
A Saga de José Gregorio Noriega: Expulsão da Argentina e os Enigmas da Política Venezuelana

O cenário político latino-americano continua efervescente, e a recente passagem do ex-deputado venezuelano José Gregorio Noriega pela Argentina acendeu mais um alerta. Em uma trama digna de um thriller político, sua presença, rapidamente detectada pelas autoridades argentinas, culminou em uma pronta expulsão, sinalizando a postura cada vez mais assertiva do governo local em relação à crise na Venezuela.
A Chegada Conturbada à Argentina
Foi em setembro de 2025, atravessando a fronteira vindo do Brasil, que José Gregorio Noriega pisou em solo argentino. No entanto, sua presença não passou despercebida. Monitorado de perto, seu ingresso desencadeou uma rápida resposta das autoridades, que agiram para garantir sua saída do país em poucos dias. Este episódio sublinha a tensão crescente entre o novo governo argentino e figuras ligadas ao regime venezuelano, reforçando a complexa dinâmica das relações internacionais na região.
José Gregorio Noriega: De Promessa à Controvérsia Política
Para entender a magnitude da situação, é preciso mergulhar na trajetória política de José Gregorio Noriega. Outrora um militante de destaque do partido Voluntad Popular – legenda do opositor Juan Guaidó – Noriega ascendeu na política venezuelana. Foi deputado suplente por Sucre (2011-2016) e eleito deputado principal (2016-2021), sendo o mais votado em seu circuito.
Sua virada começou em 2018, quando apresentou uma carta de renúncia ao Voluntad Popular, criticando o que descreveu como uma “inércia política” e a falta de visão estratégica do partido frente à profunda crise venezuelana. Mas foi em 2019 que sua figura mergulhou em um escândalo que redefiniria sua carreira e seu legado.
A Polêmica “Operação Alacrán” e a Ruptura
Noriega se viu no centro da chamada “Operação Alacrán”, um plano de suborno que visava impedir a reeleição de Juan Guaidó como presidente da Assembleia Nacional. Acusado pelo Voluntad Popular de colaborar com o regime de Nicolás Maduro, a investigação interna concluiu que ele havia facilitado a operação, caracterizando-a como uma “traição” ao seu partido e eleitores. Apesar de Noriega negar veementemente os assinalamentos, tachando-os de falsos e sugerindo que faziam parte de um conflito interno, ele foi formalmente expulso do partido após um processo aprovado pela fração parlamentar.
Aliança com o Chavismo e Sanções Internacionais
No início de 2020, em meio à intensa crise institucional, Noriega se juntou a uma diretiva parlamentar paralela, impulsionada pelo chavismo, que desconhecia a reeleição de Guaidó. Ele foi nomeado segundo vice-presidente dessa junta legislativa imposta, ao lado de Luis Parra como presidente e Franklyn Duarte como vice-presidente primeiro, consolidando sua guinada política em direção ao oficialismo.
Essa aliança não ficou sem consequências. Os Estados Unidos reagiram rapidamente, sancionando Noriega em 13 de janeiro de 2020, juntamente com outros deputados que apoiaram essa diretiva alternativa. Suas sanções incluíram o congelamento de bens e a proibição de operações financeiras com cidadãos americanos. Pouco depois, em 29 de junho do mesmo ano, a União Europeia também o adicionou à sua lista de sancionados, impondo proibições de viagem e congelamento de ativos. Seu histórico legislativo também foi marcado por controvérsias, com relatórios indicando um alto índice de inasistências em 2017 (71%), reforçando a complexidade de sua atuação.
O Cenário Geopolítico: Argentina e a Postura contra o Chavismo
A breve estadia de José Gregorio Noriega na Argentina ocorre em um momento crucial. O governo do presidente Javier Milei tem endurecido sua posição em relação ao chavismo e ao regime venezuelano. Em agosto, o executivo argentino incluiu o Cartel de los Soles – uma organização criminosa venezuelana – no registro de organizações terroristas, alinhando-se a decisões similares de países como Equador e Paraguai.
A expulsão de Noriega, portanto, não é um incidente isolado, mas sim um reforço claro dessa guinada política e uma mensagem incisiva de que a Argentina, sob a gestão Milei, não tolerará a presença de indivíduos ligados a regimes e estruturas que considera problemáticas na região. Este movimento reflete uma postura mais alinhada com as sanções internacionais e uma condenação explícita a figuras controversas da política venezuelana.
Um Legado de Incertezas na Política Venezuelana
A saga de José Gregorio Noriega reflete a complexa e fragmentada realidade da política venezuelana. De líder promissor a figura controversa, sancionada internacionalmente e agora expulsa de um país vizinho, sua trajetória é um lembrete vívido das profundas divisões e das tensões que continuam a moldar o futuro da Venezuela e suas relações com a América Latina. Sua história serve como um microcosmo das batalhas políticas e ideológicas que assolam a nação e reverberam por todo o continente.
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