
Popó Freitas: A Resiliência do Tetracampeão de Boxe na Luta da Vida e na Era Digital

Popó Freitas: A Resiliência do Tetracampeão de Boxe na Luta da Vida e na Era Digital
Acelino Freitas, o lendário Popó, dispensa apresentações. Aos 49 anos, o tetracampeão mundial de boxe não vive apenas de recordações do passado. Com a mesma energia que o consagrou nos ringues, ele se reinventa na era digital, cativando novos públicos através do Fight Music Show (FMS) e confrontos midiáticos com celebridades como Whindersson Nunes e Kleber Bambam. Em uma conversa emocionante, Popó abriu o coração sobre sua jornada, das dificuldades da infância humilde na Bahia aos holofotes internacionais, passando por momentos de glória, percalços com empresários e a inabalável força da família.
Das Ruas de Salvador ao Sonho Mundial
A infância de Popó no bairro Baixa de Quintas, em Salvador, foi marcada pela pobreza. Cresceu em uma casa de apenas 10m², onde a família dormia no chão. A alfabetização veio de uma vizinha, e a paixão pelo boxe, inspirada pelo irmão Luiz Claudio, surgiu cedo. Popó relembra a convicção que o movia:
“Lembro que quando comecei a treinar com 12, 13 anos, escrevia no meu caderno: ‘Popó, campeão mundial’. Assinava para treinar meu autógrafo. Então, foi algo que desejei, que imaginei, não era ‘será que vai dar certo?’. Não, vai dar certo. Não tinha como não dar certo.”
Essa determinação o levou a conquistas no boxe amador, como a medalha de prata no Pan de Mar del Plata em 1995, cujo prêmio foi essencial para comprar um videocassete, seu sonho de consumo na época, para assistir às próprias lutas.
A Ascensão Meteórica e os Bastidores da Fama
O primeiro título mundial veio em 1999, com um nocaute avassalador. Popó se tornou o orgulho do Brasil, desfilando em carro de bombeiros em Salvador. No entanto, por trás da glória, os desafios eram grandes. Ele revela que, mesmo campeão mundial, ainda dormia no chão de sua casa, lutando para pagar as contas. Os primeiros anos da carreira profissional foram tumultuados por contratos desfavoráveis com empresários, que retinham a maior parte de seus ganhos. Essa batalha jurídica chegou a culminar em uma constrangedora prisão em Las Vegas.
“Fiz três lutas no Brasil e mais três lutas na Inglaterra, e fui notificado pela Justiça americana de que não poderia lutar em lugar nenhum do mundo… me prenderam. Me algemaram, me levaram para uma sala, uma cela, e fiquei mais ou menos três, quatro horas lá.”
A situação financeira só melhorou significativamente após romper com esses contratos, em grande parte, por influência e orientação de sua ex-esposa, Eliana Guimarães, a quem ele atribui papel fundamental em sua vida financeira e emocional.
Sua impressionante sequência de nocautes (29 consecutivos, superando o recorde de Mike Tyson na época) foi crucial para sua ascensão internacional, especialmente nos Estados Unidos. Popó se consolidou como um dos maiores nomes do boxe brasileiro, conquistando títulos importantes nas categorias peso super-pena e leve, unificando cinturões da Organização Mundial de Boxe (WBO) e da Associação Mundial de Boxe (WBA).
Lutas Memoráveis, Rivais e Respeito
Ao longo da carreira, Popó enfrentou grandes nomes. A unificação contra o campeão olímpico cubano Joel Casamayor em 2002 foi uma batalha épica. Sobre a polêmica de ter fingido sentir um golpe ilegal para ganhar vantagem, ele admite que fazia parte da estratégia do jogo, ressaltando a dureza da luta e a importância dos pontos em um confronto equilibrado.
Uma luta muito aguardada que nunca aconteceu foi contra Floyd Mayweather Jr. Popó conta que a negociação não avançou por decisão da equipe de Mayweather, que considerou o brasileiro um risco grande devido ao seu poder de nocaute e histórico invicto na época. Apesar de estilos diferentes (Popó nocauteador, Mayweather estrategista por pontos), o brasileiro admira a inteligência do americano nos negócios e na longevidade da carreira.
No Brasil, Popó teve atritos e reconciliações com ídolos como Éder Jofre e mantém carinho e respeito por outros nomes históricos como Maguila, Servílio de Oliveira e Miguel de Oliveira.
Derrotas, Família e Legado
Popó encarou as primeiras derrotas na carreira profissional (contra Diego Corrales em 2004 e Juan Díaz em 2007) com resiliência, reconhecendo o mérito dos adversários e a importância da decisão do treinador de jogar a toalha para preservar sua saúde física. Apesar da brutalidade do boxe, Popó afirma que nunca teve sequelas graves, atribuindo isso à disciplina, preparo e à orientação dos seus treinadores. Ele se cuida, não bebe, não fuma e mantém uma rotina intensa de treinos.
A família sempre foi o pilar de Popó. Ele fala com emoção sobre o pai, que o ensinou a ser guerreiro, o irmão Luiz Claudio, que foi sua inspiração no esporte e que se orgulha de ter contribuído para seu sucesso, e a mãe, Dona Zuleica, que, apesar de nunca ter concordado com sua profissão, sempre o apoiou e é famosa pela feijoada pós-vitória. Popó se orgulha de ter sido o provedor de sua extensa família, encarando isso como uma bênção, não um peso. Ele ajudou irmãos e familiares a terem casa e carro, e mantém todos próximos.
Com seis filhos homens, Popó viu cada um seguir caminhos distintos, muitos distantes dos ringues, como medicina, negócios e mídias digitais. Ele celebra as escolhas de seus filhos, como a recente formatura em medicina de Juan, que é homossexual. Popó lida com naturalidade e amor com a orientação sexual do filho, priorizando sempre a felicidade e o sucesso profissional deles.
A Política, a Era Digital e o Futuro no FMS
Popó teve uma breve incursão na política, sendo eleito deputado federal. Apesar das ‘regalias’, ele buscava espaço para ajudar o esporte, mas se frustrou com a falta de apoio e a dinâmica do meio.
A transição para a era digital com o Fight Music Show foi um divisor de águas. Antes, era o ídolo dos pais; agora, é reconhecido pelos filhos graças à exposição gerada pelas lutas contra influenciadores e celebridades. Ele enxerga o FMS como uma forma de reativar o interesse pelo boxe no Brasil e dar visibilidade a novos talentos. Popó reconhece o papel crucial de Whindersson Nunes nessa transição:
“Quando ele falou em cima do ringue: ‘pessoal, vamos seguir o nosso campeão Popó’, em dez minutos foram dois milhões de pessoas me seguindo no meu Instagram. Então, é o cara que digo assim, vou agradecer para o resto da vida.”
Ele expressa preocupação com a saúde mental do influenciador, alertando-o sobre as pessoas que o cercam, sugerindo que nem todos buscam seu bem. Essa nova fase não apenas rendeu notoriedade digital, mas também trouxe oportunidades financeiras com patrocínios ligados às redes sociais. Popó admite que não construiu seu patrimônio agora, mas a nova era permite ‘ganhar uma grana boa’ e manter um alto padrão de vida.
Acelino Popó Freitas continua mostrando a força do boxe brasileiro, adaptando-se aos novos tempos sem esquecer suas raízes e a importância da família. Sua história é um testemunho de superação, resiliência e a capacidade de se reinventar, dentro e fora dos ringues.
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