
Raia Drogasil Condenada por Racismo: A Luta e Vitória de Noemi Ferrari por Justiça no Trabalho

Raia Drogasil Condenada por Racismo: A Luta e Vitória de Noemi Ferrari por Justiça no Trabalho
A batalha contra o racismo e a discriminação no ambiente corporativo ganha um capítulo importante com a decisão da Justiça do Trabalho, que condenou a rede Raia Drogasil por danos morais. O caso envolve Noemi Ferrari, uma ex-funcionária que, em seu primeiro dia de trabalho em 2018, foi vítima de ofensas racistas em uma de suas farmácias na Grande São Paulo. Após anos de luta, Noemi obteve uma vitória significativa, recebendo R$ 56 mil de indenização, um marco na busca por um ambiente de trabalho mais justo e inclusivo.
O Começo da Dor: Racismo no Primeiro Dia
Em 2018, o que deveria ser um novo começo na carreira de Noemi Ferrari transformou-se em um pesadelo. Em seu primeiro dia de trabalho em uma unidade da Raia Drogasil em São Caetano do Sul, ela foi alvo de comentários racistas proferidos por uma colega de cargo superior. As ofensas, gravadas em vídeo e destinadas a um grupo de WhatsApp, incluíam a frase chocante: “Tá escurecendo a nossa loja? (…) Acabou a cota, tá? Negrinho não entra mais.” O vídeo, que viralizou nas redes sociais recentemente, expôs a face mais cruel do racismo estrutural e recreativo, onde a discriminação se disfarça de “brincadeira”.
Noemi relata ter ficado “anestesiada” no momento, presa à necessidade de manter o emprego após a perda de seu pai adotivo. A dor, contida por um tempo, explodiu no banheiro da empresa. Sua resiliência, contudo, a fez acreditar que poderia fazer a diferença, o que a levou a ser promovida a supervisora em 2020.
Da Resiliência à Busca por Direitos
Apesar da promoção, a jornada de Noemi na Raia Drogasil foi marcada por mais dificuldades. Em 2022, após uma agressão verbal e quase física por outro supervisor, ela foi demitida. Essa demissão, paradoxalmente, foi o “empurrãozinho” que ela precisava para buscar seus direitos. Mesmo relutante em processar, uma indireta de uma ex-colega a motivou a não deixar o episódio de racismo impune. O que era para ser esquecido, tornou-se uma bandeira de justiça.
A Decisão da Justiça do Trabalho: Um Precedente Importante
A Justiça do Trabalho reconheceu a gravidade do ocorrido. Tanto em primeira instância quanto no TRT da 2ª Região, as magistradas Rosa Fatorelli e Erotilde Minharro foram enfáticas em rechaçar o argumento de “brincadeira” ou “descontração” alegado pela defesa. Fundamentaram a condenação na perspectiva do racismo estrutural e recreativo, conceitos incompatíveis com os direitos humanos e fundamentais. A responsabilidade da Raia Drogasil foi estabelecida pela omissão em garantir um ambiente de trabalho adequado e livre de discriminação.
O tribunal destacou que o vídeo e o depoimento da testemunha foram “vívidos e assertivos sobre a situação de constrangimento, humilhação e assédio imposta à autora”, reforçando que o racismo, em qualquer de suas formas, é inaceitável e gera responsabilidade ao empregador, especialmente quando as ofensas partem de superiores. Esta decisão serve como um importante lembrete sobre a importância da Justiça do Trabalho na proteção dos direitos dos trabalhadores.
A Posição da Raia Drogasil e o Legado de Noemi
Em nota, a rede Raia Drogasil lamentou o episódio de 2018, reiterando seu compromisso com a diversidade, respeito e inclusão. A empresa afirmou não compactuar com discriminação e destacou investimentos em programas de equidade racial, mencionando que, em 2024, 50% das posições de liderança são ocupadas por pessoas negras. Embora os números sejam relevantes, o caso de Noemi Ferrari sublinha a necessidade contínua de vigilância e ações concretas para erradicar o racismo no ambiente corporativo.
Noemi, hoje gestora na área da saúde, celebra sua vitória não apenas como um ganho pessoal, mas como um passo para inspirar outros. Com a indenização, ela deu entrada em um apartamento, um símbolo de sua nova fase de independência e superação. Sua história é um poderoso testemunho de que lutar por justiça, mesmo diante das adversidades, é fundamental para construir uma sociedade mais igualitária e respeitosa. A coragem de Noemi é um farol para todos que enfrentam o racismo no trabalho, mostrando que a voz das vítimas, quando ecoada, pode transformar realidades.
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