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Atlas da Violência 2025: Homicídios Ocultos Revelam Cenário Mais Grave no Brasil e Impactam Estatísticas (Incluindo Mulheres?)

Atlas da Violência 2025: Homicídios Ocultos Revelam Cenário Mais Grave no Brasil e Impactam Estatísticas (Incluindo Mulheres?)

temp_image_1747107956.671029 Atlas da Violência 2025: Homicídios Ocultos Revelam Cenário Mais Grave no Brasil e Impactam Estatísticas (Incluindo Mulheres?)

O Cenário Oculto da Violência no Brasil: O que o Atlas 2025 Revela

Imagine um Brasil onde a contagem oficial de vidas perdidas para a violência não representa a realidade completa. É exatamente isso que o recém-divulgado Atlas da Violência 2025, uma parceria entre o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), aponta. O estudo joga luz sobre um fenômeno alarmante: os homicídios ocultos.

Em 2023, o Brasil registrou impressionantes 3.755 assassinatos a mais do que o contabilizado nas estatísticas oficiais. Essas mortes são classificadas como homicídios ocultos, revelando uma lacuna significativa na forma como a violência letal é registrada no país.

O Que São os Homicídios Ocultos?

O termo técnico é Mortes Violentas por Causa Indeterminada (MVCI). Trata-se de óbitos violentos onde as autoridades (de saúde e segurança) não conseguem determinar a causa básica – se foi acidente, suicídio ou homicídio. Essas mortes ficam na categoria de ‘causa indeterminada’ e, tradicionalmente, não entram na conta oficial de homicídios.

Os pesquisadores do IPEA, utilizando uma metodologia probabilística refinada, estimam que uma parte considerável dessas MVCI são, na verdade, homicídios que não foram corretamente classificados. Ao somar os registros oficiais com essa estimativa de homicídios ocultos, chega-se ao número de ‘homicídios estimados’, que oferece uma visão mais precisa e, infelizmente, mais sombria da realidade.

Impacto nas Estatísticas e no Ranking da Violência

A inclusão desses números ocultos muda drasticamente o panorama nacional. O total de homicídios estimados no Brasil em 2023 salta de 45.747 para 49.502.

Mas o impacto não para nos números gerais; ele remodela o ranking da violência entre os estados:

  • São Paulo, que se posicionava como o estado com menor taxa de homicídios per capita com base nos dados oficiais (6,4 por 100 mil), cai para a segunda posição. Com a inclusão dos 2.277 homicídios ocultos estimados em seu território, a taxa sobe para 11,2 por 100 mil.
  • Santa Catarina assume a liderança como o estado com menor taxa de homicídios estimados.
  • Outros estados como Acre, Rio de Janeiro, Paraíba e Rio Grande do Norte também têm suas posições alteradas no ranking.

Olhando para a última década (2013-2023), o cenário é ainda mais preocupante: 51.608 mortes classificadas como MVCI no período são estimadas como homicídios ocultos. Caso fossem somados aos registros oficiais, o total de assassinatos no país nesse período saltaria de 598.399 para 650.007.

Por Que Tantas Mortes Ficam Ocultas?

A principal razão apontada pelo Atlas é a deterioração na qualidade dos registros de óbitos em alguns estados. A dificuldade das autoridades em determinar a causa da morte – se homicídio, acidente ou suicídio – leva a essa subnotificação.

Os estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Bahia concentram dois terços (66,4%) dos homicídios ocultos estimados, evidenciando desafios concentrados na qualidade dos dados nestas regiões.

A análise detalhada do Atlas não apenas revela o drama dos homicídios ocultos, mas também joga luz sobre a violência que afeta grupos específicos. Relacionado a este estudo, outros dados do mesmo relatório apontam um preocupante crescimento nos assassinatos de mulheres e crianças em 2023, um lembrete sombrio dos diversos desafios enfrentados pela segurança pública no Brasil.

Esforços e Desafios na Qualificação dos Dados

Em resposta às constatações de edições anteriores do Atlas, 21 estados adotaram ações em 2023 para melhorar a qualidade de seus dados e reduzir as mortes de causa indeterminada. O Espírito Santo é citado como exemplo de sucesso, com a criação de um grupo de trabalho integrado entre secretarias e a consequente redução drástica dos homicídios ocultos estimados (de 205 para apenas 7 casos entre 2022 e 2023).

Outros estados como Rio Grande do Norte, Paraná, Sergipe e Amazonas também mostraram melhora nos indicadores de ocultação. No entanto, o Amapá registrou uma piora significativa, com aumento de 40% nas estimativas de homicídios não registrados entre 2022 e 2023.

O Que Diz o Governo de São Paulo?

Em nota, o governo de São Paulo afirma que a atual gestão implementou o sistema SPVida para monitoramento e análise detalhada de casos com vítimas fatais, buscando evitar classificações errôneas. Ressalta que os dados da Secretaria da Segurança Pública (com natureza jurídica e criminológica) são diferentes dos utilizados pelo DataSUS (referência do Atlas, com natureza sanitária), argumentando que comparações diretas não seriam razoáveis.

A nota reforça que São Paulo mantém uma tendência de queda nos homicídios oficiais e atribui isso a investimentos em políticas públicas, melhoria de procedimentos e integração policial.

O Atlas da Violência 2025 serve como um alerta crucial sobre a importância da transparência e da qualidade dos dados para o combate eficaz à violência no Brasil. Compreender o cenário real, incluindo as mortes que permanecem nas sombras, é o primeiro passo para a construção de políticas públicas mais assertivas e para garantir a segurança de todos os cidadãos, incluindo grupos mais vulneráveis como as mulheres.

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