
Adeus a Guilherme Reis: Uma Homenagem ao Ícone da Cultura Brasiliense

Adeus a Guilherme Reis: Uma Homenagem ao Ícone da Cultura Brasiliense
É com profundo pesar que a comunidade artística e cultural do Distrito Federal e do Brasil se despede de Guilherme Reis, que nos deixou nesta quarta-feira (24/9), aos 70 anos. O renomado diretor, ator, roteirista e produtor cultural, que também exerceu o cargo de Secretário de Cultura do Distrito Federal, foi um pilar fundamental na construção e no fortalecimento da cena artística da capital, deixando um legado inestimável que ressoa em cada palco, tela e projeto cultural que tocou.
Uma Vida Dedicada à Arte: A Trajetória de Guilherme Reis
Luis Guilherme Almeida Reis, nascido em 24 de novembro de 1954, em Goiânia, fez de Brasília seu lar a partir de 1960. Foi na jovem capital que, aos 18 anos, ele encontrou sua verdadeira vocação: o teatro. Sua paixão pelos palcos era evidente e contagiante.
“A magia daquela salinha escura e o ritual do teatro me pegaram de cara.”
Guilherme Reis, em entrevista ao Correio
Como ator, Guilherme Reis brilhou em produções memoráveis, demonstrando uma versatilidade ímpar. Entre suas atuações de destaque, vale lembrar:
- Os Saltimbancos
- O Noviço
- A vida é sonho
- O Exercício
- Pequenos Burgueses
- Um grito parado no ar
- Caça aos ratos
Do Palco à Direção: Uma Visão Inovadora
Oito anos após sua estreia como ator, em 1980, Guilherme Reis expandiu seus horizontes e assinou sua primeira direção teatral com a peça A Revolução dos Bichos. Sua sensibilidade e perspicácia como diretor foram rapidamente reconhecidas. Ele trabalhou com grandes nomes como Antônio Abujamra e Hugo Rodas, com quem mantinha uma relação de irmandade e parceria artística desde o início da carreira.
Sua lista de direções é extensa e aclamada, incluindo:
- Chapeuzinho Amarelo (1981)
- Pedro e o Lobo (1983)
- A Hora do Pesadelinho (1991)
- Reta do Fim do Fim (Prêmio Villanueva de Melhor Espetáculo Estrangeiro de 1997 em Cuba)
- Movimentos do Desejo (1998)
- Reveillon (1999)
Entre 2005 e 2008, à frente do prestigiado Grupo Cena, Guilherme Reis dirigiu e produziu uma notável trilogia baseada em textos de autores argentinos.
No Cinema: Marcando Presença e Deixando sua Arte
A versatilidade de Guilherme Reis não se limitou ao teatro. Em 1982, ele fez sua estreia nas telonas com o longa O Sonho Não Acabou, dirigido por Sérgio Rezende, dividindo cena com talentos como Miguel Falabella e Lúcia Veríssimo. Sua presença no cinema se estendeu por diversos filmes, como:
- A República dos Anjos (1991)
- O Cego que Gritava Luz (1996)
- O Tronco (1999)
- Sagrado Segredo (2009)
Em 2016, ele retornou à direção, mas desta vez no formato musical, com a aclamada produção Dentro da Caixinha.
O Visionário Produtor Cultural: O Festival Cena Contemporânea
Além de suas atuações e direções, Guilherme Reis foi um produtor cultural à frente de seu tempo. Percebendo a carência de profissionais na área, ele abraçou a missão de viabilizar a arte. “Já nos primeiros trabalhos, percebi que não havia produtor, alguém teria que assumir essa posição”, explicou em entrevista.
Seu trabalho mais emblemático como produtor foi a curadoria e direção geral do Festival Cena Contemporânea, evento que desde 1995 transforma Brasília em um polo de efervescência teatral. Antes disso, ele já havia realizado outras edições do Festival Latino-americano de Cultura, na UnB, e o Temporada Nacional, um projeto que trouxe grandes nomes como Fernanda Montenegro para o público brasiliense.
O Cena Contemporânea, sob sua batuta, se tornou um marco, trazendo espetáculos internacionais e nacionais de grande impacto, como [dentro da cabeça de alguém], estrelado por Renata Sorrah, e produções de renomados artistas argentinos e paulistas.
Secretário de Cultura: Um Legado de Políticas Públicas
Entre 2015 e 2018, durante o governo de Rodrigo Rollemberg, Guilherme Reis assumiu um dos papéis mais desafiadores e impactantes de sua carreira: Secretário de Cultura do Distrito Federal. Sua gestão foi marcada por uma visão estratégica e um compromisso inabalável com o desenvolvimento cultural da cidade.
Entre suas maiores conquistas, destaca-se a criação da Lei Orgânica da Cultura, que estabeleceu o Sistema de Arte e Cultura do DF, um arcabouço fundamental para a formulação, financiamento e gestão de políticas públicas. Além disso, ele foi responsável por importantes reformas, como as do Espaço Cultural Renato Russo e do Centro de Dança de Brasília, revitalizando espaços essenciais para a produção e fruição artística.
As Vozes da Saudade: Homenagens ao Grande Artista
A notícia do falecimento de Guilherme Reis ecoou na comunidade, gerando uma onda de emoção e homenagens. Bartolomeu Rodrigues, ex-secretário de Cultura, lamentou a perda de um “expoente da cultura do Distrito Federal”, elogiando sua mente aberta e capacidade de produção. Claudio Abrantes, atual secretário de Cultura do DF, destacou Guilherme como uma inspiração, um altruísta que deixou um “legado não só de trabalho, mas de altruísmo, de simplicidade e de amor pela cultura do Distrito Federal”.
O deputado federal Rodrigo Rollemberg (PSB-DF) expressou seu carinho pelo amigo e ex-colaborador, descrevendo-o como “uma das pessoas mais queridas que já conheci. Um amigo. Uma energia contagiante. Um artista. Um produtor. Um ser brilhante. Um Secretário de Cultura que me enche de orgulho e gratidão.”
“O teatro está triste, a cultura está triste, Brasília está triste. A Cena Contemporânea agora vai acontecer no CÉU. Guila, vai e fica com Deus. Nós ficaremos aqui curtindo a saudade.”
Rodrigo Rollemberg (PSB-DF)
O Legado Eterno de Guilherme Reis
Guilherme Reis parte, mas sua vasta contribuição para a arte e a cultura permanece viva. Ele foi um catalisador de talentos, um incentivador de projetos e um defensor incansável da importância da cultura para a sociedade. Seu nome estará para sempre gravado na história de Brasília e do Brasil como um verdadeiro mestre, cujo trabalho inspirou gerações e elevou o patamar da produção artística nacional. Que sua paixão pela arte continue a iluminar os caminhos de todos que, como ele, dedicam suas vidas à beleza e à expressão humana.
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