
IPCA-15 de Maio: Sinal Verde para o Fim da Alta da Selic na Economia Brasileira?

IPCA-15 de Maio: Sinal Verde para o Fim da Alta da Selic na Economia Brasileira?
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) de maio trouxe um alívio para a economia brasileira, registrando uma alta de apenas 0,36%. O número veio abaixo da mediana das projeções do mercado, alimentando a tese de que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central poderá, em sua próxima reunião de junho, interromper o ciclo de alta da taxa Selic iniciado em setembro do ano passado.
Analistas destacam que a surpresa positiva veio de itens como alimentos in natura e de alguns preços de serviços, indicando um possível arrefecimento das pressões inflacionárias em segmentos importantes.
O Balanço Qualitativo e as Visões dos Especialistas
Para muitos economistas, o resultado qualitativo do IPCA-15 de maio foi o mais animador do ano. Leonardo Costa, economista do ASA, aponta uma desaceleração tanto do núcleo de serviços quanto do de bens. Contudo, ele ressalta que, apesar da melhora na margem, os patamares dos núcleos de inflação ainda preocupam, permanecendo incompatíveis com o intervalo da meta de inflação (3,0% com teto de 4,5% para 2025).
Ainda assim, a desaceleração é vista como um passo na direção certa. Costa reforça a expectativa de que o Banco Central mantenha a Selic em 14,75% na reunião de junho.
Luis Otávio Leal, sócio e economista chefe da G5 Partners, vai além e considera o IPCA-15 de maio como um número positivo e "ponto", sem ressalvas significativas. Ele destaca a comparação interanual, onde os 0,36% de maio de 2025 ficaram abaixo dos 0,44% de maio de 2024. Leal acredita que este dado reforça a probabilidade de a Selic ser mantida, com a curva de juros de mercado já refletindo essa expectativa, elevando a chance de estabilidade para 76%.
Rafaela Vitoria, economista-chefe do Inter, concorda que a leitura qualitativa foi mais benigna, mostrando sinais de desaceleração nos núcleos e nos serviços. Ela também projeta a manutenção da Selic em 14,75% a partir de junho, mas alerta que ainda é cedo para falar em cortes na taxa de juros. A possibilidade de redução da Selic dependerá, em sua visão, da ausência de novos estímulos fiscais e de um maior controle dos gastos públicos, fatores que poderiam consolidar o processo desinflacionário.
Os Desafios e a Visão Cautelosa
Nem todos os analistas, entretanto, veem o cenário com a mesma clareza de uma pausa iminente.
Claudia Moreno, economista do C6 Bank, apesar de reconhecer a surpresa positiva no mês, chama a atenção para o fato de o índice acumulado em 12 meses ainda estar em 5,40%, acima do teto da meta. Ela salienta que os núcleos de inflação seguem em trajetória de alta, especialmente a inflação de serviços subjacentes, que subiu para 6,6% em 12 meses. Para Claudia, o cenário ainda é desafiador, com pressões vindas do mercado de trabalho aquecido e da perspectiva de depreciação do câmbio. Mantendo, por enquanto, a projeção de um aumento residual de 0,25 p.p na Selic em junho, ela admite que o dado de maio aumenta a chance de estabilidade, projetando a Selic a 15% ou 14,75% até o fim de 2025.
Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research, também analisa o lado qualitativo, notando melhora em diversas medidas acompanhadas de perto pelo Banco Central, como bens industriais e serviços subjacentes. Ele destaca que o índice de difusão, que mede o espalhamento da inflação, também arrefeceu. No entanto, aponta o lado negativo na comparação interanual de vários indicadores, que ainda mostram aceleração.
Sung lembra que a ata da última reunião do Copom reforçou a preocupação com a inflação de serviços, que tem maior inércia e segue acima do nível compatível com a meta, em um contexto de hiato positivo na atividade econômica. Ele conclui que, embora o alívio pontual do IPCA-15 seja bem-vindo, as medidas qualitativas da inflação ainda exigem cautela. A consolidação do fim do ciclo de alta dependerá de dados futuros mais benignos, especialmente sobre atividade e mercado de trabalho, somados a fatores como a recente elevação do IOF e a dinâmica do câmbio e commodities.
O Que Esperar Para Junho?
O dado do IPCA-15 de maio, divulgado pelo IBGE, sem dúvida, adiciona um peso significativo ao argumento pela interrupção do ciclo de aperto monetário pelo Banco Central do Brasil em sua próxima reunião. Embora as pressões inflacionárias subjacentes e o cenário fiscal ainda exijam vigilância, a surpresa positiva no indicador preliminar de maio oferece um respiro e reforça a expectativa majoritária do mercado: a Selic deve ser mantida em 14,75% em junho, marcando o fim da sequência de altas.
A decisão final do Copom será crucial para definir os próximos passos da economia brasileira e ditar o ritmo das expectativas para a inflação e os juros nos meses seguintes.
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