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O Chamado da Alma: De Refugiados a um Professor em Tóquio – Histórias Reais de Conversos e Chabad

O Chamado da Alma: De Refugiados a um Professor em Tóquio – Histórias Reais de Conversos e Chabad

temp_image_1748831870.832303 O Chamado da Alma: De Refugiados a um Professor em Tóquio – Histórias Reais de Conversos e Chabad

O Chamado da Alma: De Refugiados a um Professor em Tóquio – Histórias Reais de Conversos e Chabad

Em honra a Shavuos, uma festividade judaica intimamente ligada aos conversos (geirim), exploramos narrativas surpreendentes de indivíduos que abraçaram o judaísmo e tiveram conexões marcantes com o movimento Chabad. Suas jornadas atravessaram continentes, das aldeias isoladas da Rússia Imperial aos centros urbanos do Extremo Oriente, incluindo a metrópole de Tóquio.

Shavuos celebra o momento em que a nação judaica aceitou a Torá no Monte Sinai, um ato considerado a conversão coletiva do povo. É por isso que a leitura de Megilat Rut, a história de uma notável convertida, é costume nesse dia. A ligação entre Shavuos e os geirim nos convida a refletir sobre a força do chamado espiritual que impulsiona almas a se unirem ao povo judeu, muitas vezes enfrentando barreiras e perigos imensos.

Perseguição e Resiliência: Conversões na Rússia Imperial

Sob o jugo do Império Russo, a conversão ao judaísmo era estritamente proibida e severamente punida. A simples menção do tema era censurada. Rabinos temiam realizar conversões, e obras haláchicas publicadas na Rússia precisavam de notas explicitando que as leis de conversão só se aplicavam “em países onde o governo permite”. Até mesmo manuscritos mostravam autocensura.

O Burgomestre R. Aryeh e a Providência Divina

Uma história da época do Alter Rebbe, fundador de Chabad, ilustra o perigo. R. Aryeh, um oficial de cidade judeu (burgomestre), foi solicitado a ajudar a proteger um converso recém-chegado, ocultando sua identidade através de documentos de um falecido. Ele concordou, mas foi traído e preso. Em grande perigo, buscou conselho com o Alter Rebbe, que o orientou a adiar o julgamento repetidamente.

Finalmente, quando o adiamento não era mais possível, o Rebbe sugeriu que R. Aryeh buscasse a ajuda do santo Rav Levi Yitzchak de Berditchev durante um casamento. Após grandes esforços para se aproximar do renomado rabino, R. Aryeh foi recebido. Ao saber que R. Aryeh era discípulo do Alter Rebbe e que havia aceitado o cargo de burgomestre por orientação do Rebbe, Rav Levi Yitzchak exclamou: “Ah! Então meu *mechutan*, o gaon e tzadik, lhe disse para ocupar essa posição. Então, D’us o ajudará e protegerá de todo problema!”

De volta ao Alter Rebbe, R. Aryeh relatou o ocorrido. O Rebbe perguntou: “Nu, eu te dei um bom conselho, não foi?” No dia anterior ao julgamento, um incêndio destruiu o tribunal e todos os documentos, incluindo a acusação contra R. Aryeh, salvando-o milagrosamente.

R. Zalman Zezmer e o Exílio Evitado

Outra história envolve R. Zalman Zezmer durante a época do Miteler Rebbe (filho do Alter Rebbe). R. Zalman, junto com outros rabinos, realizou um giyur (conversão formal) para uma mulher, um ato proibido. Foram denunciados, julgados e R. Zalman foi sentenciado ao exílio na Sibéria.

Poucos dias antes da sentença ser cumprida, R. Zalman faleceu e foi enterrado. Quando o oficial chegou para prendê-lo, foi informado de sua morte. Não acreditando, ordenou que o túmulo fosse aberto para provar. Assim, as palavras do Miteler Rebbe, que numa ocasião anterior dissera que enviaria R. Zalman para a Sibéria (num contexto diferente), se cumpriram de forma inesperada, e R. Zalman foi salvo do sofrimento do exílio.

Os Subbotniks: Um Movimento Único

O episódio de conversão mais notável na Rússia foram os Subbotniks. Camponeses cristãos ortodoxos que, no século XVIII, se afastaram da Igreja e passaram a observar o Shabat (Subbota em russo), baseando-se apenas no Tanach. Eram chamados de “Judaizantes” e perseguidos.

Apesar da proibição, alguns Subbotniks eventualmente tiveram contato com judeus e começaram a adotar práticas mais formais, considerando-se judeus. O status haláchico dessa comunidade é complexo e debatido, mas a história registra encontros fascinantes entre Subbotniks e chassidim:

  • Três famílias de Subbotniks de Kazan converteram-se formalmente e, expulsas da Rússia, visitaram Lubavitch em busca de conselho do Rebbe Maharash (quarto Rebbe de Chabad) antes de seguir para a Terra Santa.
  • Em 1898, um Subbotnik da região de Tambov, onde vivia uma comunidade de 2000 “conversos”, viajou à cidade chassídica de Homel para aprender shechitá (abate ritual) com R. Leib Chasdan, o shochet local e chassid. A superação da barreira linguística para transmitir as complexas leis foi um testemunho da sinceridade de ambos.
  • O Rebbe (sexto Rebbe de Chabad) contou que três Subbotniks idosos visitaram seu pai em Yekatrinoslav durante a Primeira Guerra Mundial, perguntando se Mashiach estava chegando e pedindo para serem notificados, pois temiam que ele não passasse por sua pequena aldeia.

Da Guerra à Conversão: O Professor de Tóquio

Nossa jornada histórica nos leva agora para o Extremo Oriente, durante a Segunda Guerra Mundial, e a conexão surpreendente de um distinto acadêmico com os judeus e, posteriormente, com Chabad – na cidade de Tóquio.

Setsuzo Kotsuji, nascido em Kyoto e descendente de uma família de sacerdotes xintoístas, tornou-se monoteísta e estudou hebraico, tornando-se professor na Universidade de Tóquio. Durante a guerra, quando milhares de refugiados judeus chegavam ao Japão com vistos de trânsito, Kotsuji usou sua influência para ajudá-los a permanecer.

Ele trabalhou para combater a propaganda antissemita alemã no Japão, sendo preso e torturado por isso. R. Pinchas Hirschprung, um dos refugiados (que mais tarde se tornou o Rav de Montreal), escreveu sobre Kotsuji em suas memórias, destacando sua bondade e assistência vital aos refugiados judeus em Kobe e Shanghai.

Kotsuji conseguiu permissão para que os refugiados abrissem yeshivás (escolas rabínicas) no Japão. Ele era apaixonado pela língua hebraica e a ensinava, incentivando os estudantes rabínicos a “salvar a Torá da conflagração” e levá-la consigo, onde quer que fossem.

Quinze anos após o fim da guerra, em 1959, Setsuzo Kotsuji deu o passo final: converteu-se formalmente ao judaísmo em Jerusalém, adotando o nome hebraico Avraham. Foi calorosamente recebido pelos refugiados que ajudara. Notícias da época indicam uma forte conexão com Chabad em Israel, onde ele frequentou a sinagoga de Chabad, passou Shabat com rabinos proeminentes e visitou Kfar Chabad.

A conexão se aprofundou: o Lubavitcher Rebbe (sétimo Rebbe de Chabad) mostrou interesse em que a esposa do professor Kotsuji também se convertesse, chegando a instruir emissários a ajudar nisso. Embora a extensão e fonte exatas da relação de Kotsuji com o Rebbe permaneçam em parte um mistério, é claro que sua jornada o levou a um contato significativo com o movimento Chabad.

O Professor Avraham Kotsuji passou seus últimos anos em Nova York e depois retornou ao Japão, falecendo pouco depois. Ele foi sepultado em Jerusalém, um testemunho final de sua dedicação ao povo e à fé que abraçou.

Conclusão

As histórias de conversos com conexões Chabad, da Rússia à Tóquio, são um poderoso lembrete da profundidade do chamado da alma judaica e da resiliência daqueles que buscam a verdade, mesmo diante de perseguições implacáveis e vastas distâncias geográficas. Elas ecoam a mensagem de Shavuos – a aceitação da Torá não é apenas um evento histórico, mas um convite contínuo a todas as almas que desejam se conectar à santidade.

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