
Carbono Oculto: A Megaoperação que Desmascarou o Esquemão Bilionário do PCC nos Postos de Gasolina e no Setor de Combustíveis

Carbono Oculto: A Megaoperação que Desmascarou o Esquemão Bilionário do PCC nos Postos de Gasolina e no Setor de Combustíveis
Uma das maiores operações contra o crime organizado no Brasil, batizada de Carbono Oculto, lançou luz sobre o intrincado e bilionário esquema do Primeiro Comando da Capital (PCC) no setor de combustíveis. O que começou com carretas de combustível paradas em um posto de gasolina na Bahia se revelou uma teia complexa de fraudes fiscais, lavagem de dinheiro e combustível adulterado, com ramificações por todo o país e impactos diretos no bolso do consumidor.
Carretas Suspeitas em Camaçari Revelam Ponta do Iceberg
A história que chocou o país começou a se desenrolar em Camaçari, Bahia. Carretas gigantes, carregadas de combustível e ostentando as logomarcas G8LOG e Moska Log, foram avistadas paradas em um posto de combustíveis. Inicialmente, cogitou-se que haviam sido abandonadas, mas a realidade era mais complexa e reveladora. A Polícia Federal, agindo sob o manto da megaoperação, logo identificou os veículos como pertencentes a empresas ligadas aos principais alvos da investigação.
Essas empresas, G8LOG Agro Ltda e Moska Log, foram rapidamente desmascaradas como empresas de fachada, habilmente criadas para ocultar patrimônio e mascarar a real propriedade de ativos do crime organizado. A G8LOG, que se apresentava como um gigante no transporte de etanol, e a Moska Log, operando de forma integrada e compartilhando frota, eram peças cruciais na intrincada engrenagem de lavagem de dinheiro do PCC.
“Primo” e “Beto Louco”: Os Cérebros por Trás da Máfia do Combustível
As investigações apontam Mohamad Hussein Mourad, conhecido como “Primo”, e Roberto Augusto Leme da Silva, o “Beto Louco”, como os principais comandantes desse esquema bilionário. Eles estavam foragidos e eram os cérebros por trás da atuação do PCC em toda a cadeia produtiva de combustíveis e de açúcar e álcool.
- Mohamad Hussein Mourad (“Primo”): Apontado como o “epicentro das operações”, chefe da organização criminosa que utilizava centenas de empresas – desde usinas até postos de gasolina – para realizar fraudes fiscais massivas, ocultar patrimônio e lavar bilhões de reais. Sua rede criminosa abrangia familiares, sócios e profissionais cooptados. Em redes sociais, Mohamad se apresentava como CEO da G8LOG, especializada em transporte de cargas perigosas.
- Roberto Augusto Leme da Silva (“Beto Louco”): Co-líder da organização, responsável pela gestão de empresas-chave como Copape e Aster, instrumentalizadas para fraudes fiscais, contábeis e lavagem de capitais.
O esquema era tão sofisticado que se dividia entre a gestão operacional de usinas e a gestão financeira e patrimonial, utilizando fundos de investimento e empresas de participações para ocultar a origem e destino dos recursos ilícitos.
A Amplitude da Operação Carbono Oculto
A megaoperação Carbono Oculto, uma força-tarefa nacional envolvendo cerca de 1.400 agentes, uniu três grandes investigações para desarticular este império criminoso. Foram cumpridos mandados de busca, apreensão e prisão em oito estados brasileiros (São Paulo, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Paraná, Rio de Janeiro e Santa Catarina), revelando um esquema que sonegou mais de R$ 7,6 bilhões em impostos federais, estaduais e municipais.
O impacto ia muito além da sonegação. O PCC, através de sua rede, agia em diversas frentes:
- Importação irregular de metanol: Produto químico altamente inflamável e tóxico, desviado e transportado clandestinamente para adulterar combustíveis.
- Adulteração de combustíveis: Mais de 300 postos de gasolina identificados operando com fraudes, vendendo combustível fora das especificações da Agência Nacional do Petróleo (ANP) ou em volumes inferiores ao pago pelos consumidores. Estima-se que 30% dos postos de São Paulo, cerca de 2.500 estabelecimentos, poderiam estar envolvidos.
- Ameaças e coação: Proprietários de postos que venderam seus estabelecimentos à rede criminosa eram ameaçados de morte caso cobrassem os valores devidos.
- Fintechs e Fundos de Investimento: O crime organizado “bancarizou” suas operações, utilizando pelo menos 40 fundos de investimento com patrimônio de R$ 30 bilhões e fintechs controladas para movimentar dinheiro, ocultar patrimônio e realizar a lavagem de dinheiro em larga escala, inclusive adquirindo usinas, fazendas e imóveis de luxo. Essa estratégia dificultava o rastreamento, pois operavam com contabilidade paralela.
As principais empresas visadas na operação incluem o Grupo Aster/Copape (donos de usinas, formuladoras, distribuidoras e rede de postos de gasolina), BK Bank (fintech) e Reag (fundo de investimento), todos instrumentalizados pelo PCC.
O Prejuízo para o Brasil e a Luta Contra o Crime
A fraude fiscal e a atuação do PCC no setor de combustíveis lesavam não apenas os cofres públicos e os consumidores com combustíveis adulterados, mas toda uma cadeia econômica legítima, desestabilizando o mercado e fomentando a corrupção. A organização criminosa se infiltrara profundamente no mercado, controlando desde a produção até a distribuição final nos postos de gasolina.
A força-tarefa, que incluiu o Ministério Público de São Paulo (MP-SP), Ministério Público Federal (MPF), Polícia Federal, Polícia Civil, Polícia Militar, Receita Federal, Secretaria da Fazenda de SP, ANP e Procuradoria-Geral do Estado de São Paulo, demonstra o compromisso em desmantelar esses esquemas. O Comitê Interinstitucional de Recuperação de Ativos (CIRA/SP) já busca o bloqueio de bens para recuperar o montante astronômico sonegado.
Para mais informações sobre o combate à lavagem de dinheiro e fraudes fiscais, consulte o site da Receita Federal. Entenda também como a Agência Nacional do Petróleo (ANP) atua na fiscalização da qualidade dos combustíveis no Brasil e o papel do Banco Central no combate à lavagem de dinheiro através de fintechs.
A Operação Carbono Oculto é um marco na luta contra o crime organizado, expondo a capacidade de adaptação e infiltração das facções em setores vitais da economia, como o de postos de gasolina e combustíveis. A vigilância e a ação conjunta das autoridades são essenciais para proteger o mercado e o cidadão brasileiro.
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