Jorge Paulo Lemann: O “Rei do Hambúrguer” Enfrenta Nova Tempestade Empresarial

O nome de Jorge Paulo Lemann, um dos homens mais ricos do Brasil e conhecido como o “Rei do Hambúrguer”, volta aos holofotes com um novo e significativo desafio. Seu vasto império empresarial, construído ao longo de décadas, acaba de registrar mais um episódio indigesto: uma das maiores franqueadas do Burger King nos Estados Unidos solicitou recuperação judicial, o equivalente à falência no Brasil.

Um Novo Golpe no Coração do Fast Food Americano

A Consolidated Burger Holdings (CBH), uma peça-chave na operação do Burger King em 57 restaurantes na Flórida e Geórgia, protocolou um pedido de proteção sob o Capítulo 11 da Lei de Falências americana. Esta manobra legal, que reflete a grave situação financeira da empresa, revela dívidas próximas a US$ 37 milhões e um prejuízo de US$ 15 milhões no último ano.

A CBH é controlada pela Restaurant Brands International (RBI), que por sua vez tem a 3G Capital, de Jorge Paulo Lemann e seus sócios, como principal acionista. A ligação é direta: foi a 3G Capital que adquiriu o Burger King em 2010 por cerca de US$ 1 bilhão, consolidando a fama de Lemann no setor. Segundo Joseph Luzinski, diretor de reestruturação da CBH, fatores como “aumentos nos custos de frete e alimentação, a diminuição da disponibilidade de mão de obra e a inflação” foram cruciais para a derrocada. A empresa agora busca vender seus ativos sob supervisão judicial.

O Contexto da Crise e Outras Dificuldades no Setor

Este não é um incidente isolado. Desde 2023, outras franqueadas do Burger King, como a Meridian Restaurants e a Premier Kings, também sucumbiram a colapsos financeiros e buscaram proteção judicial. O setor de fast food, especialmente nos EUA, tem enfrentado ventos contrários, lutando para se recuperar dos impactos da pandemia de Covid-19 e de uma inflação persistente que erode margens e poder de compra.

Derrocadas Anteriores: De Kraft Heinz a Lojas Americanas

A reputação e o patrimônio de Jorge Paulo Lemann já foram abalados por outras grandes crises. Em 2019, a gigante de alimentos Kraft Heinz, na qual o bilionário detinha participação, viu sua imagem e valor de mercado despencarem após o anúncio de cortes de dividendos, uma baixa contábil de US$ 15 bilhões no valor de suas marcas e uma investigação por práticas contábeis irregulares pela SEC (Comissão de Valores Mobiliários dos EUA).

Mais recentemente, no início de 2023, o Brasil foi palco do escândalo das Lojas Americanas. A varejista, também controlada por Lemann e seus sócios, revelou um rombo de R$ 20 bilhões em suas contas, decorrente de “inconsistências contábeis” que chocaram o mercado e levaram a empresa a um processo de recuperação judicial que ainda se arrasta. Estes eventos adicionam camadas de complexidade à narrativa do império de Jorge Paulo Lemann.

Lemann: Crise e Oportunidade em um Império em Evolução

Apesar dos golpes à sua reputação e ao seu patrimônio, que segundo a Forbes de 2025, atingiu R$ 88 bilhões (com uma queda de 4,2% em relação ao ano anterior), Jorge Paulo Lemann mantém sua posição como o terceiro homem mais rico do Brasil. Ele é conhecido por uma filosofia pragmática, tendo afirmado em eventos que “toda crise traz oportunidade”.

Seu império empresarial continua a operar em diversas frentes. Além de ser acionista controlador da gigante cervejeira AB InBev, Lemann também possui a São Carlos Empreendimentos, com a participação de seus filhos e herdeiros de seus sócios, Marcel Herrmann Telles e Carlos Alberto Sicupira. Em um movimento que demonstra a resiliência e a busca por novos horizontes da 3G Capital, a empresa adquiriu, em maio de 2025, a americana de tênis Skechers por aproximadamente US$ 9,4 bilhões, mostrando que a estratégia de aquisições e reestruturação permanece ativa.

O Futuro do Legado de Lemann

Os recentes eventos com o Burger King e as lembranças das crises na Kraft Heinz e Lojas Americanas servem como um lembrete da volatilidade do mundo dos negócios, mesmo para figuras tão poderosas como Jorge Paulo Lemann. No entanto, a capacidade de sua 3G Capital de se reinventar e a resiliência de seu patrimônio sugerem que o bilionário ainda tem muitas páginas para escrever em sua complexa e influente trajetória empresarial.