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Uiraponga: A Cidade Fantasma que Alerta o Ceará – Ecos da Violência Ecoam até Mondubim

Uiraponga: A Cidade Fantasma que Alerta o Ceará – Ecos da Violência Ecoam até Mondubim

temp_image_1758216371.291128 Uiraponga: A Cidade Fantasma que Alerta o Ceará – Ecos da Violência Ecoam até Mondubim

Uiraponga: A Cidade Fantasma que Alerta o Ceará – Ecos da Violência Ecoam até Mondubim

No coração do sertão cearense, uma história de terror e abandono se desenrola, transformando o outrora pacato vilarejo de Uiraponga em um espectro de seu passado. Há poucos meses, este distrito de Morada Nova, a cerca de 170 km de Fortaleza, foi palco de uma brutal expulsão em massa, resultado da escalada da violência entre facções criminosas. Mais de dois mil moradores foram forçados a deixar suas casas, um drama que acende um alerta urgente para a segurança pública em todo o estado, reverberando em desafios enfrentados por outras localidades, como o bairro de Mondubim na capital.

O cenário atual de Uiraponga é desolador: ruas desertas, casas arrombadas, comércios fechados e pichações ameaçadoras que contam a história de um domínio imposto pelo medo. Onde antes havia vida e comunidade, hoje paira o silêncio, quebrado apenas pela presença esporádica de policiamento.

O Grito Silencioso de Uiraponga: Onde o Medo Expulsou Milhares

O que era uma comunidade vibrante, com sua igreja, posto de saúde e uma elogiada escola municipal, transformou-se em uma “cidade fantasma”. A história se repete, mas em Uiraponga, os fantasmas são as memórias de uma vida roubada pelo crime organizado. De quase dois mil habitantes, restam apenas cinco famílias, que persistem sem ter para onde ir, vivendo sob constante ameaça.

Um Vilarejo com História, Engolido pelo Crime

Até meados deste ano, Uiraponga era um microcosmo do interior brasileiro. “A escola parecia até particular”, recordou um ex-morador, sob anonimato, ao GLOBO. Contudo, havia uma lacuna crítica: a ausência de um posto policial permanente. Segundo Wagner Sousa Gomes, especialista em segurança pública, os pedidos de reforço policial foram ignorados, e sequer existia um prédio adequado para instalação de uma delegacia.

Hoje, a escola foi adaptada como base temporária para três policiais militares, mas a estrutura social do vilarejo está em ruínas. A igreja está vazia, o posto de saúde sem profissionais. A sensação geral, expressa por um dos poucos que aceitaram falar, é de que “o lugar acabou”.

A Trama Sombria das Facções: TCP Cangaço e GDE

A tragédia de Uiraponga é fruto de um conflito territorial entre duas facções: o TCP Cangaço (braço do Terceiro Comando Puro do Rio de Janeiro) e a Guardiões do Estado (GDE), originária do Ceará. A localização estratégica do vilarejo, entre seis cidades do Vale do Jaguaribe, o tornou um ponto crucial para o controle do tráfico, extorsão e pistolagem desde 2020.

Da Disputa Territorial à Expulsão em Massa

O ponto de inflexão ocorreu em março de 2023, quando uma operação policial enfraqueceu o TCP Cangaço, liderado por Gilberto de Oliveira Cazuza, o “Mingau”. Com a prisão de membros e a fuga de Mingau para o Rio de Janeiro, a GDE, sob comando de “Márcio da Viúva”, viu a oportunidade de expandir seu domínio.

Em uma escalada de violência, a GDE ordenou a execução de rivais em Uiraponga. A população local, que de alguma forma apoiava o TCP – seja por benefícios ou por medo – impediu as execuções. Em retaliação, um homem foi executado em praça pública, e os moradores receberam a ordem de expulsão. “Playboy”, um dos executores, teria decidido expulsar a comunidade para eliminar o apoio logístico aos rivais, conforme revelou um policial militar à reportagem original. Playboy foi preso em julho, mas Mingau segue foragido.

A Polícia Civil do Ceará (PCCE) tem intensificado as operações, com prisões recentes no Vale do Jaguaribe, mas a insegurança persiste. Para o especialista Wagner Sousa, “o Estado ainda não garantiu uma estrutura mínima para o retorno seguro dos moradores. Falta tudo”.

Uiraponga e o Alerta para o Ceará: Lições que ecoam em Mondubim

O caso de Uiraponga não é um incidente isolado, mas um doloroso reflexo da complexa e crescente crise de segurança pública no Ceará. A ausência do Estado, a fragilidade das instituições e a rápida expansão do poder das facções criminosas criam um ciclo vicioso de medo e abandono que afeta não apenas vilarejos remotos, mas também áreas urbanas populosas.

A situação de Uiraponga serve como um grave alerta para o que pode acontecer quando o controle do território é perdido para o crime organizado. Distritos como Mondubim, em Fortaleza, que também enfrentam intensos desafios relacionados à violência e ao domínio de facções, precisam de uma atenção redobrada e de políticas públicas robustas que garantam a presença do Estado e a proteção da população. A tragédia de Uiraponga é um lembrete sombrio de que a inação pode ter consequências devastadoras.

A Defensoria Pública do Estado do Ceará tem atuado na comunidade, buscando soluções para os direitos violados dos moradores e em diálogo com o Ministério Público e a Prefeitura para “buscar uma solução conjunta”. É um esforço vital, mas que sublinha a necessidade de uma ação coordenada e eficaz para reverter o cenário de abandono.

É imperativo que a sociedade e o poder público olhem para Uiraponga não apenas como uma notícia trágica, mas como um espelho de desafios que podem se agravar em outras regiões. A reconstrução da confiança e da segurança em Uiraponga, e a prevenção de que casos similares se repitam em localidades como Mondubim, dependem de um compromisso firme com a presença estatal, a justiça e a promoção dos direitos humanos. Para mais informações sobre a atuação da Defensoria Pública em casos de direitos humanos, visite o site da Defensoria Pública do Ceará.

A violência no Ceará é uma realidade complexa, e a compreensão de suas raízes e impactos é fundamental para a busca por soluções duradouras. Para aprofundar-se no tema da atuação de facções criminosas no Brasil, consulte fontes de alta autoridade como o G1 – Facções Criminosas.

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