
Dólar em Alta: Entenda os Fatores Nacionais e Globais que Agitam o Mercado Brasileiro

O mercado financeiro é um tabuleiro onde cada movimento pode mudar o jogo em questão de horas. Nesta quinta-feira, investidores acordaram com uma enxurrada de notícias que balizaram os negócios, especialmente a cotação do dólar, que viu uma verdadeira montanha-russa de reações.
A princípio, a reação foi otimista: Ibovespa em alta e dólar em queda. Mas como em todo bom suspense, o roteiro virou. Entre o fim da manhã e o início da tarde, a Bolsa passou a oscilar entre perdas e ganhos, enquanto o dólar, que havia recuado, começou a disparar, atingindo patamares como R$ 5,37 por volta das 15h. O que, afinal, moveu essa virada tão drástica e quais são os múltiplos fatores por trás da valorização da moeda americana?
Cenário Nacional: MP 1.303 e IPCA em Destaque
Dois fatos nacionais agitaram os ânimos logo cedo. Primeiro, a derrota do governo no Congresso com a queda da Medida Provisória 1.303. Essa decisão, que revia a tributação de investimentos, gerou cautela, com o mercado atento aos próximos passos do governo para recompor receitas que estavam previstas no texto.
“Caso o governo não consiga aprovar novas medidas ou encontrar outras fontes de receita, há risco de revisão da meta fiscal para baixo no próximo ano — algo indesejado, segundo manifestações anteriores, mas que permanece no radar”, explica Cláudia Moreno, economista do C6 Bank.
Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research, complementa a preocupação, alertando que “a dificuldade em alcançar o superávit sugere que a meta de 2026 também pode ser revista, evidenciando a fragilidade do arcabouço fiscal”. Contudo, a queda da MP também foi vista por alguns como um alívio das tensões políticas em Brasília, beneficiando setores como fintechs e bancos na Bolsa, pela manutenção de alíquotas menores e isenções de LCIs e LCAs.
O segundo catalisador foi o IPCA de setembro, divulgado pelo IBGE, que veio abaixo do esperado. Esse dado, considerado benigno, reforçou a sinalização de esfriamento da economia brasileira, o que tende a colaborar com o trabalho do Banco Central no controle da inflação. A XP, por exemplo, revisou sua projeção para o IPCA de 2025 de 4,8% para 4,7% após o resultado, apontando para dados ligeiramente melhores nos serviços essenciais.
O Banco Central e a Selic: Vigilância Constante
Apesar das boas notícias do IPCA, a euforia durou pouco. Novas declarações do diretor de Política Monetária do Banco Central, Nilton José David, esfriaram o otimismo. Ele reiterou que a autarquia deverá manter a Selic em 15% por um período prolongado e, ainda mais importante, afirmou que o Copom não veria “problema nenhum” em voltar a elevar a taxa básica de juros caso a necessidade aparecesse.
“Neste cenário de incerteza, a condução da política monetária que se requer é algo mais restritivo do que se teria em outros casos”, pontuou David. Ele chegou a revelar que a possibilidade de retomar o ciclo de aperto e subir a Selic novamente foi discutida na última reunião do Copom, mas a decisão final foi por manter o patamar atual por mais tempo.
Impacto Global: O Dólar se Fortalece no Mundo
Como se não bastasse o cenário interno, o dólar também se beneficiou de uma série de fatores externos, que exercem pressão global sobre outras moedas e fortalecem a divisa americana:
- Japão: A vitória iminente da conservadora Sanae Takaichi como primeira-ministra pressionou o iene, que superou a barreira de 153 por dólar. A expectativa é de políticas mais expansionistas, enfraquecendo a moeda local.
- Europa: O euro segue sofrendo com o impasse político na França, após a dissolução do governo eleito e pedidos por novas eleições. A instabilidade europeia desfavorece a moeda comum, empurrando investidores para o dólar.
- Estados Unidos: O shutdown no governo americano, sem previsão de término, trouxe incerteza e alimentou a busca por segurança no dólar. Em Wall Street, investidores realizaram lucros após Jerome Powell, do Fed, não sinalizar os próximos passos da política monetária.
Essa combinação de eventos fez o dólar ter sua melhor sessão desde julho no mercado global. O DXY, índice que mede a força da moeda americana contra uma cesta de moedas, operou em alta significativa de 0,61%, atingindo seu maior nível desde 1º de agosto. Esse movimento global reduz o fluxo de capital para mercados emergentes, enfraquecendo moedas como o real e impactando a Bolsa brasileira.
O Que Esperar? Dólar, Juros e Seus Investimentos
A complexidade do cenário atual, com incertezas políticas e fiscais internas, somada à força global do dólar e à postura vigilante do Banco Central, cria um ambiente de cautela. Enquanto os juros futuros, como os do Tesouro Direto, reagiram ao IPCA mais brando com quedas pontuais, a pressão sobre o câmbio permanece elevada.
Para investidores, é um momento de reavaliar estratégias e considerar a diversificação, protegendo o capital contra a volatilidade. Acompanhar de perto as decisões do governo, a política monetária e os eventos globais será crucial para entender os próximos movimentos do dólar e seus reflexos na economia e nos investimentos.
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