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Mãe Carmen: A Eterna Guardiã do Gantois e o Legado Imortal do Candomblé no Brasil

Mãe Carmen: A Eterna Guardiã do Gantois e o Legado Imortal do Candomblé no Brasil

temp_image_1766755067.023213 Mãe Carmen: A Eterna Guardiã do Gantois e o Legado Imortal do Candomblé no Brasil

Mãe Carmen: A Eterna Guardiã do Gantois e o Legado Imortal do Candomblé no Brasil

Salvador, Bahia – O Brasil se despede de uma de suas mais reverenciadas matriarcas espirituais. Faleceu aos 98 anos, Mãe Carmen de Òṣàgyían, a Ìyáloriṣa que esteve à frente do renomado Ìlé Ìyá Omi Àṣe Ìyámaṣé, popularmente conhecido como Terreiro do Gantois, por 23 anos. A notícia, confirmada nas redes sociais oficiais do Gantois, ressoa como um marco para o Candomblé na Bahia e em todo o país, marcando o fim de uma era de liderança sábia e devota.

A Associação de São Jorge Ebé Oxóssi expressou seu profundo pesar em um comunicado emocionante: "É com profundo pesar, respeito e reverência que a Associação de São Jorge Ebé Oxóssi comunica a passagem da Ìyáloriṣa do Ìlé Ìyá Omi Àṣe Ìyámaṣé, Mãe Carmen de Òṣàgyían. Ìyáloriṣa, mulher de axé, guardiã da ancestralidade e herdeira de uma linhagem que pavimentou a história do Candomblé na Bahia e no Brasil."

Uma Vida Dedicada ao Axé e à Ancestralidade

Mãe Carmen, nascida Carmen Oliveira da Silva em 1926, era a filha mais nova de outra gigante da fé, Maria Escolástica da Conceição Nazareth, a icônica Mãe Menininha do Gantois (1894-1986). Sua trajetória, desde a infância, foi pavimentada para a missão espiritual. Iniciada no Candomblé aos sete anos, sua vida foi uma constante preparação nos fundamentos, ritos e saberes que sustentam uma nação.

Assumindo o trono do Gantois em 2002, Mãe Carmen conduziu a Casa com uma combinação de amor, coragem e responsabilidade inabaláveis. Por mais de duas décadas, ela personificou o significado de ser Ìyáloriṣa: cuidar, proteger, orientar e sustentar o axé com dignidade, firmeza e sabedoria, zelando incansavelmente pela comunidade e pela continuidade de uma tradição ancestral que é pilar da cultura afro-brasileira.

Guardiã da História e Reconhecimento Nacional e Internacional

O Terreiro do Gantois, fundado em 1849 e tombado como Patrimônio Histórico e Etnográfico do Brasil, encontrou em Mãe Carmen uma guardiã exemplar. Ao longo de sua vida, ela desempenhou um papel fundamental na preservação das tradições de sua família, cuja ancestralidade remonta diretamente à África. Seu compromisso com o diálogo inter-religioso e a valorização da cultura afro-brasileira lhe rendeu reconhecimento mundial.

  • 2010: Recebeu a prestigiada "Medalha dos 5 Continentes ou da Diversidade Cultural", concedida pela UNESCO, em reconhecimento ao seu trabalho incansável.
  • 2011: Foi homenageada com a composição da música "A Força do Gantois", um tributo do renomado sambista Nelson Rufino.

Sua liderança não se limitou ao universo religioso, alcançando esferas culturais e sociais, tornando-a uma figura de projeção e respeito muito além dos muros do Gantois.

O Axé Que Permanece: Ensinamentos Vivos

Internada havia duas semanas no Hospital Português, em Salvador, devido a uma forte gripe, Mãe Carmen partiu pouco antes de completar 99 anos em 29 de janeiro. Ela deixa duas filhas, três netos e quatro bisnetos, um legado familiar de fé e força.

Apesar da despedida física, a certeza que ecoa é a da permanência de seu axé. Como afirmado pelo Terreiro do Gantois: "Seus ensinamentos seguem vivos, sua missão continua inscrita na história e sua memória permanece como fonte de força, amor e sabedoria para as gerações que virão." A vida de Mãe Carmen é um testemunho da resiliência, sabedoria e beleza da religião de matriz africana no Brasil.

Para aqueles que desejam aprofundar-se na história e no impacto do Terreiro do Gantois, um patrimônio vivo do Candomblé, recomendamos visitar fontes oficiais e históricas. O legado da Ìyáloriṣa Mãe Carmen, com sua fé inabalável e dedicação à ancestralidade, continuará a inspirar e guiar a todos.

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