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Acordo Comercial EUA-Vietnã: Trump Avança em Negociações e o Cenário para o Brasil

Acordo Comercial EUA-Vietnã: Trump Avança em Negociações e o Cenário para o Brasil

temp_image_1751496710.978223 Acordo Comercial EUA-Vietnã: Trump Avança em Negociações e o Cenário para o Brasil

Estados Unidos e Vietnã Selam Novo Acordo Comercial em Meio a Prazo de Tarifas

O cenário do comércio internacional ganhou um novo capítulo nesta quarta-feira (2). O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou que o país firmou um importante acordo comercial com o Vietnã.

Anunciado a menos de dez dias do vencimento do prazo para a suspensão de uma série de tarifas recíprocas, este é apenas o terceiro acordo bilateral firmado pelos EUA sob a gestão Trump até o momento, destacando a complexidade das negociações globais.

Detalhes do Acordo entre EUA e Vietnã

Segundo informações divulgadas por Trump, o acordo é fruto de extensas negociações com o secretário-geral do Partido Comunista do Vietnã, To Lam. Os termos principais definem:

  • Os EUA aplicarão uma tarifa de 20% sobre produtos importados do Vietnã.
  • Uma taxa adicional de 40% incidirá sobre a prática de transshipping (transferência de produtos entre meios de transporte no trajeto).
  • Em contrapartida, o Vietnã concederá aos Estados Unidos acesso total aos seus mercados comerciais.

A tarifa de 20% imposta pelos EUA é significativamente inferior à taxa de 46% inicialmente considerada por Trump em abril. Em uma publicação em sua rede social, o presidente americano celebrou o acordo, afirmando que a abertura do mercado vietnamita permitirá que produtos dos EUA sejam vendidos com tarifa zero no país asiático.

O Vietnã é reconhecido como um estratégico polo global de manufatura, atraindo grandes empresas pela sua mão de obra qualificada e custos competitivos. Companhias como Nike, Apple, Samsung e Intel estão entre as gigantes que possuem operações fabris no Vietnã com foco em exportação para os Estados Unidos.

O Contexto Global e Outras Negociações

Apesar do acordo com o Vietnã, a proximidade do fim da pausa de 90 dias nas tarifas americanas revela um ritmo lento nas negociações. Além do Vietnã, os EUA firmaram apenas outros dois acordos notáveis:

  • Reino Unido: Anunciado em maio, envolveu o realinhamento de cotas e a redução de tarifas, com os EUA mantendo 10% sobre produtos britânicos e o Reino Unido reduzindo suas taxas e ampliando o acesso para produtos americanos.
  • China: Um consenso foi alcançado no início de junho, mas o acordo ainda aguarda aprovação oficial. Os termos incluem 10% de tarifa chinesa sobre produtos americanos e 55% de tarifa americana sobre produtos chineses.

Esses acordos, embora importantes, não abrangem a vasta maioria dos mais de 180 países inicialmente afetados pelas tarifas americanas anunciadas em abril. Especialistas apontam dificuldades diplomáticas e o redirecionamento de esforços para questões geopolíticas, como o conflito no Oriente Médio, como fatores que têm desacelerado as tratativas.

Frederico Nobre, gestor de investimentos da Warren, observa que há uma dificuldade intrínseca dos EUA em fechar acordos amplos, seja por política comercial ou geopolítica.

O Cenário para o Brasil: Tarifas e Negociações em Andamento

Para o Brasil, o impacto das tarifas americanas, inicialmente fixado em 10% para a maioria dos produtos, ganhou contornos mais específicos e preocupantes no setor de aço e alumínio. Em vigor desde o início de junho, as tarifas para estes produtos estratégicos foram elevadas de 25% para 50% por decreto presidencial nos EUA. O Brasil é um dos principais fornecedores de aço para o mercado americano.

A elevação das tarifas gera preocupações sobre a redução das exportações brasileiras e fortes impactos no setor siderúrgico nacional, especialmente para empresas com grande presença no mercado externo.

A necessidade de avançar nas negociações bilaterais é clara. Frederico Nobre destaca a importância do Itamaraty e do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) em buscar cotas preferenciais ou isenções para o aço brasileiro.

O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Geraldo Alckmin, mencionou em diversas ocasiões a importância do diálogo com os americanos para mitigar os efeitos das tarifas. Foi criado um grupo de trabalho bilateral, envolvendo o MDIC e o Itamaraty do lado brasileiro, para tratar do tema com representantes do comércio dos EUA.

Em resposta a consultas, o MDIC confirmou que as negociações iniciaram em março e que diversas reuniões presenciais e virtuais têm ocorrido. No entanto, detalhes específicos não foram divulgados para não comprometer o processo. O ministério reforçou seu compromisso em defender os interesses dos exportadores brasileiros, tanto em relação às tarifas recíprocas quanto a medidas de segurança nacional.

A relação comercial entre Brasil e EUA é descrita pelo MDIC como sólida, histórica e estratégica, destacando o superávit americano e a complementaridade das economias.

Expectativa de Prorrogação

Diante do cronograma apertado e do grande número de países ainda em negociação (incluindo Coreia do Sul, União Europeia, Japão, Índia, Canadá, México, entre outros), especialistas como Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior, acreditam que uma prorrogação da suspensão das tarifas pelos EUA é provável. O tempo disponível teria sido insuficiente para concluir todas as tratativas necessárias.

A expectativa é que as negociações em andamento demandem mais tempo do que inicialmente previsto, e a extensão do prazo de suspensão seria um passo natural para permitir a conclusão desses acordos complexos.

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