
Guerra Comercial EUA-China: O ‘Alívio’ das Tarifas e o Impacto nos Mercados

A Montanha Russa das Tarifas: Um Soco no Estômago dos Mercados
Acompanhar os desdobramentos da guerra comercial entre Estados Unidos e China, especialmente em momentos de escalada e recuo, pode parecer um exercício exaustivo, quase como levar um soco repetido no estômago. Recentemente, presenciamos uma inesperada ‘detente’ de 90 dias nessa crise fabricada, marcada por uma redução significativa em tarifas que antes eram muito altas.
As tarifas dos EUA sobre a maioria das importações chinesas, que chegaram a assustadores 145%, foram reduzidas para 30%. Do lado chinês, as tarifas de 125% caíram para 10%. Na realidade distorcida das tensões comerciais, esse ‘soco’ levemente mais brando é o que se celebra como alívio.
Mercados em Festa, Mas Com Ressalvas
A notícia da redução de tarifas impulsionou os mercados, recuperando perdas recentes. No entanto, é crucial entender o motivo dessa euforia em Wall Street. A celebração não se dá porque tarifas de 30% são inerentemente boas notícias – longe disso. A alegria reside na percepção de que a administração pode não ter o fôlego necessário para sustentar sua própria política econômica muito radical.
Sob circunstâncias normais, tarifas de 30% sobre o terceiro maior parceiro comercial dos EUA, somadas a outras tarifas setoriais, causariam pânico nos mercados. Mas após semanas de turbulência tarifária, os mercados foram levados ao limite, criando uma expectativa de dor econômica. Se os investidores comemoraram, foi mais por ver as chances de recessão passarem de prováveis para algo mais parecido com um cara ou coroa, do que por estarem fora de perigo.
O Custo Persistente na Economia Real
Mesmo com a mais recente trégua, as tarifas que permanecem em vigor continuam a ter um custo tangível. Projeções indicavam um potencial aumento nos preços ao consumidor, representando um impacto financeiro significativo para as famílias americanas. Adicionalmente, estimativas apontavam para perdas de empregos e uma desaceleração no crescimento econômico do país.
Kathy Bostjancic, economista-chefe da Nationwide Mutual Insurance Company, destacou na época que já se observavam efeitos de desaceleração na atividade econômica e que esforços para reduzir o tamanho do governo também pesariam sobre o emprego e a atividade.
A Impredictibilidade Continua
A reviravolta da administração em relação às tarifas chinesas, maior do que o esperado, apenas sublinha a principal queixa do setor empresarial: os objetivos e prioridades parecem mudar a todo momento. A incerteza sobre a duração da calma e a possibilidade de novas escaladas são preocupações constantes.
Apesar da Casa Branca ter apresentado a redução como uma grande vitória – seguindo a linha de outros acordos comerciais, muitas vezes menos substanciais do que a retórica oficial –, a realidade é mais complexa. Uma tarifa de 30% é, sem dúvida, mais manejável do que 145%. Essa diferença pode ser a linha entre um colapso total da cadeia de suprimentos e uma mera desaceleração no comércio entre as duas maiores economias do mundo.
No fim das contas, o acordo com a China só pode ser visto como uma ‘vitória’ se analisado por uma lente muito específica. É como alguém que incendiou a casa e depois pegou um único balde de água. É um começo, talvez. Mas parte do dano é irreversível, e os fósforos ainda estão à mão.
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