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Javier Milei Dá Meia-Volta: O Peso Argentino e a Surpreendente Intervenção no Dólar

Javier Milei Dá Meia-Volta: O Peso Argentino e a Surpreendente Intervenção no Dólar

temp_image_1756989387.941055 Javier Milei Dá Meia-Volta: O Peso Argentino e a Surpreendente Intervenção no Dólar

O cenário político-econômico da Argentina acaba de presenciar uma das mais notáveis reviravoltas da gestão Javier Milei. Após meses de uma defesa fervorosa pela livre flutuação do peso argentino, o governo do presidente ultraliberal anunciou uma mudança drástica: o Tesouro Nacional passará a intervir diretamente no mercado de dólares. Uma guinada que contrasta fortemente com o discurso inicial e com o icônico “flotaaaa, el dólar flotaaaaaa” que virou símbolo da administração.

A Reviravolta Inesperada: Milei e a Intervenção no Câmbio

A promessa de deixar o peso flutuar livremente entre 1.000 e 1.400 pesos argentinos foi uma bandeira levantada com convicção por Javier Milei e sua equipe. Quem não se lembra da cena, em julho, onde risadas e socos na mesa selavam a defesa intransigente da não intervenção? Essa imagem, carregada de simbolismo, agora enfrenta a dura realidade da macroeconomia e das pressões que cercam a economia argentina.

A decisão oficial, anunciada publicamente, revela que a teoria muitas vezes cede lugar à pragmática necessidade. O Tesouro argentino já vinha, na prática, atuando no mercado desde 20 de agosto, com vendas que somaram cerca de 300 milhões de dólares. Contudo, o anúncio formal, feito pelo secretário de Finanças, Pablo Quirno, na terça-feira, 2, confirmou a nova diretriz: o Tesouro entrará em campo para “contribuir com sua liquidez e funcionamento normal” do mercado.

Pressões Internas e Externas: O Contexto da Decisão

Para analistas, essa mudança na política cambial de Milei não é uma surpresa. Patrícia Krause, economista-chefe da Coface, aponta que o movimento já era esperado diante do acúmulo de pressões. “O movimento que a gente vê na Argentina nesse momento é, de fato, essa maior volatilidade cambial, que já vem desde finais de junho”, explica Krause.

Eleições Legislativas e a Busca por Representatividade

Um dos fatores cruciais para essa intervenção cambial é o cenário político iminente. No próximo dia 26 de outubro, a Argentina passará por eleições legislativas importantes, renovando metade da Câmara dos Deputados e um terço do Senado. O governo busca, com isso, aumentar sua representatividade para conseguir aprovar reformas essenciais para sua agenda de governo. A estabilidade econômica, ou pelo menos a percepção dela, é fundamental nesse contexto eleitoral.

O Desafio das Reservas e o Acordo com o FMI

Além do fator político, as dificuldades estruturais da economia argentina são um peso considerável. A principal delas é a incapacidade do governo de acumular reservas internacionais, um ponto crítico no acordo do país com o Fundo Monetário Internacional (FMI). A meta estabelecida para junho, que previa reservas líquidas em torno de –1,1 bilhão de dólares, foi largamente descumprida, com um resultado de aproximadamente –4,7 bilhões.

Diante do descumprimento, o FMI concedeu um “waiver” (uma dispensa), flexibilizando a meta. Agora, a Argentina está autorizada a terminar o ano ainda no negativo, com até –2,6 bilhões em reservas líquidas. Este alívio, no entanto, não elimina a necessidade de ações concretas para estabilizar a moeda e a economia.

Volatilidade e Confiança: O Cenário Econômico

A piora do ambiente econômico a partir de junho foi impulsionada por uma combinação de fatores: elementos sazonais, mudanças na política monetária e, crucialmente, denúncias de corrupção envolvendo o núcleo do governo Javier Milei que abalaram a confiança. “Essa pressão continua até porque no final de agosto estourou o possível caso de corrupção envolvendo o núcleo do governo. Então, realmente há uma maior volatilidade no mercado”, afirma a economista.

A intervenção do Tesouro no câmbio é uma tentativa de mitigar essa volatilidade e restaurar alguma medida de previsibilidade. No entanto, o desafio para o governo de Milei permanece colossal: como equilibrar a retórica libertária com as exigências da realidade econômica e política, especialmente em um país com histórico de crises profundas?

A reviravolta na política cambial do governo argentino sob Javier Milei é um testemunho da complexidade de gerir uma economia em crise. Resta saber se essa medida será suficiente para estabilizar o dólar na Argentina e pavimentar o caminho para as reformas tão almejadas pela administração.

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