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Hugo Motta e o IOF: O movimento na Câmara que surpreendeu o Governo Lula e acirrou a crise política

Hugo Motta e o IOF: O movimento na Câmara que surpreendeu o Governo Lula e acirrou a crise política

temp_image_1750857773.959059 Hugo Motta e o IOF: O movimento na Câmara que surpreendeu o Governo Lula e acirrou a crise política

Hugo Motta e o IOF: O movimento na Câmara que surpreendeu o Governo Lula e acirrou a crise política

O cenário político em Brasília foi abalado nesta quarta-feira (25) por um movimento inesperado vindo da presidência da Câmara dos Deputados. Hugo Motta (Republicanos-PB), à frente da Casa, decidiu pautar de forma surpreendente a proposta que visa suspender os efeitos do decreto governamental que elevou o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). A decisão pegou o Governo Lula (PT) de surpresa, gerando imediata tensão e reações acaloradas.

Um Roteiro Ignorado: A Surpresa com o IOF na Câmara

Fontes no Palácio do Planalto admitem que a pauta do IOF não estava nos planos imediatos. O governo esperava um processo de negociação para definir a melhor data e abordagem sobre o tema. A atitude de Hugo Motta foi percebida como uma quebra de protocolo e, na visão de articuladores políticos do governo, pode desencadear uma paralisia orçamentária significativa, afetando, inclusive, a liberação de emendas parlamentares.

A insatisfação mútua entre Executivo e Legislativo não é novidade, e a votação do IOF surge como um símbolo dessa tensão. Parte do descontentamento dos deputados reside justamente nos atrasos (percebidos por eles) na liberação de emendas parlamentares, embora o governo argumente estar acelerando os repasses.

O Impacto Fiscal e a Urgência do Governo

Para o governo, a suspensão imediata do aumento do IOF é crítica. Segundo um articulador, o decreto original, que incluía outras medidas econômicas, já havia sido desidratado, tornando a receita proveniente do IOF essencial para a arrecadação imediata necessária para as contas públicas.

O Planalto defendia que as discussões sobre a substituição do aumento do tributo (decretado em maio) ocorressem no âmbito de um novo pacote de medidas tributárias. A expectativa era que a Câmara aguardasse, pelo menos, a divulgação do relatório bimestral de avaliação de receitas e despesas, previsto para 22 de julho. Esse relatório daria ao governo uma visão mais clara do cenário fiscal para, então, reavaliar a questão do IOF.

O Aviso por Redes Sociais: Um Gesto Polêmico

A forma como a decisão foi comunicada também gerou atrito. Em vez de um aviso prévio direto ao governo, Hugo Motta divulgou a pauta para quarta-feira em uma publicação nas redes sociais, já na noite de terça-feira (24), por volta das 23h35. Essa atitude foi vista por integrantes do governo como um desrespeito e uma “quebra de relação”. Palavras duras foram usadas nos bastidores em relação ao presidente da Câmara.

Havia, inclusive, a expectativa de que Hugo Motta conversasse com a Ministra de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, na manhã de quarta, sobre o tema antes de qualquer decisão de pautar. A surpresa frustrou essa possibilidade.

As recentes críticas do Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ao Congresso também teriam irritado o círculo próximo a Motta, mas para o Planalto, isso não justifica pautar uma matéria de impacto fiscal expressivo sem um acordo prévio. Articuladores do governo trabalharam intensamente na quarta-feira para tentar reverter o quadro e evitar a votação.

Emendas Parlamentares: O Calcanhar de Aquiles na Relação Executivo-Legislativo

A questão das emendas parlamentares permanece como um ponto nevrálgico. Embora o governo insista que tem acelerado os pagamentos, a percepção de atraso no Congresso alimenta o clima de insatisfação que culmina em movimentos como o visto na pauta do IOF.

A relevância do tema é tamanha que os presidentes da Câmara, Hugo Motta, e do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), planejam comparecer pessoalmente a uma audiência no Supremo Tribunal Federal (STF) nesta sexta-feira (27). A audiência, marcada pelo ministro Flávio Dino, trata de emendas impositivas, e a presença conjunta dos líderes legislativos busca enviar um recado claro: o Congresso não aceita perder espaço ou controle sobre seus recursos orçamentários.

As decisões de Flávio Dino no âmbito desses processos no STF têm sido fonte de atrito. Parlamentares, por um lado, atribuem a atuação do ministro ao governo federal, dada sua indicação por Lula. Por outro, o próprio governo é cobrado pelo pagamento das emendas deste ano. Qualquer sinalização de corte ou complicação nos repasses estremece a já delicada relação entre os poderes. No entanto, membros do Planalto argumentam que não é justo culpar o governo por ações de outro poder, referindo-se ao STF e ao ministro Dino.

O episódio do IOF pautado por Hugo Motta ilustra a complexa dinâmica política atual, onde questões fiscais se entrelaçam com a articulação política e a distribuição de recursos, mantendo a relação entre Planalto e Congresso em constante ebulição.

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