
Carlos Nobre: ‘Vivemos o Maior Risco Climático da História’. Entenda o Alerta do Cientista.

Estamos vivendo uma corrida contra o tempo, e o cronômetro está prestes a zerar. Este é o alerta contundente de Carlos Nobre, um dos cientistas climáticos mais respeitados do mundo e uma voz pioneira na defesa da Amazônia. Em uma análise preocupante, ele afirma que a humanidade enfrenta o maior desafio de sua história, com o planeta já ultrapassando a marca crítica de 1,5°C de aquecimento.
Um Planeta em Ponto de Ebulição: O Alerta de 1,5°C
Para Carlos Nobre, pesquisador sênior do Instituto de Estudos Avançados da USP, não se trata mais de uma ameaça futura, mas de uma realidade presente. “Nós corremos o maior risco que o planeta já enfrentou desde que existimos como civilização”, adverte. Ele explica que, por quase dois anos, a temperatura global se manteve acima de 1,5°C em relação aos níveis pré-industriais. A última vez que a Terra viveu uma crise climática semelhante foi há mais de 120 mil anos, muito antes da civilização moderna.
“Agora esse aquecimento é totalmente responsabilidade nossa. Jogamos gases de efeito estufa na atmosfera com a queima de combustíveis fósseis, o desmatamento, a agropecuária, a indústria, resíduos. É o Antropoceno.”
Carlos Nobre
A Amazônia na Berlinda: O Ponto de Não Retorno
A Floresta Amazônica, antes considerada o pulmão do mundo, está sufocando. Nobre foi um dos primeiros a alertar sobre o risco de a floresta atingir um “ponto de não retorno”, transformando-se em uma savana degradada. E, segundo ele, estamos perigosamente próximos disso.
- Estação Seca Prolongada: Nos últimos 40 anos, a estação seca na Amazônia aumentou em quatro a cinco semanas. Se a tendência continuar, não haverá condições para sustentar a floresta.
- Redução da Absorção de Carbono: Na década de 1990, a Amazônia removia 1,5 bilhão de toneladas de CO₂ por ano. Hoje, esse número caiu para cerca de 200 a 300 milhões.
- Secas e Incêndios Recordes: As secas severas, que ocorriam a cada 20 anos, agora são frequentes (2005, 2010, 2015-16, 2023-24). Em 2023, o desmatamento por incêndios criminosos explodiu, mesmo com a queda nas taxas de desmate por extração de madeira.
Esses fatores combinados criam um ciclo vicioso que ameaça não apenas a biodiversidade, mas também o equilíbrio climático de todo o continente. Para saber mais sobre os mecanismos climáticos globais, o site do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) é uma fonte de alta autoridade.
Bioeconomia: A Saída Brasileira para a Crise Global?
Apesar do cenário sombrio, Carlos Nobre aponta uma luz no fim do túnel: a bioeconomia da sociobiodiversidade. O Brasil, detentor da maior biodiversidade do mundo, explora apenas uma fração mínima desse potencial (0,4% do PIB). A proposta é valorizar a floresta em pé, utilizando tecnologia para criar produtos de alto valor agregado a partir da biodiversidade, gerando muito mais riqueza do que a pecuária ou a soja.
“Não basta manter o que temos, precisa restaurar!”, enfatiza o cientista. Ele cita o Arco da Restauração, um plano ambicioso do governo brasileiro para reflorestar 240 mil km² no sul da Amazônia. Com o valor crescente do mercado de carbono, restaurar a floresta tornou-se uma atividade economicamente mais vantajosa.
Os Desafios: Negacionismo e a Urgência da COP30
O maior obstáculo, segundo Nobre, é a resistência de setores como o agronegócio, que ele classifica como “negacionista”. O desafio é convencê-los de que as mudanças climáticas representam um risco existencial para a própria produção agrícola brasileira.
A esperança se volta para a COP30, que será realizada em Belém. O objetivo é ambicioso: convencer o mundo a zerar as emissões líquidas de gases de efeito estufa até 2040, uma década antes do previsto. O sucesso depende da união de potências como China, Brasil, Índia e países desenvolvidos.
Um Futuro Sombrio (e a Faísca de Esperança)
Os cenários traçados por Nobre são alarmantes. Com um aquecimento de 3-4°C até 2100, a região equatorial, incluindo cidades como o Rio de Janeiro, poderia se tornar inabitável por boa parte do ano. O derretimento do permafrost e a liberação de metano dos oceanos poderiam nos levar a um aquecimento de 8-10°C, um cenário de extinção em massa — a primeira causada por uma única espécie.
Contudo, um motivo para otimismo reside nos jovens. “Os jovens do mundo inteiro estão muito preocupados”, afirma Nobre. A consciência e a pressão da nova geração podem ser o catalisador que falta para forçar a mudança. O alerta de cientistas como Carlos Nobre não é uma profecia do apocalipse, mas um chamado urgente à ação. O futuro do planeta depende das decisões que tomarmos agora.
Compartilhar: