Geopolítica em Destaque: A Cúpula da APEC e a Batalha pela Influência na Ásia-Pacífico

Geopolítica em Destaque: A Cúpula da APEC e a Batalha pela Influência na Ásia-Pacífico
Prepare-se para entender as engrenagens da política global, pois o palco está montado para um dos encontros mais cruciais do calendário geopolítico. Em outubro de 2025, a cidade de Gyeongju, na Coreia do Sul, sediará a 33ª cúpula do Fórum de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (APEC). Mais do que uma reunião sobre comércio, este evento promete ser um microcosmo das complexas relações de poder que redefinem a Ásia-Pacífico e o futuro do comércio internacional.
APEC: Uma Promessa de Comércio Livre e um Passado Conturbado
Fundada em 1989, a APEC nasceu com a ambiciosa visão de criar uma zona de “comércio livre e aberto”, consolidada pelos Objetivos de Bogor em 1994. Em sua gênese, a organização foi um reflexo de seu tempo: um instrumento impulsionado pelo Japão para cadeias de suprimentos regionais e, mais tarde, pelos Estados Unidos e seus parceiros do G7, que, no fervor da liberalização comercial pós-Guerra Fria, buscavam abrir economias à hegemonia de suas corporações.
Os EUA sonhavam em moldar a APEC para seus próprios propósitos, visando uma área de livre comércio que solidificasse seu domínio regional. No entanto, as coisas não saíram conforme o planejado. A ascensão industrial da Ásia começou a gerar temores de que a região pudesse superar a concorrência americana, minando os objetivos iniciais.
A Virada do Século: China Ascendente e o Fracasso do TPP
A crise financeira de 2008 foi um divisor de águas, revelando a fragilidade das economias do Atlântico Norte e impulsionando a necessidade de alternativas de desenvolvimento no Sul Global. A China, já em 2007 a terceira maior economia mundial, ultrapassou o Japão em 2010 e consolidou-se como o maior parceiro comercial de grande parte dos países da Ásia-Pacífico, incluindo 13 das 21 nações da APEC.
A prioridade de um acordo de livre comércio com os EUA diminuiu. Quando o presidente Donald Trump retirou os Estados Unidos da Parceria Transpacífico (TPP) em 2017, os membros restantes avançaram por conta própria, formando o Acordo Abrangente e Progressivo para a Parceria Transpacífico (CPTPP), com 10 dos 11 signatários sendo membros da APEC.
RCEP: O Novo Gigante Econômico da Ásia
Em um movimento decisivo, em 2020, foi assinado o Acordo de Parceria Econômica Abrangente Regional (RCEP). Este mega-bloco comercial, composto pelos 10 membros da ASEAN, além de China, Japão, Coreia do Sul, Austrália e Nova Zelândia, tornou-se o maior do mundo, abrangendo quase um terço da população global e 28% do PIB mundial. O RCEP realizou a promessa de “comércio livre e aberto” que a APEC almejava, mas com os EUA isolados do processo.
A Dupla Estratégia dos EUA: APEC e RIMPAC
Mesmo com a ascensão econômica da China, os EUA ainda mantêm instrumentos para exercer poder na região. A APEC, embora um fórum econômico, funciona como um meio para os EUA “disciplinarem” seus aliados asiáticos. Paralelamente, temos o RIMPAC (Rim of the Pacific), o braço militar da estratégia americana.
Criado em 1971 durante a Guerra Fria, o RIMPAC transformou-se em um mecanismo para projetar poder naval contra a China e outras nações em busca de soberania. A participação de ativos militares israelenses no RIMPAC levanta questões éticas e políticas para membros como Colômbia, Chile e Malásia, que têm posições fortes contra o genocídio palestino em curso. O alinhamento entre APEC e RIMPAC revela a tentativa dos EUA de manter a hegemonia através de consentimento econômico e coerção militar.
Protestos na Coreia do Sul: Vozes Por uma Economia Centrada nas Pessoas
A cúpula na Coreia do Sul não será um evento tranquilo. É esperada uma onda de manifestações lideradas por sindicatos, grupos de direitos humanos e organizações estudantis. O foco será a criação de uma economia sul-coreana centrada nas pessoas e a rejeição ao uso da cúpula para fortalecer uma elite política abalada. Esta efervescência social adiciona uma camada extra de complexidade ao cenário geopolítico.
O Futuro da Influência Global
Enquanto o centro de gravidade da economia mundial se desloca para a Ásia, os EUA buscam todas as formas de afirmar sua presença. No entanto, o país carece das ferramentas para dominar como outrora. Curiosamente, a APEC tem se mostrado uma plataforma útil para líderes americanos e chineses se encontrarem em um momento de redução dos espaços de diálogo bilateral.
O presidente chinês Xi Jinping, em 2013, cunhou a frase “comunidade com um futuro compartilhado para a humanidade” (人类命运共同体), que ressoou em 2014 na cúpula da APEC em Pequim. A essência é clara: países asiáticos devem buscar o diálogo, não a política de blocos ou alianças militares, promovendo a dignidade de todos os povos. No entanto, a realização desses nobres sentimentos depende de melhorias concretas nas vidas das pessoas através da paz e do desenvolvimento.
A cúpula da APEC em 2025 será, portanto, mais do que uma reunião de chefes de estado. Será um capítulo fundamental na narrativa contínua da geopolítica global, moldando o comércio internacional e as relações EUA-China em uma região de importância estratégica inquestionável.
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