
Jamaica: A Voz dos Maroons Clama por Reparação e Restauração

Jamaica: A Voz dos Maroons Clama por Reparação e Restauração
A Jamaica, ilha paradisíaca do Caribe, esconde em suas montanhas exuberantes histórias de resistência, liberdade e uma luta incessante por justiça. Em Charles Town, um dos vibrantes assentamentos Maroon, o eco de séculos de batalhas por reparação ressoa mais forte do que nunca. É aqui que encontramos Gloria Simms, carinhosamente conhecida como Mama G, uma líder espiritual cuja convicção — “Restauração é reparação” — ilumina o caminho para o futuro da nação e de seus descendentes.
Os Maroons da Jamaica: Um Legado de Inquebrantável Liberdade
Imagine um povo que, acorrentado e brutalizado, ousou desafiar o sistema mais opressor da história. Essa é a saga dos Maroons na Jamaica: africanos que escaparam da escravidão nas plantações e, com coragem e engenhosidade, forjaram suas próprias comunidades livres nas remotas e selvagens montanhas da ilha. As paredes de madeira do salão da aldeia em Charles Town são um tributo vivo a essa resistência, honrando aqueles que preferiram a morte à servidão.
Centenas de anos depois, cinco comunidades Maroons principais florescem na Jamaica, mantendo vivas as tradições de seus ancestrais: Accompong, Charles Town, Moore Town, Scott’s Hall e Flagstaff. Suas formas de governança, abordagens medicinais, música e rituais religiosos são testemunhos de uma cultura rica e resiliente. A eficácia de seus conselhos na resolução de disputas é lendária, resultando em índices de criminalidade visivelmente mais baixos do que em outras partes da Jamaica. Eles até hoje resistem ao pagamento de impostos sobre a terra, amparados por tratados de paz firmados com o governo britânico no final do século XVIII.
Para saber mais sobre a fascinante história dos Maroons e sua luta pela liberdade, clique aqui.
Mama G e o Clamor por Restauração
Mama G, que recebeu o título de chefe Gaa’mang no Suriname, irradia uma dignidade real. Seus cabelos envoltos em turbante e seu vestido colorido dançando na brisa suave do Caribe são a personificação da força e da sabedoria. Para ela, a proclamação de abolição da escravidão em 1838 na Jamaica foi “palavras vazias em papel em branco”, que beneficiaram mais os opressores do que os oprimidos, perpetuando a privação econômica sistêmica para os descendentes dos escravizados.
“Quando os europeus chegaram à África, eles nos viram em toda a nossa glória. Nós andávamos sobre ouro… Nossas coroas… foram criadas a partir da matéria-prima que tínhamos. Então, eles pegaram muitos exemplos de nós para construir seus reinos e destruíram os nossos”, afirma Mama G.
Ela argumenta que a intenção europeia não era apenas mão de obra barata, mas sim uma completa dominação. A desumanização e a humilhação do povo africano através da escravidão foram motivadas por “ciúmes, inveja e ganância”. Para Mama G, a verdadeira emancipação exige a restauração do que foi roubado do povo africano – não apenas bens, mas o futuro que lhes foi negado. “Restauração é reparação – reparar o dano causado pelo tráfico transatlântico de escravos”, ela enfatiza, trazendo à tona o cerne da questão das reparações na Jamaica e no mundo.
A Luta Contínua por Justiça e Reparação
A indiferença de muitos em relação aos impactos duradouros da escravidão, como o racismo sistêmico e a discriminação, preocupa Mama G. Ela sente que há uma tentativa de “jogar para debaixo do tapete” séculos de sofrimento.
Vivian Crawford, um Maroon que integra o Conselho Nacional de Reparações da Jamaica, ecoa essa preocupação, destacando que a tragédia dos africanos escravizados ainda não recebe o mesmo peso de outros genocídios na história. A revolta dos Maroons, sua autoemancipação e a capacidade de formar comunidades estruturadas, apesar de virem de diferentes nações africanas com distintas culturas e línguas, são um testamento à sua engenhosidade e resiliência.
“Nossos ancestrais não permitiram ser submetidos a outras pessoas. E meu papel é assumir esse bastão que eles me entregaram e não o deixar cair. Devo continuar essa jornada até a linha de chegada. A jornada não está completa”, declara Crawford.
Nos últimos tempos, o movimento global por reparações pela escravidão e pela repatriação de objetos valiosos tomados pelos britânicos ganhou força no Caribe e na África. Em um passo significativo, líderes caribenhos apoiaram uma petição ao Rei Charles III, solicitando que ele use sua autoridade para buscar aconselhamento legal sobre a legalidade do transporte forçado de africanos para a Jamaica, se isso constituiu um crime contra a humanidade e se a Grã-Bretanha tem a obrigação de fornecer reparação à Jamaica pelos impactos da escravidão.
Para entender mais sobre o movimento global por reparações, você pode consultar fontes como a Organização das Nações Unidas (ONU) sobre a questão das reparações e justiça racial.
Preservando a Cultura e Construindo o Futuro da Jamaica
Para Mama G, esses apelos por justiça são uma intervenção divina, um clamor crescente de um povo que sofreu um dos piores crimes contra a humanidade. A presença de jovens como Oniel Green e Samantha Douglas, que trabalham para manter vivas as tradições Maroons, é um sinal de esperança.
Compartilhar a sabedoria e a cultura dos Maroons em toda a Jamaica é crucial para seus objetivos e para a redução da criminalidade. Como bem disse o Honorável Marcus Garvey, uma figura central na história jamaicana: “Um povo sem o conhecimento de sua história passada, origem e cultura, é como uma árvore sem raízes”, destinada a cair. A restauração não é apenas sobre o passado; é sobre nutrir as raízes para que a árvore do futuro da Jamaica possa crescer forte e resiliente.
A luta por reparação na Jamaica é um lembrete pungente de que a história não está sepultada, mas viva nas vozes daqueles que buscam justiça e no legado de um povo que se recusou a ser quebrado.
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