
Marcelo Beraba: Morre o Ícone do Jornalismo Investigativo e Fundador da Abraji

O jornalismo brasileiro se despede de um de seus maiores pilares. Morreu, aos 74 anos, o jornalista Marcelo Beraba, um dos idealizadores e fundadores da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo). Beraba faleceu nesta segunda-feira (28 de julho de 2025), no Rio de Janeiro, vítima de um tumor no cérebro. Ele estava internado no Hospital Copa D’Or, deixando um legado imensurável de ética, rigor e coragem.
Uma Trajetória Brilhante nas Maiores Redações do País
Nascido no Rio de Janeiro em 1951, Marcelo Beraba dedicou quase cinco décadas à imprensa. Formado pela UFRJ, iniciou sua jornada em 1971 no jornal O Globo e rapidamente se destacou. Sua carreira foi marcada por passagens nos principais veículos de comunicação do Brasil, onde exerceu funções de liderança com maestria e respeito.
- Folha de S.Paulo: Atuou por mais de duas décadas, ocupando cargos como secretário de Redação e ombudsman (2004-2007). Foi peça-chave na modernização editorial do jornal.
- Outros Veículos: Sua expertise também marcou o Jornal do Brasil, a TV Globo e O Estado de S. Paulo.
- Liderança Respeitada: Conhecido pelo tratamento cordial, chamava seus colegas de “mestre”, um vocativo que se tornou sua marca registrada nas redações.
Coberturas que Marcaram a História
Beraba esteve à frente de algumas das coberturas jornalísticas mais importantes do Brasil. Sua liderança foi crucial na apuração de casos como o “buraco” de Serra do Cachimbo, que revelou os planos de testes nucleares do regime militar, e o vazamento radioativo em Angra dos Reis, ambos em 1986. Também coordenou a cobertura das Diretas Já (1984) e da primeira eleição presidencial direta em 1989.
O Nascimento da Abraji: Um Legado para a Liberdade de Imprensa
O ponto de virada na carreira de Marcelo Beraba e na história do jornalismo brasileiro aconteceu em 2002. Após o brutal assassinato do jornalista Tim Lopes, Beraba liderou um movimento para criar uma entidade que defendesse a segurança dos profissionais e promovesse o aprimoramento do jornalismo investigativo.
Assim nasceu a Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), com Beraba como seu primeiro presidente, cargo que ocupou até 2007. Sob sua gestão, a associação se tornou uma referência nacional e internacional na defesa da liberdade de imprensa e na formação de repórteres.
Reconhecimento Internacional
Em 2005, seu trabalho incansável foi reconhecido com o Prêmio Excelência em Jornalismo do ICFJ (International Center for Journalists), em Washington. A premiação consolidou sua reputação como um dos mais importantes jornalistas do Brasil no cenário global.
A Palavra do Mestre: Depoimento de Fernando Rodrigues
Fernando Rodrigues, diretor de Redação do Poder360 e um dos cofundadores da Abraji, foi subordinado de Beraba na Folha de S.Paulo e relembrou o legado do amigo:
“Marcelo Beraba deve sempre ser lembrado como exemplo pelos conceitos escorreitos e objetivos que defendeu para esta que é a mais linda das profissões. […] Generoso, Beraba ajudava a definir meticulosamente como as pautas poderiam e deveriam ser executadas. Sugeria fontes. Dava os números de telefones. Facilitava a vida do repórter. […] Aquele e-mail de Beraba foi o nascimento da Abraji, a mais respeitada organização de jornalistas no Brasil. Beraba foi seu idealizador maior. Os milhares de jornalistas que já foram e que ainda irão aos congressos da Abraji serão para sempre devedores de Beraba.”
Fernando Rodrigues
Mesmo após se aposentar em 2019, Marcelo Beraba continuou a inspirar novas gerações, ministrando cursos e oficinas. Sua morte representa uma perda imensa, mas seu legado de rigor, ética e paixão pelo jornalismo investigativo permanecerá vivo através da Abraji e dos inúmeros profissionais que ele formou. Ele deixa a mulher, a jornalista Elvira Lobato, quatro filhos e três netos.
Compartilhar: