×

Vingança do PCC: Ministério Público Denuncia Morte do Ex-Delegado Ruy Ferraz Fontes

Vingança do PCC: Ministério Público Denuncia Morte do Ex-Delegado Ruy Ferraz Fontes

temp_image_1763783536.674894 Vingança do PCC: Ministério Público Denuncia Morte do Ex-Delegado Ruy Ferraz Fontes

A morte trágica do ex-delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo, Ruy Ferraz Fontes, chocou o país em setembro. Agora, uma revelação bombástica do Ministério Público de São Paulo (MP-SP) aponta para uma trama ainda mais sombria: seu assassinato teria sido uma ordem direta do alto escalão do Primeiro Comando da Capital (PCC), em uma brutal vingança por décadas de combate implacável à facção criminosa.

Um Legado de Confronto: Ruy Ferraz e a Luta Contra o Crime Organizado

Ruy Ferraz Fontes não era um nome qualquer na segurança pública brasileira. Com mais de quarenta anos de dedicação à Polícia Civil de São Paulo, iniciou sua trajetória nos anos 1980, atuando em unidades de elite como o Denarc, Dope e Deic. Sua marca registrada? O destemido enfrentamento ao crime organizado.

Foi no início dos anos 2000 que Ruy Ferraz se tornou uma figura central na desarticulação do PCC. Ele foi o pioneiro na divulgação de complexos organogramas da estrutura da facção e, em 2006, liderou o indiciamento de sua cúpula, incluindo nomes como Marcos Camacho, o notório Marcola. Essa atuação intransigente, segundo o MP, selou seu destino.

A Denúncia do MP: Ordem da “Sintonia Geral”

Na última sexta-feira, o Ministério Público de São Paulo, por meio do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), formalizou a denúncia contra oito indivíduos por envolvimento direto no assassinato de Ruy Ferraz. A investigação aponta que a ordem para a execução partiu da “sintonia geral” do PCC, um termo que designa o comando máximo da facção.

A denúncia revela que a decisão de matar o delegado Ruy Ferraz Fontes remonta a pelo menos 2019, quando uma carta manuscrita apreendida em poder da facção já “cobrava a morte de alguns agentes públicos, dentre eles o doutor Ruy Ferraz Fontes”. A hipótese inicial de que o crime teria relação com sua gestão como secretário municipal em Praia Grande foi categoricamente descartada pela investigação.

Planejamento Meticuloso e Execução Cruel

O documento do MP-SP detalha um plano de execução de tirar o fôlego, marcado por um planejamento “minucioso”. A facção não poupou esforços para garantir o sucesso da empreitada:

  • Vigilância Rigorosa: A rotina do ex-delegado Ruy Ferraz foi monitorada exaustivamente.
  • Logística Complexa: Uma cadeia logística com imóveis de apoio em Praia Grande, Mongaguá e na capital paulista foi montada.
  • Armamento Pesado: Obtenção de armamentos de alto calibre, de uso restrito.
  • Câmeras Desativadas: Sistemas de segurança foram desligados no momento da ação para dificultar a investigação.

O Ministério Público classifica a motivação como torpe, reforçando que o crime foi uma retaliação direta ao trabalho de Ruy Ferraz no combate ao PCC, uma resposta ao seu enfrentamento ao “estado paralelo” imposto pela facção. O ataque, com armamento restrito, em via pública e horário movimentado, demonstra a ousadia e a crueldade dos executores.

Os Denunciados e as Primeiras Defesas

Oito pessoas foram denunciadas e responderão por crimes como integrar organização criminosa armada, homicídio qualificado consumado e tentado, porte ilegal de arma de fogo de uso restrito e favorecimento pessoal. São eles:

  • Felipe Avelino da Silva (vulgo Mascherano)
  • Flávio Henrique Ferreira de Souza (Beicinho ou Neno)
  • Luiz Antonio Rodrigues de Miranda (Gão ou Vini)
  • Dahesly Oliveira Pires
  • Willian Silva Marques
  • Paulo Henrique Caetano de Sales (13 ou PH)
  • Cristiano Alves da Silva (Cris Brown)
  • Marcos Augusto Rodrigues Cardoso (Pan, Fiel ou Penelope Charmosa)

Marcos Augusto Rodrigues Cardoso é apontado como peça central na articulação, exercendo a função de “disciplina” no Grajaú, Zona Sul da capital. Segundo o MP, ele foi o recrutador e organizador do grupo executor.

As Defesas Apresentadas

As defesas de dois dos denunciados já se manifestaram. O advogado de Paulo Henrique Caetano de Sales argumenta que não há qualquer elemento que o relacione aos fatos, destacando disparidade de estatura com o indivíduo dos vídeos, sua reputação ilibada como servidor público e a apresentação de álibis sólidos, com registros de localização de celular e testemunhas que o colocam em São Paulo no momento do crime. Ele afirma ter apenas emprestado sua casa de veraneio sem ciência da finalidade ilícita.

Já a defesa de Cristiano Alves da Silva reitera que ele não possui envolvimento com crime organizado. Conhecido como influenciador e produtor de eventos, Cristiano teria apenas alugado uma de suas casas de temporada a um dos indivíduos envolvidos, sem qualquer conhecimento da ilicitude. Sua defesa apresentou evidências de que ele estava em sua chácara, em São Paulo, realizando gravações de videoclipes no momento dos fatos.

O Legado e os Próximos Passos da Justiça

O assassinato do delegado Ruy Ferraz Fontes ressoa como um lembrete sombrio da ousadia do crime organizado e da perigosa rotina de quem dedica a vida ao combate dessas facções. Enquanto as diligências continuam para identificar outros possíveis envolvidos, a expectativa agora se volta para o Judiciário, que analisará a denúncia para o recebimento e o prosseguimento da ação penal. A sociedade aguarda ansiosamente por justiça para um homem que lutou incansavelmente contra um “estado paralelo” imposto pelo PCC.

Para entender mais sobre a estrutura e atuação do PCC, confira este artigo: A História do Primeiro Comando da Capital (PCC).

Compartilhar: