
Ibrahim Traoré: A Ascensão do Líder Pan-Africanista em Burkina Faso

Ibrahim Traoré: O Rosto do Novo Pan-Africanismo e o Desafio Geopolítico em Burkina Faso
Aos 37 anos, o Capitão Ibrahim Traoré, líder militar de Burkina Faso, emergiu no cenário africano e global com uma persona carismática e uma mensagem potente. Construindo habilmente a imagem de um líder pan-africanista determinado a livrar sua nação das amarras do que ele descreve como imperialismo e neocolonialismo ocidental, Traoré ressoa profundamente em todo o continente.
Para muitos de seus admiradores, ele segue os passos de heróis africanos como Thomas Sankara, o revolucionário marxista de Burkina Faso, frequentemente comparado ao “Che Guevara da África”. Essa conexão histórica, aliada a um discurso anti-Ocidente em um continente rico em recursos, mas ainda lutando contra a pobreza, amplifica seu apelo.
A Virada Geopolítica: De Paris a Moscou
Após tomar o poder em um golpe em 2022, o regime de Ibrahim Traoré marcou uma guinada drástica. A antiga potência colonial, a França, foi preterida em favor de uma forte aliança com a Rússia. Essa nova parceria incluiu o desdobramento de um contingente paramilitar russo e a adoção de políticas econômicas com inclinação à esquerda.
Medidas como a criação de uma empresa estatal de mineração, a exigência de 15% de participação para o governo nas operações locais de empresas estrangeiras e a transferência de habilidades para o povo burquinabê refletem essa nova orientação. Essa regra se aplicou inclusive à mineradora russa Nordgold, que recebeu uma licença recente.
O Ouro de Burkina Faso: Revolução Econômica?
No que Traoré chama de “revolução” para garantir que Burkina Faso se beneficie de sua riqueza mineral, a junta militar está construindo uma refinaria de ouro e estabelecendo reservas nacionais pela primeira vez na história do país. No entanto, empresas ocidentais enfrentam dificuldades. A australiana Sarama Resources, por exemplo, iniciou um processo de arbitragem após a retirada de uma licença de exploração.
A junta também nacionalizou duas minas de ouro anteriormente detidas por uma empresa listada em Londres e manifestou a intenção de assumir o controle de mais minas estrangeiras, reforçando a retórica de soberania econômica.
Popularidade e a Força das Redes Sociais
As reformas radicais de Traoré impulsionaram sua popularidade em toda a África. Alguns o consideram o presidente mais popular do continente atualmente. Sua imagem é ativamente promovida através das redes sociais, muitas vezes com postagens que buscam reforçar sua imagem revolucionária, incluindo vídeos gerados por inteligência artificial usando imagens de celebridades musicais.
Um momento chave para sua visibilidade foi seu discurso na cúpula Rússia-África em 2023, onde instou líderes africanos a pararem de “se comportar como fantoches que dançam cada vez que os imperialistas puxam os cordões”. Essa fala, amplamente divulgada pela mídia russa, solidificou sua imagem pan-africanista. Sua presença em eventos na Rússia, como as comemorações da vitória soviética na Segunda Guerra Mundial, reforça essa aliança e sua mensagem de luta contra o “imperialismo”.
A retórica de Traoré, impulsionada por uma campanha de mídia social eficaz, alcançou até mesmo comunidades africanas na diáspora. Sua mensagem anti-colonial e anti-racista ressoa com aqueles que vivenciaram ou sentiram o impacto do colonialismo, racismo e escravidão.
Desafios e Contradições
Apesar de sua popularidade, Ibrahim Traoré enfrenta enormes desafios. Ele falhou em cumprir sua promessa de conter a insurgência jihadista que assola o país há uma década e se espalhou para nações vizinhas. Além disso, seu regime tem sido criticado por repressão à dissidência, incluindo oposição, mídia e grupos da sociedade civil, com críticos sendo punidos.
Sua popularidade, explicam analistas, também se deve à sua juventude em um país com uma população jovem (idade média de 17,7 anos), sua habilidade com a mídia e a encenação de si mesmo como uma reencarnação de Sankara, e sua capacidade de oferecer esperança a uma nação traumatizada pela guerra.
Relações Internacionais e a Percepção do Ocidente
Enquanto o FMI e o Banco Mundial apresentaram avaliações econômicas geralmente positivas para Burkina Faso, destacando o crescimento e a queda da pobreza extrema apesar do ambiente desafiador, as relações com França e Estados Unidos permanecem tensas.
Críticas do General Michael Langley, chefe do Comando África dos EUA, sugerindo que Traoré usava as reservas de ouro para a proteção da junta, e não para o benefício nacional, inflamaram ainda mais as tensões. Essas declarações, vistas pelos apoiadores de Traoré como uma tentativa de difamar seu líder, foram seguidas por alegações da junta de ter frustrado um golpe, ligando os supostos conspiradores à Costa do Marfim (país visitado por Langley logo depois).
Esses eventos culminaram em grandes manifestações pró-Traoré em Burkina Faso e no exterior, reforçando a narrativa da luta contra “imperialistas” e seus “lacaios”.
O Impacto Regional e o Legado em Construção
Ibrahim Traoré, ao lado de líderes militares de Mali e Níger, inegavelmente abalou a África Ocidental. A saída coordenada desses países do bloco regional CEDEAO e a formação de uma nova aliança, impondo tarifas comerciais, sinalizam uma mudança geopolítica significativa.
Analistas sugerem que, para construir um legado duradouro, Traoré deve focar em alcançar a paz e fortalecer as instituições estatais, em vez de “personalizar” o poder e reprimir a dissidência. O futuro do jovem capitão e de Burkina Faso sob sua liderança permanece incerto, mas seu impacto no cenário africano e nas relações internacionais já é inegável.
Compartilhar: