Dick Cheney Morre aos 84 Anos: O Legado Controverso do Arquiteto da Guerra ao Terror

Dick Cheney Morre aos 84 Anos: O Legado Controverso do Arquiteto da Guerra ao Terror
A política americana perde uma de suas figuras mais imponentes e, inegavelmente, controversas. Dick Cheney, o vice-presidente mais poderoso da era moderna e o principal arquiteto da “Guerra ao Terror”, faleceu aos 84 anos. A notícia foi confirmada por um comunicado de sua família, detalhando que sua partida ocorreu devido a complicações de pneumonia e doenças cardíacas e vasculares.
Para muitos, Dick Cheney foi o cérebro por trás das decisões que moldaram a política externa dos Estados Unidos após o 11 de setembro, conduzindo o país à custosa e criticada Guerra do Iraque. Sua vida política, marcada por uma ascensão meteórica e uma influência sem precedentes, termina com um epitáfio que reflete sua complexidade: um patriota para alguns, um falcão implacável para outros.
Um Gigante da Política Americana: A Trajetória de Cheney
Nascido em 30 de janeiro de 1941, Richard Bruce Cheney construiu uma carreira política notável que o levou do Wyoming a se tornar uma figura central em Washington por décadas. Sua trajetória incluiu passagens como Chefe de Gabinete da Casa Branca, Secretário de Defesa e, finalmente, vice-presidente sob George W. Bush por dois mandatos (2001-2009).
A família o descreveu como um “homem grande e bom” que ensinou seus filhos e netos a amar o país e a viver com coragem, honra e bondade. No entanto, sua imagem pública sempre foi polarizadora, um reflexo das políticas duras e, por vezes, impopulares que defendeu.
A Era Bush e a Guerra ao Terror: O Apogeu de Dick Cheney
O período mais influente de Dick Cheney foi, sem dúvida, sua vice-presidência. Após os ataques de 11 de setembro de 2001, ele se tornou uma das vozes mais veementes pela retaliação e pela adoção de uma doutrina de guerra preventiva. Foi nesse contexto que ele emergiu como o principal arquiteto da Guerra ao Terror, defendendo ações agressivas no Oriente Médio e a invasão do Iraque em 2003.
As justificativas para a guerra — supostas armas de destruição em massa (WMD) e ligações com a Al-Qaeda — foram posteriormente contestadas e provaram ser falhas. Relatórios do Congresso e investigações pós-guerra revelaram que a inteligência foi exagerada ou deturpada. Apesar disso, Cheney manteve até o fim que suas ações foram baseadas na melhor inteligência disponível na época e que “faria tudo de novo em um minuto”.
Sua postura em relação a métodos de interrogatório “aprimorados”, que muitos consideraram tortura, e a defesa da detenção de suspeitos de terrorismo em Guantánamo Bay, Cuba, sem julgamento, solidificaram sua reputação de conservador linha-dura e geraram intensa controvérsia global. A taxa de aprovação de Dick Cheney ao deixar o cargo era de apenas 31%, um testemunho da profunda divisão que sua atuação gerou.
Crítico de Trump: Um Adeus Inesperado
Em um desdobramento irônico de sua carreira, o conservador intransigente Dick Cheney se viu em grande parte marginalizado por seu próprio partido nos últimos anos de sua vida. Ele se tornou um dos mais ferrenhos críticos do ex-presidente Donald Trump, a quem classificou como “um covarde” e a maior ameaça à república na história de 246 anos dos Estados Unidos.
A decisão de Trump de questionar os resultados da eleição de 2020 e os eventos de 6 de janeiro de 2021 no Capitólio levaram Cheney a uma rara aparição pública para apoiar sua filha, Liz Cheney, que sacrificou sua carreira política para se opor a Trump. Em um gesto ainda mais surpreendente, Dick Cheney anunciou que votaria na democrata Kamala Harris na eleição presidencial de 2024, destacando seu “dever de colocar o país acima do partidarismo para defender nossa Constituição”.
Uma Vida Marcada por Desafios Pessoais
A saúde de Dick Cheney foi uma batalha constante. Ele sofreu seu primeiro ataque cardíaco aos 37 anos, em 1978, e sobreviveria a um total de cinco antes de receber um transplante de coração em 2012, que ele descreveu como “o dom da própria vida”. Apesar desses desafios, levou uma vida vigorosa e atuante.
Seu início de vida também não foi isento de percalços. Expulso de Yale, trabalhou em linhas de energia e foi preso duas vezes por dirigir embriagado. Foi um ultimato de sua futura esposa, Lynne, que o impulsionou a “se aplicar” e buscar uma carreira sólida, culminando em graduações pela Universidade de Wyoming.
Dick Cheney deixa sua esposa de 61 anos, Lynne, suas filhas Liz e Mary Cheney, e sete netos. Sua morte fecha um capítulo de uma era na política americana, mas seu legado — de poder, controvérsia e, finalmente, de uma voz inesperada contra as transformações de seu próprio partido — certamente continuará a ser debatido e analisado por gerações.
Para uma análise mais aprofundada sobre a vice-presidência nos EUA, confira este recurso da Casa Branca.
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