10 anos na liga. São 10 anos em uma só cidade. São 10 anos com vocês. São 10 anos como um Indiana Pacer.
Uma Década em Uma Só Cidade: A Jornada em Indiana
E que jornada tem sido! Os primeiros anos, uma dinâmica estranha: eu, um novato no começo, e um time veterano no fim. Perdemos para Toronto, depois fomos varridos por Cleveland. O choque da transição da era Paul George para a reconstrução foi palpável na organização.
Quando Paul George foi trocado, eu era jovem demais para me abalar. Achava: “Reconstrução? Que nada, a gente dá um jeito”. E por um tempo, estávamos certos. Com Victor Oladipo e Domantas Sabonis, e um grupo guerreiro como Collison, Joseph, Thad Young, criamos química. Levamos LeBron James ao Jogo 7. Surpreendemos muita gente.
Mesmo após a lesão de Vic, continuamos na luta. Mas depois da “Bolha”, ficou claro: a reconstrução era real.
Nos Momentos Mais Baixos: Saúde Mental e Rumores de Troca
Foi aí que as coisas começaram a desmoronar pra mim. Perdíamos muito. E meu nome surgiu constantemente em rumores de troca. Ser um “asset” de troca na NBA é um nível alto, claro. Mas cobrar o preço na minha saúde mental.
Via comentários como “Myles Turner é um produto acabado”… Era difícil separar o jogador do ser humano. Pode parecer bobo ganhando milhões, mas eu era jovem e sou humano. E não tenho vergonha de dizer que fiquei bem deprimido.
Meus diários de 2021 são intensos:
- “Este é o ponto mais baixo da minha vida.”
- “Não sei como vou superar isso.”
- “Tudo isso vale a pena?”
Não foi um caminho linear, mas todos esses momentos difíceis se acumularam, criando uma escuridão da qual foi difícil sair.
Importante: Para qualquer jovem lendo isso que precise ouvir: sair da escuridão não é fácil, mas o primeiro passo é simples: pare de tentar sozinho. Procure sua gente. E sou eternamente grato aos meus: minha mãe Mary, meu pai Dave, minha irmã My’a, minha namorada Aysia, e minha equipe – Lavelt, Taylor, Vertima, Slim. Eles acreditaram em mim quando eu estava no fundo. Às vezes, tudo que você precisa é a crença de quem te ama. Comece por aí. Qualquer coisa, menos isolamento.
As Conexões Certas: Rick Carlisle e Tyrese Haliburton
Há um ditado na liga: “Você está sempre a um treinador de distância”. Com o treinador errado, sua carreira pode desviar. Com o CERTO, pode mudar sua vida.
Sendo de Dallas, conhecia Coach Carlisle pela vitória dos Mavs em 2011. Quando ele chegou aqui, me ligou e disse que viria a Dallas para treinar e conversar. A conexão foi imediata. Tínhamos a mesma paixão e a mesma “língua” de basquete. Jantamos e conversamos por horas. Ele não prometeu nada, mas disse: “Eu vejo seu valor. Quero você neste time. Acho que isso tem potencial.” Isso valeu ouro na época.
Sempre senti que nos Pacers faltava uma peça: um verdadeiro armador. E adivinhem? Ganhamos o mais verdadeiro de todos.
Quando trocamos por Tyrese Haliburton, eu estava me recuperando de uma lesão no pé e o observei do banco. Fiquei impressionado. Ver o impacto dele em jogadores como Goga Bitadze me fez pensar: “Preciso jogar com esse cara!”.
Naquele verão, me dediquei ao máximo ao meu corpo e à minha mente (com meditação e tempo na natureza). E na temporada seguinte? Pela primeira vez na minha carreira na NBA, senti que tinha 1) um treinador que acreditava em mim, e 2) um armador que facilitava meu jogo. Fui Myles Turner solto em quadra.
Meus números saltaram: de 13 ppg para 18, de 33% nos três para 37%, de 51% no geral para 55%. Mas era mais do que números. Era a primeira vez que senti ter “livre arbítrio no basquete”. Não me diziam o que *não* fazer, mas sim o que era *possível*. Pude usar minha inteligência e paixão pelo jogo de verdade.
O Time Somos Nós: A Cultura RUN dos Pacers
Apesar de bons momentos em 2022-23, as lesões nos pegaram. Mas nossa segunda metade ruim nos deu uma vantagem em 2023-24: as equipes nos subestimaram. Menos nós. Nós sabíamos.
Nossa viagem de pré-temporada a Nashville selou isso. Falávamos alto: “Ninguém vai querer nos ver este ano. Eles não conhecem nossa mistura de caras. Vamos fazer uma *run*.” E “RUN” virou nosso mantra: o time mais bem condicionado, mais rápido, com mais movimento de bola, menos isolações, mais fôlego da liga.
A liga percebeu rápido. Times poupavam estrelas contra nós, até brincando: “Não vou correr com vocês hoje!”. Ver times estabelecidos evitando nos enfrentar nos abriu os olhos: “Vamos jogar o ‘PACERS basketball’. Vamos recolocar Indy no mapa.”
No In-Season Tournament, fomos vistos como “bonitinhos, mas não sérios”. Nós sabíamos que aquela *run* era séria. Quando trocamos por Pascal Siakam, a reação foi similar: “Que legal para os Pacers, fazendo uma troca”. Mas nós sabíamos: nossa máquina de movimento de bola com um pontuador capaz de criar sozinho? Agora éramos “scary-scary” (assustadores).
Chegamos aos playoffs. Éramos para cair na primeira rodada. Não caímos. Contra os Knicks, com 0-2, nossa confiança era absurda. Eles não podiam sustentar o nível. Nós, sim. Isso é o que FAZEMOS.
Fomos varridos por Boston. Claro que dói. Mas no meu coração, achei que podíamos ter vencido. Poderíamos ter voltado a Boston com 3-1.
O Verdadeiro Valor: Fãs, Cidade e o Amor Pelo Jogo
Pode ter sido uma vitória moral, sim. Porque, mesmo com o fim, a temporada me REVITALIZOU. Me fez apaixonar pelo basquete de novo. A arte de um jogo, de uma temporada, de uma série de playoffs. São como quebra-cabeças complexos, ou um projeto LEGO gigante onde você constrói peça por peça. E em certo ponto, não é mais trabalho, é só DIVERSÃO.
Minha mentalidade mudou: de “Eu TENHO que fazer isso” para “Eu POSSO fazer isso”.
Em 2021, perguntei: “Tudo isso vale a pena?”. A resposta é: sim. Vale por muitas razões.
Vale pelos relacionamentos. Pensando nos 10 anos com os Pacers, a primeira imagem não é um companheiro, mas os fãs que vejo desde 2015. Crianças que cresceram, universitários que trazem seus próprios bebês. Estar nessa jornada com eles significou muito. Nos meus altos e baixos, muitos deles também viviam os seus. Não sei se os jogos dos Pacers resolveram tudo, mas me ajudou a ver aqueles rostos amigos e pensar: “Eles ainda estão aqui. Ok. Eu também estou.”
Vale pelo que está acontecendo em Indiana. Nós, o Fever na WNBA com Caitlin Clark, Kelsey Mitchell, Aliyah Boston… É a capital do basquete! Quantas cidades têm equipes empolgantes no masculino e feminino com uma torcida que apoia ambos com a mesma energia? Não são muitas.
Vale pelos meus companheiros: Andrew Nembhard, Aaron Nesmith, T.J. McConnell (que eu odiaria se estivesse do outro lado!), Benn Mathurin (incrivelmente destemido), Obi Toppin (prosperando aqui), Thomas Bryant (trazendo experiência e energia), Jarace Walker, Ben Sheppard, James Johnson (líder veterano). Não somos apenas estrelas ou profundidade; temos CLAREZA de papel. Somos um TIME. Um GRUPO.
Vale porque, tão divertida quanto foi a temporada passada, somos o “irmão mais velho” daquele time. Mais experientes, mais resilientes, mais duros. Passamos por mais batalhas juntos.
Vale porque, brincadeiras à parte, sou grato por estar aqui. Grato aos Pacers por apostarem num garoto de Bedford, Texas, que se sentia deslocado no colégio, foi chamado de “decepcionante” na faculdade. Grato pela resiliência para ser minha própria validação, meu próprio quebra-cabeça a ser construído, meu próprio produto “inacabado”. Grato por nunca deixar as pessoas erradas atrapalharem minha visão, e por sempre encontrar as pessoas CERTAS nesta cidade incrível. E por encontrar o time certo, na hora certa, para essa corrida nos playoffs.
Vale porque… simplesmente… EU AMO BASQUETE.
Amo muito. Faz sentido para mim. Me salvou. É perfeito.
Mas é um pouco melhor em Indiana.
Vamos ser um pouco melhores amanhã à noite.
— Myles
Conteúdo inspirado na carta de Myles Turner para The Players’ Tribune.
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