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Quem é Robert Sarah? O Cardeal Conservador e Crítico do Papa Francisco

Quem é Robert Sarah? O Cardeal Conservador e Crítico do Papa Francisco

temp_image_1746632842.610432 Quem é Robert Sarah? O Cardeal Conservador e Crítico do Papa Francisco

Cardeal Robert Sarah: A Voz Conservadora que Desafia o Vaticano

No cenário complexo e muitas vezes turbulento da Igreja Católica contemporânea, poucas figuras se destacam com a intensidade e a controvérsia do Cardeal Robert Sarah. Nascido na Guiné, o prelado de 79 anos emergiu como um dos críticos mais francos do Papa Francisco e uma das principais vozes da ala conservadora dentro do Vaticano.

Sua postura firme em questões doutrinárias e litúrgicas o colocou frequentemente em rota de colisão com as abordagens mais pastorais e reformistas do pontífice argentino. Mas quem é realmente Robert Sarah e qual o peso de suas palavras no tabuleiro da Igreja?

Uma Trajetória Marcada pela Rapidez e Coragem

A história de Robert Sarah é notável desde o início. Nascido em Ourous, uma aldeia remota em uma região predominantemente muçulmana e animista da Guiné, ele foi nomeado arcebispo de Conakry em 1979, com apenas 34 anos. Na época, era o bispo mais jovem do mundo, ganhando do Papa João Paulo II o apelido de “o bispo menino”.

Como arcebispo, Sarah demonstrou coragem ao denunciar publicamente os abusos do regime autoritário de Sékou Touré, um período tenso que moldou sua percepção sobre a liberdade e a verdade.

Ascensão no Vaticano e Primeiros Sinais de Tensão

Em 2001, Sarah foi chamado a Roma para servir na Congregação para a Evangelização dos Povos. Seu perfil discreto, porém firme, chamou a atenção, e em 2010, o Papa Bento XVI o nomeou presidente do Pontifício Conselho Cor Unum, responsável pela coordenação das atividades de caridade da Igreja em nível global. Pouco depois, Bento XVI o fez cardeal, o primeiro na história da Guiné.

A mudança mais significativa em sua carreira veio em 2014, quando o Papa Francisco o nomeou prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos. Embora formalmente uma promoção, muitos interpretaram o movimento como uma tentativa de afastá-lo dos centros de decisão mais estratégicos. No entanto, foi a partir dessa posição que Sarah consolidou sua imagem como defensor da liturgia tradicional e crítico das reformas.

O Cardeal e Suas Críticas ao Papa Francisco

A tensão entre Robert Sarah e o Papa Francisco se tornou mais evidente e pública ao longo dos anos. Sarah não hesitou em expressar seu desacordo com decisões importantes do pontificado, tornando-se um porta-voz influente para aqueles que veem as mudanças de Francisco com ceticismo ou oposição.

Divergências sobre as Bênçãos a Casais em “Situação Irregular”

Um dos momentos de maior fricção ocorreu após a publicação da declaração Fide Supplicans, que abriu a possibilidade de abençoar casais em situações consideradas “irregulares” pela Igreja, incluindo uniões do mesmo sexo. Sarah reagiu com veemência, chegando a se referir à declaração como obra do “Divisor”, uma clara alusão a Satanás. Para ele, tal medida representava uma quebra doutrinária inaceitável.

Defesa da Missa Latina Tradicional

Outro ponto de forte desacordo foi a restrição à celebração da Missa Latina tradicional, imposta pelo Papa Francisco através do motu proprio Traditionis Custodes. Sarah, um fervoroso defensor dessa forma litúrgica, utilizou o mesmo termo, “Divisor”, para classificar o decreto, demonstrando a profundidade de sua oposição e a visão de que tais mudanças minam a unidade e a tradição da Igreja.

Visão Complexa Sobre a Igreja na África

A relação de Robert Sarah com seu continente natal é, de certa forma, paradoxal. Por um lado, ele elogia a clareza doutrinária e a fidelidade à tradição dos bispos africanos, contrastando-as com o que ele vê como fraquezas em algumas epifanias ocidentais.

“Os bispos africanos, em sua pobreza, são hoje os arautos da verdade divina diante do poder e da riqueza de certos episcopados ocidentais”, disse o Cardeal Sarah em abril de 2024, criticando prelados ocidentais como “paralisados pela ideia de se opor ao mundo” e tentados por um “ateísmo fluido e prático”.

Por outro lado, ele não poupa críticas a certas expressões litúrgicas africanas, as quais já descreveu como “muito ordinárias e muito barulhentas, muito africanas e não cristãs o suficiente”. Essa tensão – elogiar a ortodoxia doutrinária africana enquanto critica seus estilos litúrgicos – reflete a complexidade de sua visão sobre a evangelização e a inculturação.

Influência e Vida Pós-Aposentadoria

Desde sua aposentadoria em fevereiro de 2021, Robert Sarah tem passado grande parte do tempo na França. Lá, ele continua sendo uma figura de destaque e referência para católicos tradicionalistas e veículos de comunicação conservadores, mantendo sua influência e o papel de voz crítica dentro da Igreja. Seu legado é o de um prelado que, vindo de origens humildes na África, ascendeu aos mais altos cargos do Vaticano, mas escolheu a lealdade à tradição e à doutrina tal como as entende, mesmo que isso signifique confrontar a liderança papal.

A figura do Cardeal Robert Sarah permanece, portanto, central para entender as dinâmicas internas e as tensões ideológicas que moldam o futuro da Igreja Católica no século XXI.

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