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Economista Analisa Tributação no Governo Lula: Cautela com Bancos, Foco em Bilionários e Bets

Economista Analisa Tributação no Governo Lula: Cautela com Bancos, Foco em Bilionários e Bets

temp_image_1751633498.010711 Economista Analisa Tributação no Governo Lula: Cautela com Bancos, Foco em Bilionários e Bets

Economista Analisa Tributação no Governo Lula: Cautela com Bancos, Foco em Bilionários e Bets

Em meio ao debate sobre o aumento da arrecadação e a busca por maior justiça social e tributária, o governo Lula tem sinalizado a intenção de taxar setores específicos, apelidados de ‘BBBs’: Bancos, Bilionários e Bets (apostas online). Mas qual a visão de um especialista sobre essa estratégia? André Perfeito, economista-chefe da Necton/Apce, compartilha uma análise profunda em entrevista, destacando os pontos de atenção e os caminhos para uma política fiscal mais eficaz no Brasil.

O Debate sobre a Taxação dos ‘BBBs’

A ideia de aumentar a carga tributária sobre setores considerados de alta lucratividade ou com menor contribuição social tem ganhado força. Para Perfeito, a abordagem precisa ser diferenciada para cada ‘B’ dessa sigla.

Cautela com o Setor Financeiro

O economista ressalta que o sistema financeiro brasileiro já opera sob uma carga tributária significativa, sendo classificado por ele como “hipertributado”. Além disso, ele aponta a função crucial dos bancos na transmissão da política monetária. Qualquer aumento de impostos sobre o setor bancário poderia, na sua visão, comprometer a eficácia da redução da taxa de juros, um objetivo fundamental para a economia.

Precisamos diminuir a taxa de juros, e é o sistema financeiro que gera eficácia e eficiência na transmissão desse dinheiro.

Sinal Verde para Bilionários e Bets

A postura de Perfeito muda radicalmente ao falar sobre a taxação de grandes fortunas e casas de apostas. Para ele, taxar bilionários é essencial para que os mais ricos assumam maior responsabilidade na manutenção do Estado. Já o mundo das bets, segundo o economista, transformou-se em um problema de saúde pública e econômico, justificando plenamente uma taxação pesada.

O Desafio da Informalidade e a Arrecadação

Outro ponto crucial abordado na entrevista é o impacto das mudanças no mercado de trabalho na arrecadação estatal. Com o avanço da informalidade, a capacidade de financiar o Estado através da tributação sobre empregos formais (CLT) diminui. Perfeito sugere que o foco da tributação precisa mudar, buscando excedentes em outras fontes.

Os excedentes necessários para o futuro virão cada vez menos da CLT. É preciso repactuar a tributação com foco em renda e grandes fundos.

O Embate Político e a Visão Fiscal do Governo Lula

A discussão sobre tributação no Brasil não é puramente econômica; ela é profundamente política. O economista analisa o cenário de confronto entre o governo e o Congresso, exemplificado pela recente “crise do IOF” e a dificuldade em cortar gastos.

A Luta por Justiça Tributária versus Execução Orçamentária

Perfeito vê duas dimensões no conflito: a visão do governo (Lula e Haddad) de justiça tributária como reforma estrutural para maior equidade, e a dimensão política da execução orçamentária, onde o Congresso, com o foco nas eleições de 2026, demonstra pouca disposição para cortes, pressionando por aumento da carga tributária.

Pessimismo do Mercado: Justificado?

Sobre a percepção pessimista do mercado financeiro em relação às contas públicas brasileiras, Perfeito pondera que o déficit primário do Brasil (em torno de 0,7% do PIB) é consideravelmente menor que a média de outros emergentes (cerca de 4%) ou países industrializados (cerca de 2%). Ele sugere que, olhando de fora, a situação fiscal brasileira não é tão catastrófica, e a tendência seria de valorização do real e da bolsa.

Previdência: Além da Falta de Dinheiro

Uma perspectiva interessante apresentada pelo economista é sobre a Previdência. O problema, para ele, não é apenas a falta de dinheiro, mas a falta de “produto” no futuro, dada a mudança demográfica (menos trabalhadores por aposentado). Isso reforça a necessidade de repactuar a tributação em fontes que não sejam exclusivamente o trabalho formal.

A análise de André Perfeito oferece um panorama complexo e cheio de nuances sobre os desafios fiscais e políticos que o governo Lula enfrenta. Taxar os ‘BBBs’ pode ser um caminho, mas exige estratégia e, no caso dos bancos, muita cautela, sem perder de vista a necessidade de uma reforma tributária mais ampla que se adapte às novas realidades do mercado de trabalho e da demografia brasileira.

(Baseado em entrevista concedida a CartaCapital)

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