
Desafio Subterrâneo: Por Que a Bomba GBU-57 Pode Não Destruir a Usina Nuclear de Fordow no Irã

Imagine uma fortaleza enterrada profundamente sob montanhas áridas, acessível apenas por túneis secretos e protegida por um extenso perímetro de segurança. Esta é a Usina de Enriquecimento de Combustível de Fordow, no Irã, um complexo que tem sido epicentro de especulações e tensões globais desde sua revelação.
Fordow: A Fortaleza Secreta do Irã
Localizada próxima à cidade sagrada de Qom, Fordow foi mantida em segredo por anos antes de ser exposta em 2009. Sua existência e natureza geram preocupações devido à sua localização extremamente fortificada: estima-se que seus salões principais estejam a incríveis 80 a 90 metros abaixo da superfície. Essa profundidade a torna virtualmente imune a ataques aéreos convencionais, incluindo a maioria das bombas conhecidas por potências como Israel.
Partes significativas do que se sabe sobre Fordow vieram à tona através de documentos iranianos supostamente obtidos pela inteligência israelense, que detalhavam seus planos e capacidades.
Propósito Controverso e Enriquecimento de Urânio
Embora Teerã insista que seu programa nuclear tem fins pacíficos, a Usina de Fordow sempre esteve no cerne das suspeitas internacionais. Em 2009, líderes mundiais como Barack Obama, Nicolas Sarkozy e Gordon Brown a descreveram como “inconsistente com um programa pacífico” devido ao seu tamanho e configuração subterrânea.
A instalação foi projetada para abrigar até 3.000 centrífugas, máquinas essenciais para o enriquecimento de urânio.
O Acordo Nuclear e a Escalada Recente
O acordo nuclear de 2015 (JCPOA) havia mitigado as preocupações com Fordow, restringindo severamente suas atividades e removendo material nuclear. No entanto, a saída dos Estados Unidos do acordo em 2018 resultou em um revés gradual dessas restrições por parte do Irã.
Relatórios recentes da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) indicam que o Irã intensificou a produção de urânio enriquecido em Fordow, atingindo níveis de 60%. Segundo especialistas, como David Albright do Institute for Science and International Security (ISIS), este nível de enriquecimento é particularmente preocupante, pois permite uma conversão rápida para urânio de grau de arma. O ISIS estima que o Irã poderia converter seu estoque de urânio a 60% em material suficiente para várias armas nucleares em poucas semanas.
O Dilema Militar: A GBU-57 Entra em Cena
Dada sua importância estratégica para o programa nuclear iraniano e o aumento do enriquecimento, Fordow se tornou um alvo potencial para quem deseja impedir o Irã de desenvolver armas nucleares. No entanto, destruí-la é um enorme desafio técnico e militar.
Ataques aéreos por parte de Israel seriam quase impossíveis sem assistência dos Estados Unidos, conforme relatórios de think tanks como o RUSI (Royal United Services Institute). E mesmo com o apoio americano, a penetração da usina é incerta.
A discussão sobre a capacidade de destruição aérea frequentemente menciona a bomba GBU-57, conhecida como Massive Ordnance Penetrator (MOP). Esta é a bomba anti-bunker mais poderosa no arsenal dos EUA, projetada especificamente para atingir alvos subterrâneos fortificados.
Contudo, relatórios sugerem que a GBU-57 tem uma capacidade máxima de penetração de cerca de 60 metros em concreto reforçado ou rocha dura. Isso é significativamente menos do que a profundidade estimada de Fordow (80-90 metros). Além disso, para ter uma chance real de incapacitar a instalação, seria necessário múltiplos impactos da GBU-57 no mesmo ponto, uma tarefa extremamente difícil. A bomba também só pode ser transportada e lançada por bombardeiros furtivos B-2 da Força Aérea dos EUA, aeronaves que Israel não possui.
Analistas militares concordam que um ataque aéreo bem-sucedido contra Fordow seria complexo e provavelmente exigiria repetidas investidas com as mais potentes munições disponíveis, como a GBU-57, se mesmo ela for considerada suficiente.
Alternativas e o Quadro Geral
Diante da extrema dificuldade de destruir Fordow pela via aérea, outras opções são consideradas. Danificar as entradas dos túneis, a ventilação ou o fornecimento de energia elétrica poderia incapacitar a usina por meses, embora não a destrua completamente.
No entanto, especialistas alertam que focar apenas em Fordow pode não resolver o problema nuclear iraniano por completo. O Irã pode ter outras centrífugas e materiais em locais desconhecidos. Fordow é uma peça crucial, mas a complexidade do programa nuclear iraniano vai além de uma única instalação, mesmo uma tão fortificada quanto esta fortaleza subterrânea que desafia até mesmo a poderosa bomba GBU-57.
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