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Quem foi Tereza de Benguela? A história da rainha quilombola que inspira o Dia da Mulher Negra

Quem foi Tereza de Benguela? A história da rainha quilombola que inspira o Dia da Mulher Negra

temp_image_1753444876.26179 Quem foi Tereza de Benguela? A história da rainha quilombola que inspira o Dia da Mulher Negra

No coração da história do Brasil, muitas vezes silenciada, pulsa a força de figuras extraordinárias. Uma delas é Tereza de Benguela, uma rainha africana que liderou um dos maiores e mais estruturados quilombos do período colonial. Sua história não é apenas um relato de resistência à escravidão, mas um testamento de liderança, estratégia política e coragem que inspira gerações até hoje, sendo celebrada em 25 de julho, o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra.

Quem foi Tereza de Benguela, a ‘Rainha Tereza’?

Embora os registros sobre sua origem sejam escassos, acredita-se que Tereza tenha sido trazida da África para o Brasil no século XVIII, possivelmente da região de Benguela, em Angola, o que explicaria seu nome. Ela chegou ao Mato Grosso, uma região de intensa mineração e, consequentemente, de brutal exploração de mão de obra escravizada. Foi nesse cenário que emergiu o Quilombo do Quariterê, um refúgio de liberdade para negros e indígenas.

Após a morte de seu companheiro, José Piolho, Tereza assumiu a liderança do quilombo. Longe de ser apenas uma figura simbólica, ela se tornou a comandante política e militar da comunidade, governando com pulso firme por cerca de duas décadas, a partir de 1750.

Um ‘Parlamento Negro’ em Pleno Brasil Colônia

O que mais impressiona na liderança de Tereza de Benguela era sua sofisticada organização política. Sob seu comando, o Quariterê não era apenas um esconderijo, mas um verdadeiro Estado autônomo. A comunidade prosperava com a agricultura de algodão e milho, além da metalurgia, forjando não apenas ferramentas, mas também as armas que garantiam sua defesa.

A estrutura de governo era tão notável que foi registrada nos “Anais de Vila Bela” de 1770, um documento da então capital do Mato Grosso. O relato descreve um sistema que remete a um parlamento moderno:

“Governava esse quilombo a modo de parlamento, tendo para o conselho uma casa destinada… entravam os deputados, sendo o de maior autoridade, tipo por conselheiro, José Piolho… eram chamados pela rainha, que era a que presidia e que naquele negral Senado se assentava, e se executava à risca, sem apelação nem agravo.”

Anais de Vila Bela, 1770

Esse sistema de conselho, liderado por uma mulher negra, desafiava todas as estruturas de poder da época, baseadas na monarquia patriarcal e na escravidão.

A Queda do Quilombo e o Legado de Resistência

O sucesso do Quariterê, infelizmente, atraiu a atenção e a fúria da Coroa Portuguesa. Em 1770, uma expedição militar massiva foi enviada para destruir o quilombo. Após intensa resistência, a comunidade foi subjugada. Tereza de Benguela foi capturada, e seu destino é incerto. Alguns relatos históricos afirmam que ela cometeu suicídio para não voltar à condição de escravizada, enquanto outros dizem que foi assassinada.

Mesmo após o ataque, a semente da resistência plantada por Tereza não morreu. Décadas depois, novas expedições ainda encontravam remanescentes do quilombo, provando a resiliência de seu povo. Seu legado reside em:

  • Liderança Feminina: Uma mulher no comando de uma complexa estrutura política e militar.
  • Organização Política: A criação de um sistema parlamentar em um território de liberdade.
  • Resistência Multiétnica: A união de negros e indígenas na luta por autonomia.

Tereza de Benguela Vive: A Inspiração que Atravessa os Séculos

A figura de Tereza de Benguela não ficou perdida nos livros de história. Ela é uma força viva, especialmente para as mulheres quilombolas de hoje. Como afirma Alciléia Torres, jovem liderança do quilombo Kalunga (GO), “Tereza de Benguela está dentro de cada uma de nós que estamos resistindo, diariamente, dentro dos quilombos”.

Em reconhecimento à sua importância monumental, a Lei nº 12.987/2014 instituiu o 25 de julho como o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra, alinhando a data à celebração internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha.

Lembrar de Tereza é mais do que celebrar o passado; é reconhecer as raízes da luta por justiça e igualdade no Brasil e honrar a força da mulher negra que, ontem e hoje, constrói territórios de liberdade. Para saber mais sobre a história dos quilombos no Brasil, a Fundação Cultural Palmares é uma fonte de informação essencial.

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