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Diaconato Feminino Hoje: Vaticano Mantém Porta Fechada para Ordenação Sacramental, Mas Debate Continua

Diaconato Feminino Hoje: Vaticano Mantém Porta Fechada para Ordenação Sacramental, Mas Debate Continua

temp_image_1764997161.706106 Diaconato Feminino Hoje: Vaticano Mantém Porta Fechada para Ordenação Sacramental, Mas Debate Continua

Diaconato Feminino Hoje: Vaticano Mantém Porta Fechada para Ordenação Sacramental, Mas Debate Continua

A questão da participação das mulheres no diaconato dentro da Igreja Católica tem sido um ponto de intenso debate e estudo por décadas. Hoje, o Vaticano trouxe à luz as conclusões da segunda comissão de estudo sobre o diaconato feminino, e o veredito, embora não seja o “fim da linha”, representa um marco significativo na discussão.

O relatório, enviado ao Papa Francisco em setembro e agora tornado público, indica que a ordenação de mulheres ao diaconato, nos moldes do Sacramento da Ordem, não encontra respaldo na pesquisa histórica e teológica atual. Essa conclusão, liderada pelo Cardeal Giuseppe Petrocchi, Arcebispo emérito de L’Aquila, Itália, acende novamente o debate sobre o papel da mulher na Igreja.

A Posição do Vaticano: O Que Foi Decidido?

A principal conclusão da comissão é clara:

“O status quaestionis da pesquisa histórica e da investigação teológica, bem como suas implicações mútuas, exclui a possibilidade de avançar na admissão de mulheres ao diaconato entendido como um grau do sacramento da Ordem. À luz da Sagrada Escritura, da Tradição e do Magistério da Igreja, esta avaliação é fortemente mantida, embora não permita, no momento, formular um juízo definitivo, como é o caso da ordenação sacerdotal.”

Isso significa que, no momento atual, a Igreja não vê base para a ordenação sacramental de mulheres como diaconisas. No entanto, a ressalva “não permite um juízo definitivo” deixa uma porta aberta para futuros desenvolvimentos ou novas compreensões, distinguindo-o da ordenação sacerdotal, que já possui um julgamento definitivo de que é reservada apenas a homens.

Um Debate de Duas Décadas e Duas Comissões

A discussão não é recente. Desde 2016, por iniciativa do Papa Francisco, comissões têm se debruçado sobre a questão. A primeira comissão (2016-2018) não chegou a um consenso claro. Em 2020, o Papa instituiu uma nova comissão, presidida pelo Cardeal Petrocchi, para aprofundar a pesquisa.

Os trabalhos da segunda comissão, que se estenderam até fevereiro de 2025 (data de encerramento da última sessão de trabalho), analisaram extensivamente a história do diaconato e suas implicações teológicas. Em 2021, a comissão reconheceu que a Igreja, em diferentes épocas e lugares, teve a figura da “diaconisa”, mas sem um significado unívoco em relação ao sacramento da Ordem.

Argumentos em Foco: Prós e Contras da Ordenação

O relatório detalha os argumentos que foram considerados ao longo da pesquisa. A complexidade do tema reside na intersecção de questões históricas, teológicas e sociais.

A Favor da Ordenação:

  • Igualdade Fundamental: A igualdade entre homem e mulher como imagem de Deus e a igual dignidade de ambos os gêneros, baseadas na referência bíblica (Gálatas 3:28: “Não há mais judeu nem grego, escravo nem livre, homem nem mulher, pois todos vocês são um em Cristo Jesus”).
  • Desenvolvimento Social: As mudanças sociais que promovem o acesso igualitário a todas as funções institucionais e operacionais.
  • Ministério e Não Sacerdócio: A tese de que a ordenação diaconal seria para o serviço ministerial e não para o sacerdócio, abrindo caminho para mulheres.

Contra a Ordenação Sacramental:

  • Masculinidade de Cristo: A argumentação de que a masculinidade de Cristo, e consequentemente a dos que recebem a Ordem Sacra, não é acidental, mas parte integrante da identidade sacramental, preservando a ordem divina da salvação.
  • Unidade do Sacramento da Ordem: A insistência na unidade do sacramento da Ordem (composto por bispado, presbiterato e diaconato) e no sentido nupcial dos três graus. Argumenta-se que, se a admissão de mulheres ao primeiro grau fosse aprovada, a exclusão dos outros se tornaria “inexplicável”.

A Busca por Novos Ministérios e o Futuro

Apesar da conclusão sobre o diaconato sacramental, a comissão expressou, por ampla maioria (nove votos a um), o desejo de que “o acesso das mulheres aos ministérios instituídos para o serviço da comunidade possa ser expandido”. Isso visa garantir um adequado reconhecimento eclesial da diaconia dos batizados, especialmente das mulheres. Esse reconhecimento seria um “sinal profético”, particularmente onde as mulheres ainda sofrem discriminação de gênero.

O Cardeal Petrocchi enfatiza que existe uma “dialética intensa” entre as orientações teológicas. Ele aponta para a necessidade de um exame crítico “rigoroso e abrangente focado no diaconato em si – isto é, em sua identidade sacramental e em sua missão eclesial”, para clarificar aspectos estruturais e pastorais que ainda não estão totalmente definidos.

Isso é crucial, especialmente considerando que em alguns continentes o ministério diaconal é “quase inexistente”, enquanto em outros, as funções dos diáconos frequentemente coincidem com os papéis próprios de ministérios leigos ou de acólitos na liturgia.

Conclusão: Um Caminho em Construção

O relatório da comissão papal reflete a complexidade de um tema que envolve teologia milenar, tradição e a evolução do papel da mulher na sociedade e na Igreja. Embora a porta para a ordenação sacramental de mulheres como diaconisas esteja fechada hoje, o documento não encerra a discussão, mas a direciona para a expansão de outros ministérios femininos e um aprofundamento na compreensão do próprio diaconato.

A jornada da Igreja para integrar plenamente o serviço das mulheres continua, talvez por novos caminhos que ainda estão sendo delineados.

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