
Atafona Sob Ameaça: O Mar Avança Sem Parar e Ameaça Engolir a Praia no RJ

Atafona Desaparece: O Mar Avança Sem Parar e Ameaça Engolir a Praia no RJ
Imagine uma praia onde o mar não só toca a areia, mas avança impiedosamente, engolindo quarteirões e casas. Esta não é uma cena de filme, mas a dura realidade de Atafona, um distrito do município de São João da Barra, no norte do estado do Rio de Janeiro.
Por décadas, a força do oceano tem remodelado a paisagem local de forma drástica. E, segundo alertas da ONU, o cenário pode se agravar ainda mais rapidamente devido aos efeitos do aquecimento global.
O Drama em Números: O Que Já Foi Perdido?
A luta de Atafona contra o mar é visível e dolorosa. Estima-se que cerca de 500 edifícios do distrito já tenham sido submersos pelas águas. O ritmo da erosão costeira é alarmante: Atafona perde, em média, cinco metros de terra por ano para o oceano há sete décadas.
Memória Sob as Ondas: O Relato de Quem Viu Tudo Mudar
A aposentada Sônia Ferreira é uma das testemunhas oculares dessa transformação implacável. Ela relata a reportagens:
“Eu não tinha vista do mar quando a casa foi construída. Eu tinha dois quarteirões, três quarteirões de casa na minha frente, depois uma avenida Atlântica asfaltada, um calçadão e, depois, um monte de areia até chegar à água. Essa era a minha realidade há 45 anos, quando a gente construiu a casa. Então isso tudo foi indo, isso tudo foi acabando, e o mar foi chegando, foi chegando, até que, em 2019, ele tombou exatamente a curva aqui do meu terreno.”
Seu depoimento ressalta não apenas a velocidade, mas a proximidade crescente da ameaça para os moradores.
Por Que Atafona Está Desaparecendo Tão Rápido?
A intensa erosão em Atafona não é um fenômeno isolado, mas o resultado complexo de múltiplos fatores agindo em conjunto:
- Localização Geográfica: O distrito está situado estrategicamente no delta do Rio Paraíba do Sul. Deltas são naturalmente áreas de acúmulo de sedimentos trazidos pelos rios, que formam novas terras na foz. No entanto, também são áreas dinâmicas e suscetíveis à ação do mar.
- Impacto das Barragens: O Rio Paraíba do Sul, antes de chegar a Atafona, percorre os estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Ao longo de sua bacia, foram construídas 943 barragens. Essas estruturas, essenciais para hidrelétricas e abastecimento, têm um efeito colateral devastador para a foz: elas reduzem drasticamente a vazão da água e, crucialmente, barram a maior parte dos sedimentos que o rio deveria transportar e depositar na praia de Atafona. Sem a reposição natural de areia pelo rio, o mar encontra pouca resistência.
- Elevação do Nível do Mar: O aquecimento global causa a expansão da água dos oceanos pelo aumento da temperatura e o derretimento de gelo. A elevação global do nível do mar agrava significativamente a erosão em áreas costeiras vulneráveis como Atafona, permitindo que as ondas alcancem áreas antes protegidas.
Especialistas apontam para o desequilíbrio entre a quantidade de areia retirada pelo mar e a ausência de sedimentos que deixam de chegar pelo Rio Paraíba do Sul como o principal motor do processo acelerado, potencializado pela crise climática.
Atafona no Mapa Global de Ameaças da ONU
A gravidade da situação de Atafona alcançou reconhecimento internacional. Um relatório da Organização das Nações Unidas (ONU), divulgado em 2024, incluiu o distrito fluminense na lista das 31 localidades mais ameaçadas do mundo pela elevação do nível dos oceanos.
As projeções para o futuro próximo são preocupantes: espera-se que o mar na região de Atafona suba, em média, mais 21 centímetros até 2050, acelerando ainda mais o processo de submersão.
Um Futuro Incerto e a Resistência Local
Diante desse cenário crítico, a solução mais segura e eficaz sugerida por especialistas é a realocação da população que vive nas áreas de maior risco. No entanto, a proposta enfrenta uma forte e compreensível resistência por parte dos moradores e pescadores, que possuem laços históricos e afetivos profundos com o local e seu modo de vida.
O Que Espera por Atafona?
O destino de Atafona permanece incerto. O drama da praia que desaparece é um poderoso alerta sobre os impactos cumulativos da gestão de recursos hídricos (as barragens no Rio Paraíba do Sul) e das urgentes mudanças climáticas. A luta contra o avanço do mar em Atafona serve como um lembrete global da necessidade crucial de adaptação e proteção de nossas áreas costeiras mais vulneráveis.
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