
Pirarucu Fora da Amazônia: O Gigante que Virou Risco Ecológico em Outros Estados

Pirarucu Fora da Amazônia: O Gigante que Virou Risco Ecológico em Outros Estados
Conhecido pela sua imponência e sabor, o pirarucu (Arapaima gigas) é um dos maiores peixes de água doce do mundo, um verdadeiro símbolo da vasta Bacia Amazônica. Nativos de rios caudalosos como Amazonas, Xingu e Solimões, esses gigantes podem alcançar impressionantes 3 metros de comprimento e pesar mais de 200 kg. Sua história é milenar, com registros de fósseis que datam de mais de 100 milhões de anos, sugerindo que coexistiram com dinossauros, conforme informações da Embrapa.
Onde o Pirarucu está Aparecendo Fora de Casa?
Recentemente, o pirarucu tem sido avistado com frequência crescente em águas distantes de seu bioma original. Registros apontam sua presença em rios, represas e criadouros de estados como Bahia, São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
Sua chegada a essas novas localidades geralmente ocorre por meio de escapes de criadouros ou, de forma preocupante, por solturas ilegais propositais – uma prática que representa um sério risco ambiental.
Por Que a Presença do Pirarucu Fora da Amazônia Preocupa?
Embora seja uma espécie vital e manejada de forma sustentável em seu habitat natural, o pirarucu é considerado uma espécie exótica nas bacias hidrográficas de outros estados. E é aqui que reside o perigo:
- Falta de Predadores Naturais: Fora da Amazônia, o pirarucu não enfrenta os mesmos predadores que controlam sua população em seu bioma de origem.
- Ameaça a Espécies Nativas: Seu grande tamanho e apetite o tornam um predador eficiente, capaz de consumir peixes e invertebrados nativos, levando à diminuição de suas populações ou até mesmo à extinção local de algumas espécies.
- Competição por Recursos: O pirarucu compete por alimento e espaço com as espécies locais, alterando o equilíbrio ecológico do ambiente.
Lidiane Franceschini, doutora em zoologia pela Unesp, alerta para o potencial desequilíbrio. Sem controle natural, o pirarucu pode impactar seriamente a biodiversidade brasileira fora da Amazônia. Por isso, órgãos ambientais como a Semil (Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística do Estado de São Paulo) recomendam enfaticamente que peixes exóticos como o pirarucu, uma vez capturados, não sejam devolvidos à água.
Manejo Sustentável na Amazônia vs. Espécie Invasora Fora Dela
É importante diferenciar a situação do pirarucu na Amazônia e em outras regiões. Na Bacia Amazônica, a pesca e o manejo do pirarucu são exemplos de sucesso em conservação. Sob a regulamentação do IBAMA e com a participação de comunidades locais e pesquisadores (como os do INPA), a captura é permitida apenas em áreas de manejo autorizadas e com cotas limitadas, garantindo a saúde da população da espécie.
Já nos estados onde é exótico, a abordagem pode ser diferente. No Mato Grosso, por exemplo, a Sema (Secretaria Estadual de Meio Ambiente) chegou a permitir a pesca do pirarucu em rios como o Teles Pires e o Juruena em 2024, justamente pela preocupação com seu status de espécie invasora nesses locais específicos.
Valor Econômico e a Lenda do Gigante
A carne do pirarucu é muito apreciada no mercado, alcançando preços que podem variar de R$ 30 a R$ 300 o quilo, dependendo do corte e da qualidade. Essa valorização impulsiona tanto o manejo sustentável na Amazônia quanto a criação em cativeiro em outras regiões – atividade que, reforçamos, precisa ser rigorosamente controlada para evitar escapes.
Além de sua importância ecológica e econômica, o pirarucu é tema de ricas lendas indígenas. Uma das mais conhecidas narra a transformação de um guerreiro perverso em peixe como castigo do deus Tupã, explicando a cauda avermelhada do animal.
Conclusão: Um Desafio para a Biodiversidade
O pirarucu é uma criatura fascinante com um papel crucial em seu ecossistema de origem. Contudo, sua expansão para outras bacias hidrográficas brasileiras, muitas vezes facilitada pela ação humana irresponsável, representa um sério desafio ambiental. O monitoramento, a fiscalização rigorosa contra solturas ilegais e a conscientização pública sobre os riscos das espécies exóticas são passos fundamentais para proteger a rica biodiversidade do Brasil fora da Bacia Amazônica.
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