
Unoeste Medicina: Entre a Nota Máxima do MEC e Graves Denúncias de Estudantes sobre o Internato

Unoeste Medicina: Entre a Nota Máxima do MEC e Graves Denúncias de Estudantes sobre o Internato
A Universidade do Oeste Paulista (Unoeste) celebra uma importante conquista: a nota máxima (5) atribuída pelo Ministério da Educação (MEC) ao seu curso de Medicina. Avaliação que, segundo a instituição, reflete o compromisso com a excelência no ensino superior. No entanto, nos bastidores, especialmente no campus de Guarujá, vozes dissonantes de estudantes pintam um cenário de desafios significativos, com denúncias de condições extenuantes e abusivas durante o internato, a fase obrigatória e crucial da formação médica.
A Excelência Reconhecida pelo MEC
O Conceito de Curso (CC) nota 5 da Unoeste Medicina não abrange apenas a unidade de Guarujá, mas também os campi de Presidente Prudente e Jaú. Este resultado, obtido após uma avaliação externa realizada em 2024, valida, sob os critérios do MEC, a qualidade em diversos aspectos:
- Organização Didático-Pedagógica: Analisa projeto pedagógico, currículo, metodologias e avaliação.
- Corpo Docente e Tutorial: Considera titulação, regime de trabalho e formação dos professores.
- Infraestrutura: Avalia laboratórios, bibliotecas e, crucialmente para a área da saúde, campos de prática e convênios hospitalares.
Para cursos de saúde, como Medicina, indicadores específicos relacionados à integração com o Sistema Único de Saúde (SUS), atividades práticas e infraestrutura de campo de estágio também são cruciais na avaliação. O MEC utiliza o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes) – que inclui o CC, o Enade e a Avaliação Institucional – para monitorar a qualidade do ensino superior no país.
Além do CC, a Unoeste também possui nota máxima no Índice Geral de Cursos (IGC), divulgado pelo Inep, o que a instituição utiliza para se autodefinir como a “melhor universidade particular de São Paulo”.
As Denúncias dos Estudantes: A Realidade do Internato
Apesar das altas notas oficiais, estudantes do curso de Medicina da Unoeste em Guarujá trouxeram à tona denúncias graves sobre as condições do internato, realizado em parceria com o Hospital Santo Amaro. Relatos apontam para plantões exaustivos, chegando a 24 horas contínuas, sem infraestrutura adequada para descanso ou tempo para refeições. Universitários afirmam ter sido submetidos a dormir no chão e a cargas horárias semanais que ultrapassam 60 horas.
“A gente passou por vários médicos, por várias condições deploráveis. A gente foi obrigado a dormir no chão, entre outras coisas erradas que a gente via dentro do hospital e tinha que compactuar”, relatou um estudante sob anonimato. Outras queixas incluem a falta de comunicação clara da coordenação e mudanças nas regras de avaliação durante o curso.
O Caso Específico de Roberto Fakhoure
Um dos casos que ganha destaque é o do estudante Roberto Fakhoure, de 43 anos. Ele contesta sua reprovação em uma disciplina e alega que sua assinatura foi falsificada em uma ata de reunião que o faria concordar com a decisão. Roberto registrou um boletim de ocorrência por falsidade ideológica e planeja acionar a Justiça, buscando reverter a situação que o impede de colar grau com sua turma.
Uma perícia técnica, segundo o estudante e seu advogado, teria comprovado a falsificação na assinatura do documento, colocando a veracidade dos registros acadêmicos em questão. O MEC, por sua vez, reforça que os cursos de Medicina devem seguir as Diretrizes Curriculares Nacionais, que exigem estrutura organizada e supervisão para o internato, e informa que recebe denúncias via Plataforma Fala.BR.
O Posicionamento da Unoeste e do Hospital Santo Amaro
Em resposta às denúncias, a Unoeste divulgou nota classificando as alegações como “infundadas”, atribuindo-as à insatisfação de um estudante reprovado que estaria disseminando informações “inverídicas e ofensivas”. A universidade reafirmou seu compromisso com a qualidade, a seriedade pedagógica e a formação ética e técnica.
Sobre as condições do internato, a Unoeste assegurou que as escalas de plantões estão em conformidade com a regulamentação, garantindo folgas e períodos para descanso e refeições. A instituição menciona a parceria com o Hospital Santo Amaro, indicando que foi organizada “toda a estrutura necessária”, incluindo alojamentos com camas e uma Diretoria de Ensino dedicada à supervisão dos alunos.
O Hospital Santo Amaro também se manifestou em nota, afirmando ter compromisso em oferecer bons ambientes de trabalho e descanso, e destacando um “diálogo amplo e permanente” com a Unoeste para atender às necessidades dos estudantes.
Conclusão
O cenário da Unoeste Medicina em Guarujá se apresenta com um paradoxo: a validação oficial de qualidade pelo MEC contrasta fortemente com as graves denúncias de estudantes sobre as condições do internato. Enquanto a universidade defende a excelência de sua formação e refuta as acusações, os relatos dos alunos e o caso específico que envolve denúncia de falsidade ideológica lançam luz sobre desafios e tensões no ambiente de formação prática dos futuros médicos. A situação segue em desenvolvimento, com desdobramentos esperados na esfera judicial.
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