
Celia Ribeiro: O Legado Imortal da Dama da Etiqueta e Decana do Jornalismo Gaúcho

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Celia Ribeiro: O Legado Imortal da Dama da Etiqueta e Decana do Jornalismo Gaúcho
Publicado em 25 de setembro de 2025
Porto Alegre se despede de um de seus maiores ícones. Na última quinta-feira, 25 de setembro de 2025, Celia Ribeiro, carinhosamente conhecida como Dona Celia, faleceu aos 96 anos. Ela não era apenas uma figura, mas uma instituição no Rio Grande do Sul, sinônimo de elegância, bom senso e um farol para as boas maneiras e a moda.
Decana do jornalismo gaúcho, sua partida deixa um vazio, mas também um vasto legado que transcende gerações, marcando profundamente a cultura e a comunicação do estado.
Uma Vida de Pioneirismo e Cultura
Nascida em 1929 em uma tradicional família de Porto Alegre, a trajetória de Celia Ribeiro foi, para a sua época, notavelmente incomum e inspiradora. Ela desafiou as convenções ao buscar formação em Filosofia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) em 1957. Durante seus anos acadêmicos, flertou com a paixão pelo teatro, uma experiência que, embora não a levasse aos palcos permanentemente, pavimentou seu caminho para o mundo da comunicação.
Aos 26 anos, Celia mergulhou no jornalismo, iniciando como crítica teatral no jornal A Hora. Este foi um marco, pois a tornou uma das primeiras mulheres a ocupar um espaço em uma redação jornalística no Rio Grande do Sul, abrindo portas e quebrando barreiras em um ambiente predominantemente masculino.
Do Impresso à Televisão: Uma Voz Multimídia
A versatilidade de Celia Ribeiro era notável. No mesmo jornal A Hora, ela conheceu o amor de sua vida, o também jornalista Lauro Schirmer (1928-2009), com quem construiu uma parceria sólida tanto na vida pessoal quanto profissional.
Sua presença na mídia se expandiu para a televisão, onde esteve no ar por quase duas décadas. Em 1957, produziu “O Mundo da Mulher” na TV Piratini, e em 1964, a TV Gaúcha (hoje RBS TV) a convidou para comandar o “Programa Celia Ribeiro”. Mais tarde, em 1972, com a criação do Jornal do Almoço, tornou-se apresentadora do bloco de variedades da atração, consolidando-se como um rosto familiar e querido em milhares de lares gaúchos.
No jornalismo impresso, sua atuação foi igualmente brilhante. Trabalhou no Segundo Caderno de Zero Hora de 1970 a 1992, e depois manteve uma coluna semanal na Revista Donna por mais 24 anos, anunciando sua aposentadoria em 2016. Foram seis décadas ininterruptas de uma carreira marcada pela adaptabilidade e paixão.
A Reinvenção Constante: Da Caneta ao Teclado
O que mais impressionava em Celia Ribeiro era sua capacidade de se reinventar. Em um mundo onde as tecnologias digitais transformaram profundamente as relações e o trabalho, Celia, com mais de 70 anos, não hesitou em abraçar o novo. Ela acrescentou o título de blogueira à sua lista de realizações, provando que o bom jornalista, com paixão pela comunicação, sabe como poucos transcender formatos e plataformas.
Em sua despedida da redação de Zero Hora, rodeada de colegas e amigos, Celia expressou seu profundo amor pela vida e o encanto pela profissão: “Foi uma trajetória muito longa, mas só a chance que eu tive de exercer essa profissão que eu adoro e fazer o que eu gostava já foi muito bom.”
O Legado Literário: Mais Que Etiqueta
Paralelamente à sua prolífica carreira jornalística, Celia Ribeiro presenteou o público com uma série de livros que se tornaram referência em diversos temas. Sua veia escritora começou em 1991 com o best-seller “Etiqueta na Prática”, que a estabeleceu como uma autoridade em boas maneiras. Outras sete publicações seguiram, aprofundando o tema da etiqueta, sempre com a máxima do bom senso como guia.
Seu interesse se estendeu à gastronomia e às memórias familiares, inspirando obras como:
- Manual de Sobrevivência do Anfitrião Inexperiente (1995)
- Receitas de Yayá Ribeiro (2002)
Em seus últimos livros, ela mergulhou na história de sua própria família, resgatando e celebrando suas raízes em “Fernando Gomes — Um Mestre no Século 19” e “O Jornalista Farroupilha”, sobre seu bisavô e trisavô, respectivamente.
A Filosofia de Vida: Bom Senso, Afeto e Humanidade
Celia defendia que o bom senso era o melhor conselheiro para a vida e que a maior parte das gafes poderia ser evitada ao “manter-se atento aos outros”. Ela ressaltava o poder do afeto e a importância da psicanálise em sua jornada, que a ajudou a cultivar o autoconhecimento e a capacidade de se colocar no lugar do outro – a verdadeira essência da etiqueta e das boas maneiras.
Sobre a tão associada elegância, Celia Ribeiro definia-a com simplicidade e sabedoria:
“Elegância é dar mais importância ao que cai bem do que aos ditames da moda. Infelizmente, muita gente acaba usando roupas ou acessórios que não favorecem para aparentar menos idade. Elegância é também ser educado, socialmente agradável, mesmo sendo tímido. Já a maior deselegância possível é a ostentação. Não existe nada mais deselegante do que ser deslumbrado.”
Sua percepção das transformações sociais também era aguda. Em uma entrevista de 2016, ela refletiu sobre a evolução da sociedade: “Em todos esses anos que eu vivi, o que mais mudou foi o preconceito. Até os anos 1940, tudo era feio, tudo era proibido, tudo era escondido. Hoje é muito mais fácil que se respeite a individualidade das pessoas. Foi um grande ganho.”
Um Legado que Permanece
Celia Ribeiro não foi apenas uma jornalista ou uma especialista em etiqueta. Ela foi uma observadora atenta da vida, uma comunicadora nata, e uma mulher que soube como poucos transitar entre diferentes épocas e plataformas, sempre com uma paixão inabalável pelo conhecimento e pelas pessoas. Seu legado, feito de inteligência, elegância e humanidade, continuará a inspirar e a guiar muitos no Rio Grande do Sul e além. Uma verdadeira decana da vida.
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