
Ricardo Drubscky: A História Inédita da Descoberta de Gilberto Silva e os Bastidores Explosivos do Futebol Brasileiro

Ricardo Drubscky: A Mente Versátil Por Trás dos Grandes Talentos do Futebol Brasileiro
No universo complexo e apaixonante do futebol brasileiro, poucas figuras transitam com tamanha versatilidade e sabedoria quanto Ricardo Drubscky. Com mais de quatro décadas dedicadas ao esporte, ele acumula experiências como preparador físico, auxiliar técnico, coordenador, diretor esportivo e, claro, treinador. Em uma conversa reveladora, Drubscky abriu o livro de sua trajetória, desvendando segredos dos bastidores e histórias inéditas que moldaram grandes nomes, incluindo a descoberta de um dos maiores volantes da história da Seleção Brasileira: Gilberto Silva.
A Paixão que Moldou Uma Carreira de Sucesso
A dedicação de Ricardo Drubscky ao futebol é um capítulo à parte. Ele confessa que a bola o fez perder momentos importantes da vida familiar, como o nascimento dos filhos, mas a paixão sempre falou mais alto. “Minha vida é o futebol e a família. O futebol ganhou muitas vezes, muito mais vezes que a família porque eu me entreguei muito”, revela. Essa entrega, porém, veio acompanhada de desafios intensos, como a gestão de vestiários repletos de egos e a pressão constante por resultados.
Conflitos no Vestiário: A Tensão com Valdir Bigode no Atlético-MG
Em 1999, no Atlético-MG, Drubscky vivenciou um dos episódios mais tensos de sua carreira, um confronto quase físico com o atacante Valdir Bigode. O treinador, então com 39 anos, buscava impor disciplina, mas enfrentou a intolerância do jogador.
“O jogador foi intolerante. Ele interferiu muito. Eu, com o meu jeito de querer disciplinar, não tive o respaldo que eu merecia. Nós íamos sair para o braço”, relembra Drubscky.
O episódio, ocorrido no Centro Esportivo Universitário (CEU) em Belo Horizonte, escancarou a complexidade da gestão de grupo e a falta de respaldo que muitos técnicos enfrentam no volátil cenário do futebol nacional.
Gilberto Silva: A Joia Desacreditada que se Tornou Lenda Mundial
Entre as inúmeras histórias de Ricardo Drubscky, a mais notável é, sem dúvida, a revelação de Gilberto Silva. O volante, que viria a ser campeão do mundo em 2002 e ídolo do Arsenal, chegou para um teste no América-MG desacreditado, após ser reprovado em categorias de base e no limite da idade para o sub-20.
Contrariando a orientação de dispensá-lo rapidamente, Drubscky percebeu algo extraordinário no jovem tímido e discreto. “Eu falava com meu preparador físico, que era o Enderson Moreira. Enderson, esse menino não erra”, conta. A precisão nos desarmes, a tranquilidade com a bola nos pés e o tempo de bola impecável chamaram a atenção do técnico.
A visão de Drubscky foi crucial para o desenvolvimento de Gilberto Silva. Ele foi decisivo na campanha da Copa do Mundo de 2002, entrando no lugar de Juninho Paulista e formando uma dupla sólida com Kléberson, que deu estabilidade e liberdade aos laterais e aos “Rs” (Ronaldo, Rivaldo, Ronaldinho Gaúcho) da Seleção. Sua capacidade de roubar a bola sem cometer faltas e sua discrição em campo lhe renderam o apelido de “paredão invisível”, cunhado por ninguém menos que Arsène Wenger, que o levou para o Arsenal.
“Ele não é aquele cara que dá um carrinho e trinca os dentes. Ele chega ali, rouba a bola e toma fulano. Ele é fantástico. Esse camarada me deu um orgulho muito grande de ter participado dessa trajetória com ele”, orgulha-se Drubscky ao falar sobre o talento de Gilberto Silva.
Lições de Uma Carreira Rica: Demissões Inusitadas e Títulos Inesquecíveis
A Demissão no Vestiário do Villa Nova-MG
Mesmo após mais de 40 anos de carreira, Drubscky viveu uma experiência inédita no Villa Nova-MG: foi demitido ainda no vestiário, logo após uma goleada de 6 a 1. “Mandar no vestiário eu acho que tempera ainda mais a malvadeza do futebol brasileiro, a perversidade do futebol brasileiro. Foi muito chato”, lamenta, destacando as condições precárias e a falta de estrutura inicial no clube.
Tupi 2011: O Título Nacional Inesperado
A conquista do Brasileirão da Série D de 2011 com o Tupi é um dos grandes orgulhos de Drubscky. Com um elenco de baixo custo e estrutura simples, o time de Juiz de Fora superou orçamentos muito maiores, como o do finalista Santa Cruz. “O Tupi é um case a ser admirado, mas não copiado”, explica, ressaltando a união do grupo e o ambiente positivo como fatores decisivos.
Pressão no Galo e a Perversidade do Sistema
Drubscky também recorda os meses de enorme pressão como diretor de futebol do Atlético-MG em 2004, quando o time flertou com o rebaixamento. A tensão era tanta que ele precisava correr para casa após os jogos para não ser hostilizado por torcedores. “Se não mudarmos essas coisas, esse detalhezinho da ética do treinador é uma mentira. Os treinadores vão ser contactados. Vai sempre existir enquanto for dessa forma”, critica, expondo a fragilidade dos profissionais no sistema futebolístico.
Mentores e Inspirações: De Carlos Alberto Silva a Guardiola
Ricardo Drubscky se considera um “coroa muito atualizado” e sempre em busca de aprendizado. Ele cita três grandes mentores que moldaram sua visão do futebol:
- Carlos Alberto Silva: Primo e ídolo de infância, um líder com mais de 50 títulos na carreira.
- Telê Santana: Admirado pela coerência de seu discurso e a capacidade de fazer seus times jogarem um futebol técnico e de fair play.
- Pep Guardiola: Nos últimos 20 anos, Guardiola transformou o futebol, e Drubscky teve a oportunidade de visitar o CT do Barcelona para entender sua metodologia.
A Essência do Professor e o Futuro no Futebol
Com dois livros publicados e um curso sobre “Jogo Moderno para o Futebol Brasileiro”, Ricardo Drubscky reforça sua veia de professor. Para ele, o treinador é um educador que idealiza e ensina uma maneira de jogar, mesmo para craques. “O Mourinho já dizia que nunca teria pretensão de ensinar o Cristiano Ronaldo a jogar bola, mas o Cristiano Ronaldo tinha que aprender a jogar o jogo dele”, exemplifica.
Apesar de uma carreira repleta de desafios e conquistas, Drubscky ainda sonha alto. “Falta muita coisa. Eu quero trabalhar em clube gigante de novo. Ganhar título”, afirma, mostrando que a paixão que o levou a abrir mão de tanto ainda o impulsiona a buscar novos capítulos em sua notável trajetória no futebol brasileiro.
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